Trump está certo?
Trump está promovendo um ajuste de contas
Hoje, todos falam sobre a postura errática de Trump. No entanto, vejo sua política como uma extensão do seu estilo de negociação nos negócios. O blefe faz parte do jogo, assim como levantar-se da mesa quando necessário. Já fiz isso muitas vezes em negociações ao longo da minha vida.
A taxação sobre produtos importados é, a meu ver, a única alternativa para aumentar a arrecadação sem um impacto político imediato. Trata-se, sim, de um aumento de impostos para a população americana, mas de uma forma disfarçada, transferindo a culpa para governos estrangeiros. Dessa maneira, evita-se um impasse interno e minimiza-se o risco de um surto inflacionário prolongado.
Além disso, qualquer índice inflacionário superior à taxa da dívida do Tesouro americano reduz o endividamento real do país, pois os juros da dívida são fixos. Assim, a inflação moderada pode ser benéfica, ajudando a diminuir a dívida enquanto gera arrecadação extra, que pode ser usada para reduzir impostos no futuro.
O Partido Republicano sempre foi contrário ao dogma da social-democracia, que se baseia na concessão contínua de benefícios sociais para acalmar a população e evitar distúrbios. Hoje, se Trump propusesse um aumento de impostos equivalente à arrecadação obtida com as tarifas sobre importados, seria politicamente inviável e poderia até levá-lo à deposição.
Outra consequência global da política de Trump, inclusive na China, é a crise do modelo social-democrata, que sustenta benefícios sociais por meio de endividamento crescente. Esse modelo está falindo.
A atual discussão sobre o risco às democracias, na verdade, mascara um fato mais profundo: o colapso do modelo social-democrata, baseado na concessão progressiva de benefícios. Além disso, os sistemas de saúde e previdência estão quebrados, pois foram estruturados com base em cálculos atuariais dos anos 1950, quando o mundo vivia um “baby boom”. Hoje, há mais pessoas acima dos 60 anos do que abaixo dos 9 anos, e a população centenária cresce exponencialmente. Até 2030, muitos países não terão condições de pagar esses benefícios.
Nos EUA, a previdência é majoritariamente privada, mas há uma grande quantidade de benefícios sociais, tanto nacionais quanto internacionais, que precisam ser revistos.
A Europa ainda não percebeu que muitos dos benefícios concedidos nas últimas décadas foram possíveis porque os países não contribuíram adequadamente para sua própria defesa e para organismos multilaterais. Agora, acreditam que podem aumentar os gastos militares com mais dívida, mas o mercado já demonstrou que não aceita mais a expansão desenfreada do endividamento público.
Trump está promovendo um ajuste de contas. Suas medidas, independentemente do partido no poder, dificilmente serão revertidas. Mesmo que o Congresso e a Presidência passem para os Democratas, a mudança estrutural já aconteceu.
Devemos refletir sem paixões: Trump está certo em sua política econômica?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

