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Lúcia Helena Issa

Jornalista, escritora e ativista pela paz. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro "Quando amanhece na Sicília". Pós- graduada em Linguagem, Simbologia e Semiótica pela Universidade de Roma e embaixadora da Paz por uma organização internacional. Atualmente, vive entre o Rio de Janeiro e o Oriente Médio.

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Trump, Bolsonaro e Netanyahu: sociopatas que alimentam guerras?

Suleiman era um dos homens mais amados e reverenciados não apenas pelos iranianos mas também por libaneses, sírios e palestinos, por sua luta contra o ISIS e contra o genocídio de mulheres e crianças palestinas

(Foto: ATTA KENARE / AFP)
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Chovia muito naquela tarde na  fronteira entre Síria e Líbano, no campo de refugiados de Zahle, quando cheguei às barracas de lona que abrigavam um grupo de jovens mulheres sírias refugiadas ali. Todas elas eram jovens muçulmanas xiitas (ao contrário do que você pode pensar, os maiores grupos terroristas hoje no Oriente Médio são sunitas e não xiitas, e foram inspirados pelo wahabbismo, doutrina sunita extremista nascida no país muçulmano mais  extremista do mundo, a Arábia Saudita), haviam sobrevivido aos ataques do ISIS na Síria e naquele exato momento estavam escrevendo uma carta virtual de agradecimento ao general iraniano Suleiman, assassinado pelos EUA na madrugada desta sexta-feira em Bagdá. 

As jovens muçulmanas receberam essa jornalista cristã com imenso carinho e gratidão,  e com suas vozes polifônicas e divergentes quando se tratava de Al Assad, mas uníssonas quando me explicavam quem era o general Suleiman, um dos homens que mais lutaram contra o terrorismo imposto pelo ISIS na região de Raqqa. 

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Suleiman era um dos homens mais amados e reverenciados não apenas pelos iranianos  mas também por libaneses, sírios e palestinos, por sua luta contra o ISIS e contra o genocídio de mulheres e crianças palestinas. Era um militar, claro, e havia cometido erros também, mas conseguira salvar milhares de crianças sírias durante os ataques de  extremistas armados, como se sabe hoje, pelos EUA na Síria.

O assassinato de Suleiman, escolhido em 2017 como uma das 100 pessoas mais respeitadas e influentes do mundo pela revista TIME, não é apenas cruel. É também um imenso erro estratégico, um erro que apequena os EUA aos olhos do mundo e apenas o fortalece aos olhos de anões morais como Netanyahu ou Bolsonaro, ou seus seguidores fanáticos, que desconhecem a magnitude  da dor  que uma Terceira Guerra Mundial nos causaria.

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O Pentágono confirmou em comunicado que os Estados Unidos foram responsáveis pelo ataque. "Este ataque teve o objetivo de prevenir futuros ataque do Irã", dizem autoridades norte- americanas , enquanto a Casa Branca confirma que o ataque foi por ordem direta do presidente Donald Trump.

As vítimas estavam em um comboio das FMP, uma organização xiita criada para combater diretamente o ISIS e posteriormente incorporadas às Forças Armadas iraquianas. O ataque deixou ao menos oito pessoas mortas.

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É assustador e imoral o que estamos testemunhando.

Enquanto o aiatolá Ali Khamenei afirma que os EUA e aqueles que assassinaram o general-general Qassem Soleimani, comandante da Força Quds do IRGC, devem aguardar por um período de luto e por uma vingança severa, recebo uma mensagem de duas amigas, refugiadas no Líbano, com quem mantenho contato desde que passei 20 dias  vivendo no campo de refugiados de Zahle, vivendo como se eu fosse uma refugiada também. Elas me relatam a dor de milhares de sírios e libaneses, milhares de mulheres e crianças que parecem ter perdido um amigo da família.

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Não é a primeira vez que um presidente norte-americano cria uma guerra externa para tentar salvar sua imagem interna ou se reeleger. Bush fez exatamente isso ao invadir o Iraque em 2003, mesmo sabendo que o Iraque não havia tido absolutamente nenhuma participação nos ataques de 11 de setembro e que o país de fato não possuía armas químicas ou armas de destruição em massa, como o mundo inteiro inteiro pôde comprovar  meses depois. Tudo havia sido uma imensa farsa para tentar justificar a invasão aos campos de petróleo iraquianos e para remover do poder um antigo aliado norte- americano na guerra contra o Irã, um homem que decidira não mais se sujeitar aos planos econômicos dos EUA para o Oriente Médio.

A guerra insana dos EUA ao Iraque deixou um rastro de mais de um milhão de mortos, entre eles, centenas de milhares de bebês e crianças.

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Enquanto escrevo esse artigo, penso em todas as mulheres refugiadas que conheci e em toda a dor que testemunhei na fronteira da Síria.

Como se não bastassem as mais de 500 mil mortes de mulheres, homens e crianças sírias, como se não bastassem os dois milhões de feridos sírios, um milhão de mortos no Iraque, a destruição completa da Líbia, como se não bastassem os mais de 40 milhões de refugiados hoje no mundo, as milhares de escolas destruídas, as centenas de  cidades árabes devastadas, as centenas de hospitais bombardeados nos últimos anos e a esperança violentada, Donald Trump acaba de comandar um assassinato que pode ser uma ameaça a todos nós, a maior ameaça à paz mundial desde a Segunda Guerra Mundial. 

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As atitudes  de presidentes que agem como estivessem em um reality show cujos participantes têm 12 anos de idade, deixam o mundo todo e a todos aqueles que amamos, diante da possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial.

Um presidente que, assim como Jair Bolsonaro, sequestra a semântica e os vocábulos, usando as palavras PAZ e CRISTIANISMO de forma obscena. Como se Jesus realmente tivesse pregado ou legitimado o belicismo e não o amor e o perdão. Como se Jesus tivesse legitimado a tortura, os abusos e violência dos militares romanos na Palestina e não tivesse sido morto, crucificado e torturado pelos hipócritas religiosos de sua época e pelo império contra o qual lutou.

Como se a PAZ pudesse de fato ser obtida através de bombardeios, mentiras, fraudes, mortes e mais guerras.

São tiranos e anões morais que, não conseguindo mobilizar mentes e corações para grandes projetos humanos, os mobiliza para o mais cruel, covarde e mortal jogo liderado pelos tiranos: a guerra.

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