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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Um 4º mandato do Lula, para quê?

"2026 tem desafios enormes, mas, ao mesmo tempo, excelentes perspectivas"

Presidente Lula durante entrevista à TV Verdes Mares. Fortaleza (CE) (Foto: Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Parece mais provável a reeleição do Lula do que a eleição de um Congresso menos ruim que este, o pior da história. O apoio ao Lula, mesmo nas pesquisas dirigidas contra ele, aumentou desde o tarifaço, enquanto a direita está cada vez mais enrolada para ter um candidato.

Dá a impressão de que estão resignados com a reeleição do Lula. Tarciso, seu queridinho, além dos erros que comete, entre os quais a fidelidade canina ao Bolsonaro, hesita entre ser candidato para perder e ficar como o provável candidato para 2030, mas ficar sem o governo de São Paulo e sem mandato. Ou buscar a reeleição, ficar como governador de São Paulo em 2030, mas, ainda assim, ter que lutar contra a provável candidatura de Alckmin.

A direita parece concentrar-se nas eleições parlamentares, para manter os obstáculos e as negociações com um eventual quarto mandato do Lula. Sem lideranças nacionais, prefere se concentrar no que é sua especialidade: eleições parlamentares.O provável cenário é o de um quarto mandato do Lula, talvez com um Congresso menos pior que o atual – pior que este seria impossível. Trazendo para mais próximo setores do próprio centrão, que tem sempre dificuldades de ficar fora ou longe do governo. E cujos candidatos ao Congresso precisam do apoio do Lula nos seus estados, onde o prestígio do presidente é alto.

O melhor cenário para o Lula seria esse: uma melhor eleição parlamentar e condições mais favoráveis de negociação com o Congresso. Porque ele terá não apenas que dar continuidade às políticas atuais do governo, como teria que avançar para quebrar a força do capital especulativo na economia, impondo ao país um novo ciclo longo expansivo da economia.

As eleições estaduais também pesarão no cenário futuro do país. Dá a impressão de que não se repetirão as eleições anteriores. Em estados importantes como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, pelo menos, as perspectivas de eleição de candidatos favoráveis ao governo parecem prováveis, o que já romperia com o isolamento atual em relação ao governo federal.Lula precisa de novas bandeiras, além das atuais, como a do imposto de renda, que funciona muito bem. Uma seria o fim do analfabetismo no Brasil, transformar o país em um território livre do analfabetismo, condição para que milhões de brasileiros se transformassem realmente em cidadãos. Sem o acesso mínimo à leitura e à escrita, isto é impossível. Uma grande mobilização de estudantes para campanhas nacionais de alfabetização, valendo-se da adaptação dos métodos de Paulo Freire, seria uma bandeira nova e importante.

Um novo ciclo de crescimento econômico, por sua vez, exige um novo PAC, um novo projeto de expansão da economia, com grandes obras em áreas ainda carentes do país.Em suma, o grande tema de debate para a esquerda deveria ser o quarto mandato do Lula e o futuro do Brasil. A superação definitiva do neoliberalismo e a passagem para um pós-neoliberalismo, um novo ciclo de expansão persistente da economia. O que supõe, por sua vez, uma mudança na política de juros altos do Banco Central, um entrave para um novo ciclo expansivo da economia.

Uma campanha presidencial que, além disso, teria que servir para as mobilizações populares, de que carece hoje a esquerda brasileira. Provavelmente com a mobilização dos setores mais jovens da população, chegando a eles, como propostas e com linguagem mais adequada.

Em suma, 2026 tem desafios enormes, mas, ao mesmo tempo, excelentes perspectivas, com um provável quarto mandato do Lula. Temos que fazer, desde já, um processo de campanha presidencial e parlamentar, à altura dos grandes desafios que temos pela frente.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.