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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Trumpismo protecionista reage contra tucanismo antinacionalista que detona indústria no Brasil

O imperialismo muda de forma, mas não de conteúdo, porque dispõe da força para impor suas regras

Presidente dos EUA, Donald Trump (Foto: REUTERS/Evelyn Hockstein)

O presidente americano vai na linha oposta à de FHC: adota o protecionismo, que exigirá desvalorização do dólar, para que os Estados Unidos possam exportar e combater os concorrentes, em especial, os chineses.

Trump reverte um processo histórico.

Depois da segunda guerra mundial, os Estados Unidos, vencedores do conflito, sobrevalorizam o dólar e adotaram a estratégia de importar barato para combater a inflação e fazer dívida pública a juro baixo para continuar financiando conflitos bélicos e nucleares, como a nova potência global.

Déficit comercial como jogada para extrair riqueza alheia.

O superávit financeiro, proporcionado por moeda forte, pagava importações baratas que ajudavam os aliados – Europa, Japão e Canadá – a acumularem superávits comerciais na América.

O poder financeiro americano subjugou os cinco continentes, mas acumulou, com o superávit financeiro, endividamento crônico que jogou a economia mundial na financeirização global.

O preço a pagar foi a desindustrialização americana e perda de competitividade para a China, Europa, Japão e Canadá, que se transformaram nos maiores exportadores para os Estados Unidos.

Com Trump, o jogo muda, porque os capitalistas da produção e do consumo americanos estão quebrando, se o jogo da supervalorização do dólar continua.

Só ganham os rentistas às custas do desemprego, da fome e da desigualdade social.

Então, a estratégia trumpista, a partir de agora, é o protecionismo nacionalista imperialista tarifário recíproco.

Ela exigirá, como já prevê o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desvalorização do dólar, como arma para exportar.

Antes, a valorização da moeda americana desvalorizava as demais moedas, que alcançavam competitividade para disputar o mercado mais poderoso, os Estados Unidos.

Se Trump, para recuperar a indústria americana e os empregos de qualidade, parte para a desvalorização como arma exportadora, os demais concorrentes, igualmente, terão que acelerar as desvalorizações.

Haverá, portanto, guerra comercial tarifária em ritmo frenético, cujas consequências são inflação e juros altos.

Os mais fortes bancarão o jogo enquanto tiverem forças para tal.

Já os mais fracos, como as economias devedoras latino-americanas, cronicamente dependentes de poupança externa, tendem a sucumbir.

Para enfrentar ondas de desvalorização cambial, os países dependentes não suportarão os ajustes fiscais impostos por Washington, como vem acontecendo desde os anos 1980, por meio de câmbio flexível, metas inflacionárias e superávits primários – o famoso tripé neoliberal – sob pena de passarem a enfrentar crises políticas explosivas.

O ajuste neoliberal passa a sofrer resistência política crescente no novo cenário trumpista.

O novo jogo econômico internacional, portanto, começa, prá valer, essa semana, quando Trump anuncia que generalizará tarifas recíprocas para proteger a economia americana.

O imperialismo muda de forma, mas não de conteúdo, porque dispõe da força para impor suas regras, se possível, até invasão territorial, como ameaça Trump na Gronelândia, México, Canadá, Venezuela etc.

Nesse contexto, o presidente americano só respeita os mais fortes: China, poder comercial, e Rússia, poder militar.

O resto, trata de pontapés.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.