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Orlando Silva

Líder do PCdoB na Câmara dos Deputados. Foi ministro do Esporte nos governos Lula e Dilma e vereador na cidade de São Paulo em 2013-2014

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Um freio à marcha da insensatez

A tragédia ocorrida na escola pública de Suzano precisa servir para que o país faça uma profunda reflexão sobre a crise de valores civilizatórios que ora vivenciamos. O caso não pode ser naturalizado e nem deve ser explorado de maneira sensacionalista, sob pena de a barbárie se impor no cotidiano dos brasileiros

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A tragédia ocorrida na escola pública de Suzano precisa servir para que o país faça uma profunda reflexão sobre a crise de valores civilizatórios que ora vivenciamos. O caso não pode ser naturalizado e nem deve ser explorado de maneira sensacionalista, sob pena de a barbárie se impor no cotidiano dos brasileiros.
 
Há muito a cultura do ódio e a banalização da violência têm sido marcas da vida nacional. O Brasil ostenta a escandalosa estatística de mais de 60 mil homicídios por ano. Foram mais de cem os casos de feminicídio só em janeiro deste ano. Crimes escabrosos têm ganhado frequência alarmante.
 
Parte da população busca respostas fáceis e falsas para dirimir o compreensível sentimento de insegurança: liberação do porte de armas de fogo, apoio à redução de maioridade penal e a políticas estéreis de encarceramento em massa e endurecimento da lei penal. São políticas demagógicas, que não resolvem e não deram certo em outros países.
 
Contribui para esse mal-estar o sensacionalismo apocalíptico que toma conta de inúmeros programas que se dizem jornalísticos. A "datenização" da vida só traz o medo para dentro de casa, glorifica a violência policial, demoniza suspeitos à margem do processo legal, justifica a vingança pessoal como estratégia de sobrevivência. 
 
As redes sociais, por sua vez, sob o manejo ardiloso de grupos especializados em disseminar o ódio e a mentira, têm servido como verdadeiras máquinas de propulsão de mensagens que dividem a sociedade e estimulam a intolerância ao diferente. Há uma espécie de interdição do debate público sobre temas polêmicos. No lugar da troca de opiniões e a divergência madura, cultua-se a falsificação como argumento, a aniquilação de reputações como método, a transformação do outro em inimigo a ser batido como objetivo. 
 
Tal ânimo também é irresponsavelmente insuflado pelo cretinismo de certos políticos, preocupados em jogar para a plateia e mobilizar as parcelas mais radicalizadas do eleitorado. No caso específico da tragédia suzanense, o surreal aconteceu: um senador da República defendeu, em sessão daquela casa legislativa, a esdrúxula tese de que se os professores estivessem armados, o episódio teria sido impedido. 
 
Percebam a loucura: 10 pessoas morreram e outras tantas ficaram feridas em um ataque a uma escola, realizado por duas pessoas perturbadas e, ao que tudo indica, motivadas pelo ódio. A reação esperada de qualquer ser humano é que se condoa, se solidarize às vítimas e seus familiares. Não foi o caso, o senador preferiu ocupar a tribuna para defender, como antídoto ao massacre, que armas fossem distribuídas a granel. Esse senhor quer transformar o país num faroeste de 210 milhões de habitantes. É algo tão irracional que enoja.
 
O jornalista Jamil Chade apresentou números da entidade Small Arms Survey que colocam o Brasil como o 6º país do mundo em armas de fogo nas mãos de civis, estimando em 17, 5 milhões delas, sendo 8 milhões legalizadas. Como é possível, em sã consciência, que alguém defenda que um país já tão armado e que mata tanto como o nosso conseguirá diminuir a violência facilitando ainda mais a compra e o porte de armas? É simplesmente ininteligível. 
 
Com esse caldo de cultura, agravado pela crise econômica, o desemprego, a perda de direitos e a piora das condições de vida, aonde iremos parar? O Brasil é uma panela de pressão prestes a explodir – se é que já não explodiu. 
 
É hora de os agentes públicos, as vozes respeitadas da sociedade civil, as lideranças dos mais variados segmentos refletirem a sério sobre os rumos que o país tem tomado. Urge que busquemos reatar no povo os laços históricos e culturais que nos dão um sentimento de Nação, de destino comum. Que cultuemos a paz em contraponto ao ódio crescente.
 
Ou nos unimos para colocar um freio à marcha da insensatez ou a História nos cobrará caro.

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