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Juca Simonard

Jornalista, tradutor e professor de francês. Trabalhou como redator e editor do Diário Causa Operária entre 2018 e 2019. Auxiliar na edição de revistas, panfletos e jornais impressos do PCO, e também do jornal A Luta Contra o Golpe (tabloide unificado dos comitês pela liberdade de Lula e pelo Fora Bolsonaro).

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Um balde de água fria

Como era de se esperar, as eleições de 2020 serviram para fortalecer o bloco fundamental do regime golpista

Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre (Foto: Marcelo Camardo/Ag.Brasil)
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Por Juca Simonard

As eleições municipais de 2020 foram um balde de água fria no otimismo de uma parcela da esquerda que esperava conseguir alguns cargos no processo eletivo. O resultado final, porém, era de se esperar, em eleições totalmente antidemocráticas.

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A esquerda, ao contrário do que se apresenta, não saiu vitoriosa em nenhum sentido, pois ganhou ala mais reacionária do bloco fundamental golpista e a burguesia conseguiu se objetivo de isolar o PT e o bolsonarismo nas capitais. Estes são os resultados das primeiras eleições com as regras da reforma eleitoral de 2017, que deu ao processo eleitoral as formas do novo regime golpista.

Aqui vale destacar ainda que, apesar da mitologia criada, a vitória do “centro” sobre a extrema-direita em nada é um fato positivo, pois os vencedores foram membros da linha dura do golpe de Estado. Mas ainda pior: dentro da linha dura, predominou os setores mais reacionários.

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Nestas eleições, a burguesia indicou que quer um governo ainda mais reacionário. As classes dominantes abriram mão de seus partidos tradicionais do momento anterior ao golpe, MDB e PSDB - que predominavam a política brasileira, mas perderam votos e cargos; e se deslocou para a direita, apoiando os partidos que surgiram da ala direita da ditadura militar brasileira, DEM, PSD e PP (oriundos do PFL-ARENA).

Foram estes partidos os principais vitoriosos das eleições, que ganharam votos, cargos e dominaram no tripé econômico do Brasil: Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Nos dois primeiros casos, assumiram, respectivamente, PSD e DEM. Já no último assumiu o PSDB, mas não a ala tradicional tucana… ganhou sua ala mais direitista, representada por João (Bolso)Doria, que tomou conta do partido no estado.

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A frente ampla mostra a que veio

Nesse mesmo sentido, uma vez que a burguesia se deslocou à direita, a frente ampla mostrou seu verdadeiro fracasso eleitoral. Nas cidades mais importantes onde a frente foi ao segundo turno, São Paulo e Porto Alegre (RS), a burguesia decidiu apoiar os partidos tradicionais da direita. A única conquista deste grupo efetivamente foi em cidades menores, como Belém (PA) e Fortaleza (PDT).

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Porém, apesar de não ter sido grandiosa, ela cumpriu o papel ao qual ela foi criada: isolar o PT e a esquerda. Em Porto Alegre, onde o PT já ganhou diversas vezes, mas é controlado por uma ala direita, o partido abriu mão de sua candidatura para entrar como vice na chapa de Manuela d’Ávila (PCdoB). No Recife, a ala direita da frente ampla (PDT, PSB, PCdoB, Rede…) se unificou em torno da campanha bolsonarista de João Campos (PSB) contra o PT, que lançou Marília Arraes.

No Rio de Janeiro, a frente ampla apoiou o DEM, de Eduardo Paes e Rodrigo Maia, contra Marcelo Crivella, para supostamente combater o bolsonarismo. Em São Luís (MA), um dos principais propulsores desta política de aliança com golpistas, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), apoiou o bolsonarista “menos pior” do Republicanos contra Braide - e ainda perdeu…

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Porém, além do fracasso eleitoral e das manobras para fazer a esquerda votar em candidaturas da direita golpista, o principal feito da frente ampla foi ter isolado o PT do processo eleitoral. O partido não ganhou nenhuma capital! O maior partido da esquerda institucional foi amplamente sabotado pela imprensa golpista que estimulou outros candidatos para roubar seus votos. Para isso, o monopólio da imprensa também fez propaganda para o PT apoiar outros partidos ao invés de lançar seus próprios candidatos.

Em Fortaleza, a frente ampla conseguiu isolar a ex-prefeita Luizianne Lins, cotada a ir para o segundo turno, mas que foi ultrapassada por José Sarto (PDT), candidato de Ciro Gomes.

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Assim, pegando o caso do Rio de Janeiro, o setor mais pequeno-burguês da esquerda se juntou à burguesia para sabotar a campanha de Benedita da Silva (PT) e chamar o “voto útil” na Delegada Martha Rocha (PDT), que roubou uma parcela dos votos da petista para garantir que ela não fosse ao segundo turno.

Essa mesma turma, em São Paulo, defendeu abandonar Jilmar Tatto (PT) para apoiar Boulos, que foi ao segundo turno com votos petistas - principalmente a classe média do partido - que acreditou nas “pesquisas” e na propaganda dos golpistas. A sabotagem é tamanha que nas primeiras “pesquisas” de intenção de voto, Tatto tinha apenas 1% enquanto Boulos ficava na 3ª colocação.

A campanha da burguesia para a esquerda apoiar Boulos existiu durante todo o processo eleitoral. Com o psolista no segundo turno, numa cidade em que o PT ganhou diversas vezes, a burguesia golpista decretou (novamente) o fim do PT e de Lula, preparando o terreno para 2022.

Boulos é visto com bons olhos pela imprensa golpista, que ressalta sua candidatura “amadurecida” e de “união”. Após o segundo turno, em que ele saiu derrotado, o Globo publicou matéria com o título “Guilherme Boulos: eleição projetou candidato em todo Brasil como novo líder da esquerda”. Ou seja, a imprensa golpista simplesmente escolheu o “novo líder da esquerda”, um elemento pequeno-burguês apoiado pela classe média, que revelou em sua campanha eleitoral (como em outros momentos) ser profundamente capitulador.

“O novo líder” é a pessoa do “não vai ter copa” para atacar o governo Dilma, que disse que o governo era “indefensável” quando estava ameaçado de impeachment, que custou a participar das primeiras mobilizações contra o golpe - realizando protesto contra medidas do governo; etc.

Nesse sentido, podemos nos preparar para a seguinte campanha da burguesia: “esquerda, abandone Lula e o PT e apoie um candidato escolhido por nós”. Ou como disse Vera Magalhães (Estadão) ao atacar minha coluna: “Vai ter frente ampla sem petista na cabeça, sim. Confia, esquerda!”

Seja lá quem for, as eleições de 2020 mostram que esta manobra apenas serve para isolar o lulismo e garantir a vitória da ala direita do regime golpista, como foi visto acima.

A falsa derrota do bolsonarismo

Ainda, um setor da esquerda comemora as eleições pela suposta derrota do bolsonarismo/extrema-direita. Primeiro, isso é uma falsificação, pois partidos do baixo-clero que foram tomados pela extrema-direita, como Podemos, Patriotas e Republicanos, cresceram em votações e cargos (vereadores e prefeituras). Ou seja, nem do ponto de vista eleitoral a extrema-direita foi derrotada. O que ocorreu, na verdade, foi uma tentativa de isolar este setor das capitais, em defesa do bloco central do golpe.

Segundo, a vitória do setor mais direitista do bloco tradicional, que tem ministérios dentro do governo Bolsonaro e é fundamental para impedir sua derrubada e para votar os seus projetos no Legislativo, foi o vencedor. Neste sentido, o único resultado provável sobre o bolsonarismo é que a tendência, já existente, do governo federal de se adaptar à política deste grupo pode se fortalecer. O governo Bolsonaro assumiria cada vez menos a cara de Olavo de Carvalho para assumir a cara de Rodrigo Maia e companhia.

Nada a comemorar

Feitos esses esclarecimentos, não há nada a se comemorar do resultado destas eleições. Agora é hora de intensificar a luta contra o golpe, que passa necessariamente pelo “Fora Bolsonaro”, a unidade das organizações de luta em torno da candidatura de Lula em torno de um programa contra a política golpista e a denúncia massiva da frente ampla.

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