Um artigo miscelâneo e uma conversa imaginária com Lula
Estamos assistindo o fim do domínio do Império norte-americano. O Brasil, sob Lula e Dilma, percebeu a mudança e vem ocupando espaços fundamentais
- Introdução.
As relações entre países, corporações e indivíduos estão em constante mudança; vejo o mundo no limiar de uma nova era, de uma nova ordem mundial, onde o Sul Global, liderado pelos BRICS, passará a “dar as cartas” da geopolítica mundial.
A ordem mundial, estabelecida após a queda do muro de Berlim - que sucedeu o mundo bipolar da guerra fria -, está em decadência, mas disposta a tudo para manter-se no controle da geopolítica, mesmo que tenha que incendiar o planeta e dar início a mais um conflito de caráter global.
- “O declínio do império Americano”.
Nesse contexto lembrei de um filme, do qual eu gosto muito: “O declínio do império Americano” de Denys Arcand. É um filme super premiado, destacando-se: a indicação para o Oscar de melhor filme estrangeiro, tendo vencido o Prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes, ambos em 1986.
O filme se desenrola a partir do diálogo entre os homens, professores universitários que preparam o jantar em casa, e os diálogos paralelos entre as mulheres, que estão numa academia.
As conversas têm como tema de fundo os problemas advindos da modernidade e das relações do sistema capitalista globalizado e que desafiava as suas certezas, pois, segundo eles, as ideologias não explicam mais o mundo em transformação (lembremos que os anos 1980 sofreram o impacto da substituição do welfare state pela lógica neoliberal).
Uma das personagens afirma a obsolescência das ideologias, incapazes de explicar as novas relações entre os Estados-Nacionais, as corporações e mesmo entre as pessoas -; e, numa espécie de alegoria, falam da “traição” como método para garantir um casamento duradouro, um paralelo com o fracasso de tantas instituições que parecem “sólidas”, mas que na realidade se sustentam na mentira e na defesa de seus próprios interesses.
O filme nos remete a Bauman, para quem no mundo contemporâneo tudo é fluido, ou líquido, por isso nada é confiável e pode ser construído, desconstruído e reconstruído; essa fluidez seria sintoma de que instituições, que acreditávamos definitivas e sólidas, estão em decadência; que o arranjo político que as concebeu não existe mais.
Dos anos 1980 para cá mais mudanças aconteceram e hoje testemunhamos a decadência do império americano e o nascimento de uma nova ordem, contudo, a nova ordem ainda não se consolidou e, como escrevi acima, os senhores da geopolítica mundial (EUA e Europa) estão dispostos a incendiar o planeta para manterem-se com a batuta nas mãos.
- Um novo mundo, multipolar e os BRICS.
Acredito que a nova ordem geopolítica terá como líder o BRICS.
O Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, já ultrapassaram as economias que compõem o G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, além da União Europeia) e representa, 31,5% do PIB global, enquanto a participação do G7 caiu para 30%.
O crescimento dos BRICS e o declínio do G7 é inevitável, ademais, e a distância entre os blocos vai aumentar com a entrada dos novos membros: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã, tornam o bloco ainda mais poderoso.
Sem levar em conta que o México, pode se juntar ao bloco, assim como a Argentina (caso a extrema-direita não vença no país de Piazzolla, Jorge Luiz Borges. Maradona e Messi), garantirá o crescimento da economia do chamado Sul Global. Os Brics devem representar mais de 50% do PIB global até 2030.
Ou seja, as mudanças globais estão em curso e estamos assistindo o fim do domínio do Império norte-americano e a entrada o multilateralismo.
O Brasil, sob Lula e Dilma, percebeu a mudança e vem ocupando espaços fundamentais. A mudança geopolítica obrigou o Brasil a buscar protagonismo nesse mundo multipolar, pois, ao contrário do que pensava(?) Bolsonaro, os rumos do país não podem ser definidos pelos Estados Unidos.
- A decadência do império.
Não se trata, evidentemente, de ignorar a relevância econômica e política dos EUA e da Europa, mas de observar que o mundo está em movimento e a sua decadência no século XXI perceptível na diminuição sistemática da participação do PIB dos EUA na economia global e há ainda a dívida pública dos EUA, que em 2020 alcançou 98% do PIB (sendo que as projeções do Congressional Budget Office - agência federal que fornece informações orçamentárias e econômicas -, indicarem que a dívida deve ultrapassar os 200% do PIB em 2050).
Eis a razão para o “país dos corajosos” manter suas políticas imperialistas: eles não produzem riqueza.
E não venham os incautos me criticar pelo termo “imperialista”, basta estudar um pouco da história dos EUA que chegarão à eleição de William McKinley, no início do século XX, eleito e reeleito defendendo o livre-comércio e a consolidação no império no exterior, como nos contam Oliver Stone e Peter Kuznick no “A História não contada dos Estados Unidos”, Faro Editorial.
Mckiley dizia que a sobrevivência dos EUA dependia da expansão imperialista. Bem, a partir da sua vitória os Estados Unidos anexaram diversas colônias estrangeiras: Filipinas, Guam, Pago Pago, Ilha Wake, Atol Midway, Havai e Porto Rico.
Enquanto o imperialismo estadunidense engatinhava, o britânico, só nos últimos trinta anos do século XIX, apropriou-se de 12,2 milhões de quilômetros quadrados em territórios; a França no mesmo período apropriou-se de 9 milhões de quilômetros quadrados e a Alemanha cerca de 2,6 milhões.
Cada um desses países passou dezenas de décadas escravizando e explorando “suas” colônias.
Ou seja, a riqueza dos países imperialistas tem origem na exploração e não do trabalho, são como parasitas; vivemos num mundo dominado pelo que se denomina robber barons (literalmente barões ladrões).
- Conclusão.
A minha conclusão é que o Brasil tem uma oportunidade de ouro para tornar-se protagonista nessa nova ordem, o que precisamos é de mais ideias e menos discursos.
Mais ideias? Sim, mais ideias, final somos, pelo menos em tese, socialistas e temos que pensar uma forma de construir uma outra forma de regulação econômica (os nossos economistas poderiam de fazer diagnósticos e críticas e escrever uma teoria econômica socialista, afinal ninguém fez isso até hoje, apesar dos esforços de Lange e Taylor, e de Oskar. Lange; por favor, me corrijam se eu estiver errado).
Boaventura Santos numa entrevista afirmou que “...a política se transformou em um espetáculo onde só há ideologias, não há ideias. Vivemos em um mundo sem ideias. E por que não há alternativas? Porque não há política verdadeira. No entanto, as alternativas existem, os movimentos sociais e as organizações sociais do mundo continuam lutando por uma alternativa. Acontece que ela não se traduz ao nível dos partidos políticos, e este é o problema que temos hoje”.
Se eu me sentasse com Lula eu diria a ele duas coisas: 1ª (e mais importante) loucura por loucura venha torcer para a Ponte Preta e 2ª o tal "Lula 3" está muito ruim; há muito diagnóstico, poucas ideias e nenhum projeto novo; há muito “papo” e pouca entrega.
Apesar de atrevido eu tenho juízo, então eu faria uma ressalva e diria: “- Presidente, se estou errado, se está tudo bom; se há muitas ideias novas; se há novos projetos geniais; se há muita entrega, além de muita efetividade, tem que trocar o ministro da Secretaria de Comunicação Social e nomear “meia dúzia” de meninos e meninas de até vinte anos, jornalistas e publicitários, que sejam capazes de nos contar as coisas maravilhosas que estão acontecendo”.
Essas são as reflexões.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

