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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

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Trump, Biden e o Brasil

Em termos de política imperialista, não há muita diferença no conteúdo político e econômico entre republicanos e democratas

Joe Biden e Donald Trump (Foto: Reuters)
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Neste dia 3 de novembro de 2020, os estadunidenses vão às urnas escolher o presidente que estará à frente do governo dos EUA pelos próximos quatro anos. Donald Trump se elegeu em 2016 graças a um populismo de direita que prometia trazer de volta para os EUA os empregos que os capitalistas levaram para outros países. Prometeu levantar um muro na fronteira com o México para reduzir a imigração ilegal. 

Sua eleição recebeu a fundamental contribuição do bilionário Robert Mercer que indicou Steve Bannon para encabeçar as ações de marketing da campanha de Trump em um momento em que sua campanha estava indo muito mal e ele corria o sério risco de não eleger-se. A partir do momento em que Bannon assumiu a campanha, as notícias falsas passaram a ser uma poderosa arma que abriu caminho para vitória apertada sobre Hilary Clinton.

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A crise da Covid-19, o crescimento da extrema direita racista e a inabilidade e incompetência de Trump colocaram a maior parte da opinião pública contra o presidente que vê sua reeleição ameaçada. Como as eleições nos EUA já foram vencidas muitas vezes por candidatos que perderam no voto popular, mas venceram no colégio eleitoral, ainda restam esperanças para Trump. 

Trump, por sua vez, busca tumultuar e desacreditar o resultado das urnas – tal qual fizeram Aécio Neves e Jair Bolsonaro nas eleições de 2014 e 2018, respectivamente – para gerar instabilidade política que lhe permita manter-se no poder. 

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Desde o dia primeiro de novembro o noticiário dá conta de badernas promovidas pela “tropa de choque” trumpista, fomentando agressões à caravana eleitoral de Biden, agressão aos eleitores democratas e até fechamento de pontes em Nova Iorque e outras localidades tudo isso organizado por eleitores dos republicanos de maneira a aumentar a instabilidade política.

Gerar confusão e instabilidade política é uma tática já utilizada pelo Partido Republicano que assegurou a vitória de George W. Bush sobre Al Gore na Flórida nas eleições estadunidenses do ano 2000. Este caso é narrado no documentário Get me Roger Stone (2017).A Trump os democratas contrapõem Joe Biden. Biden, 78 anos, foi tirado da manga pelos cardeais democratas para evitar um racha no partido caso o “socialista” Bernie Sanders, 79 anos, ganhasse as prévias do Partido Democrata e fosse indicado o candidato para medir forças com Donald Trump. Biden foi vice-presidente de Barack Obama e representa a ala “liberal” do Partido Democrata. Conta com o apoio do “estado profundo” (deep state) dos EUA. Segundo alguns, não existiria este chamado “estado profundo” salvo em muitas das teorias de conspiração que pululam mundo afora. O fato é que aqueles que afirmam sua existência argumentam que não importa se o presidente for democrata ou republicano, os mesmos setores do capital americano sempre permanecem no poder - os grandes laboratórios farmacêuticos, a indústria armamentista, os grandes financistas, as  empresas de seguro saúde, as altas patentes das forças armadas e as organizações de segurança e espionagem – o que parece ser verdade nos últimos 30 anos.

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Os republicanos acusam Biden de senilidade, apesar de ele ser apenas quatro anos mais velho do que Trump.

Trump não faz concessões aos movimentos sociais e, para agradar seus eleitores conservadores, manteve a chapa “puro sangue” que venceu em 2016, formada por dois machos White Anglo-Saxon and Protestant (WASP), Trump e Mike Pence seu vice-presidente que apoia e é apoiado pelo o ultraconservador movimento Tea Party, a ala mais reacionária do Partido Republicano.

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Buscando rejuvenescer sua chapa e agradar aos movimentos sociais os democratas escolheram para concorrer como vice-presidente de Biden a senadora pela California Kamala Harris, ex-Procuradora-geral deste estado. Harris é mulher e negra. Com isto os democratas buscam conquistar o apoio das minorias políticas mulheres, negros e, por extensão, latinos, LGBTQI+ entre outras.

A escolha de Harris sofreu pesadas críticas por parte dos movimentos negros e de outros que lutam pelos direitos civis que a acusam de ter aumentado o número de negros encarcerados na California, durante sua atuação como Procuradora-geral.

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Seja Trump ou seja Biden o escolhido no dia 3 de novembro o que isto mudaria de fato? Nos EUA uma vitória de Biden poderia levar a um avanço limitado das pautas sociais de maneira a travar as pautas conservadoras que ameaçam o direito ao aborto, o Obama Care e as pautas ligadas à defesa dos direitos humanos e da cidadania plena para todos. Talvez marque um avanço na defesa da democracia estadunidense e o enfraquecimento de governos de extrema direita que se fortaleceram no mundo todo com a ascensão de Trump ao poder. Por outro lado, pode significar a eclosão de ataques terroristas promovidos pela direita cristã, os supremacistas brancos e os neo-nazis.

No Brasil, a vitória de Biden pode enfraquecer Jair Bolsonaro que perderia seu principal avalista, o governo de Donald Trump. Pode também significar o fortalecimento dos movimentos que defendem o meio ambiente, as instituições democráticas, bem como o fortalecimento dos partidos de centro direita que defendem as pautas econômicas neoliberais. 

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Não se deve esperar o apoio de Biden às pautas econômicas que busquem reduzir ou rever as medidas econômicas neoliberais já implementadas no Brasil, nem que procurem fortalecer as forças nacionalistas e de esquerda no Brasil.

Em termos de política imperialista, não há muita diferença no conteúdo político e econômico entre republicanos e democratas. Ambos defendem a hegemonia dos EUA sobre o mundo, ambos percebem a América Latina como quintal dos EUA e vão procurar, a todo custo, reduzir e/ou limitar a influência da China junto aos países latino-americanos. O que deve mudar é a forma dessa política, permanecendo o conteúdo.

Tanto Biden quanto Trump procurarão enfraquecer os Brics, o Mercosul, a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e outros organismos multilaterais em prol do aumento da influência estadunidense ao sul do Rio Grande.

O imperialismo tornar-se-á mais discreto com Biden, mas mostrará toda sua força, se necessário. Trump já fez o trabalho sujo e impopular e caberá aos democratas manterem o que foi conquistado com estratégias menos autoritárias, se sua chapa for a eleita. 

Não podemos nos esquecer que os dois últimos golpes de estado ocorridos no Brasil foram patrocinados por dois presidentes democratas. O golpe de 1964 foi tramado por John Kennedy e executado por Lindon Johnson. O golpe de 2016 foi tramado e executado durante o governo de Barack Obama simpático, gente boa e “amigo” do Lula. Durante o governo de Obama, a presidenta Dilma Rousseff e a Petrobras foram espionadas, o que teria ocorrido também sob um governo republicano.

Cabe lembrar que quanto mais fraco e/ou submisso aos EUA for o governo brasileiro, mais as políticas imperialistas penetram fundo na realidade brasileira. George W. Bush e Obama não conseguiram avançar nestas políticas no governo Lula nem no primeiro governo Dilma que assumiram posturas firmes na defesa da soberania nacional e dos interesses do povo brasileiro. Bastou Dilma perder sua base social e enfraquecer-se para que seu governo fosse derrubado com um sopro. Governos fracos na defesa dos interesses do povo como quase todos o que o Brasil já teve tornam-se subservientes e servis aos interesses imperialistas. Estão aí FHC, Temer e Bolsonaro que comprovam este fato.

Seja Biden ou seja Trump, o novo presidente dos EUA vai relacionar-se com um governo Bolsonaro enfraquecido, confuso, perdido em bobajadas ideológicas, mas que ainda conta com uma forte base popular, apesar desta estar sendo minada pela ação em conjunto de membros do Legislativo, do Judiciário, de setores das Forças Armadas e do empresariado nacional, sobretudo aquele ligado à imprensa corporativa.

Os resultados das eleições municipais de 2020 podem ser cruciais para o futuro imediato do povo brasileiro. Uma vitória da esquerda poderia fortalecer os movimentos sociais e impor certas restrições ao avanço das políticas econômicas neoliberais pró-imperialismo. Uma vitória do centro ou da direita legitimará estas políticas, bem como enfraquecerá os movimentos sociais e desorganizará ainda mais os partidos de esquerda.

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