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Eric Nepomuceno

Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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Um abril, dois, três, quatro... e suas marcas (parte II)

"Comecei esta série relacionada a abril, que o mestre T.S.Elliot chamou em um poema intocável de 'o mais cruel dos meses'", escreve Eric Nepomuceno, que no "primeiro texto adverti que uma das marcas do mês era de indignação tremenda, de revolta candente. Pois foi também num abril, o de 1996, que, no dia 17, este nosso país foi sacudido pela matança cruel dos sem-terra no município de Eldorado do Carajás"

Assentados do MST sob risco de despejo produzem frutas, hortaliças e feijão. Tudo sem agrotóxico (Foto: Alex Garcia/MST)
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Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia

Comecei esta série relacionada a abril, que o mestre T.S.Elliot chamou em um poema intocável de “o mais cruel dos meses”, com uma lembrança alegre: foi num abril, o de 1974, que Portugal se liberou do fascismo salazarista com sua bela Revolução dos Cravos.

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Mas nesse primeiro texto da série que cuida de abril adverti que uma das marcas do mês era de indignação tremenda, de revolta candente.

Pois foi também num abril, o de 1996, que, no dia 17, este nosso país foi sacudido pela matança cruel dos sem-terra no município de Eldorado do Carajás, nas profundas do estado do Pará.

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Em 2019, para a edição atualizada feita pela editora Record do meu livro “O Massacre: Eldorado do Carajás – uma história de impunidade”, pude constatar, com indignação, um dado revoltante: a situação agrária no Brasil tinha, sim, mudado ao longo dos anos. Mas para pior.

Quero ressaltar que isso foi escrito em maio de 2019, quando Bolsonaro apenas começava a destroçar o país e seu ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles, tratava de montar seu esquema de aliança criminosa com destruidores do meio-ambiente.

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O que tinha, então, mudado para pior? Os proprietários de imensidões de terras. Se antes eram famílias de latifundiários toscos e brutais, entre 1996 e 2005 passaram a ser grandes empresários que de tosco não tinham nada, eram apenas brutais. 

Eu mencionei, entre as mudanças anotadas no livro, Daniel Dantas, cuja atitude agressiva nos negócios era notória antes mesmo de que ele entrasse na questão agrária. Ao invés de mandar a Polícia Militar disparar contra as famílias de sem-terra assentadas em áreas pendentes de decisão judicial – que, para variar, continuam demorando eternidades –, ele optou por uma via mais simples, discreta: mandava aviões fumigarem com agrotóxicos especialmente venenosos, mas as plantações dos sem-terra, mas também suas casas.

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Muito mais do que disputar terras, as grandes empresas se dedicam não apenas ao agronegócio, mas também – e muito – à mineração, o que significa barragens em áreas ocupadas por sem-terra e pendentes da tal decisão judicial que demora de maneira infinita.

Nunca mais houve, é verdade, uma matança tão brutal, um Massacre tão sangrento, como o de Eldorado do Carajás. 

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Mas quase: em abril de 2017, pleno governo de Michel Temer, dez pessoas – nove homens e uma mulher – foram assassinados por um contingente de 29 policiais, entre civis e militares. Faziam parte do grupo dois delegados da polícia civil e um coronel da Polícia Militar. No Pará, mais precisamente em Pau D’Arco.

É verdade que Temer, golpista e presidente ilegítimo, não teve nenhuma responsabilidade direta no caso.  

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Mas teve e tem, sim, responsabilidade por ter retrocedido brutalmente na questão da reforma agrária e, principalmente, nas políticas de preservação do meio-ambiente.

Com a chegada de Bolsonaro e Ricardo Salles, a questão agrária entrou em turbilhão.

O Genocida dizia e diz que o Movimento dos Sem-terra, o MST, não passa de um bando de terroristas. Penso que ele só não avançou mais sobre o MST por estar totalmente concentrado em destruir o país, a começar precisamente pelo meio-ambiente.

Ah, sim: houve, ao longo desse tempo, uma única mudança positiva, e ela se deu precisamente no MST, que aprimorou não apenas suas atividades agrícolas – é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, por exemplo – como avançou muito na formação de técnicos rurais.

Todo o resto, repito, é desolador.

Almir Gabriel, o governador do Pará na época do desastre, morreu em 2013 sem nem ter sido indiciado.

O então secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Cãmara, que deu a ordem, foi levado pela covid-19. E o coronel Mario Pantoja, que comandou o massacre, foi pelo mesmo caminho.  

O Pará continua sangrando. E o Brasil também.

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