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Cleusa Slaviero

Jornalista, autora do blog Nossas Jornadas e editora na ComPactos

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Um líder pacifica e o Brasil precisa de paz

Ciro parece frustrado, o que é natural para alguém que tem seus planos de bem comum diante de dificuldades para realizá-los. Mas atacar os postulantes da chapa, como Lula, Manuela D’Ávila, Fernando Haddad e o PT, é agir contra o próprio patrimônio    

Um líder pacifica e o Brasil precisa de paz (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)
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É de certa forma irônico que a filosofia política da modernidade tenha começado justamente por Maquiavel. Seu nome foi adjetivado e virou sinônimo de  “má ação”. É usado como reprimenda, ou mesmo ofensa. De fato, a importância do pensador italiano está em descolar a política da moral. As chamadas virtudes, na concepção helênica-cristã, de nada serviriam para a conquista e manutenção do poder, nos disse Maquiavel. O que importava eram outras capacidades, como a coragem, a perspicácia, a retórica e, por que não, a mentira e a manipulação. 

Se de fato não é um começo muito promissor para a política moderna, ao menos nos forçou a pensar modelos que dirimissem os conflitos inerentes à política. Afinal, o que todos buscamos, qualquer que seja o posicionamento, é a paz e a prosperidade. Para isso, não apenas o exercício do poder deve ser controlado, mas também os caminhos legítimos pelos quais se chega a ele.  

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O período de intensos conflitos que vivemos no Brasil ameaça o próximo ciclo de poder, que começa a partir das eleições de outubro. Desde o golpe de 2016, temos nas eleições uma esperança de reversão do quadro de deterioração democrática. Fazer o poder retornar ao povo, seu legítimo dono, para que ele decida os rumos do país é o tipo de retorno ao início sem o qual o Brasil não voltará a caminhar para frente. 

Mas esse retorno não pode acontecer de qualquer forma. É preciso recuperar valores essenciais ao processo democrático que se perderam ao longo da guerra política entre direita e esquerda, que ocorre há anos no país. É preciso recuperar o respeito pelo resultado das urnas, o apreço pelos fatos, a capacidade de codificar as críticas leais dos adversários – recusando qualquer tipo de baixaria ou tentativa de divisionismo – e, principalmente, a compreensão de que o bem da sociedade é o único motivo justo para a ação política. Projetos pessoais de poder não podem estar acima disso. 

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Esse respeito deve constar não somente da relação entre esquerda e direita, mas também – e principalmente – dentro dos dois campos ideológicos. Nos últimos dias, temos assistido a um estremecimento no campo progressista, causado por um suposto conflito entre Ciro Gomes (PDT) e os dirigentes do PT. Ciro acusa o PT de manobrar para minar sua candidatura. E o PT, por sua vez, critica Ciro por ataques abertos a Lula e ao governo petista, do qual ele mesmo fez parte. 

É necessário entender, em primeiro lugar, que o apoio incondicional a Lula não é personalista. Não se trata de cultuar um santo, como o próprio Ciro disse em sabatina à Globo News.  A defesa de Lula é um arquétipo do apreço que nós, brasileiros conscientes, devemos ter pela Justiça e pela democracia. Se não tomarmos uma posição fixa, sem concessões, Lula será um entre milhares de presos políticos. 

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A defesa de Lula inclui sua candidatura à presidência da República. Um movimento de coragem radical. No momento em que as forças conservadoras querem fazer crer que Lula, e por extensão o PT, não são moralmente dignos de voltar a ocupar a chefia do Executivo, a ratificação do nome do ex-presidente em convenção é um símbolo da luta contra o sequestro da vontade popular. “O povo sabe porque me condenam”, disse Lula. Uma frase para ecoar na história.

 Portanto, a candidatura de Lula não é uma ação privada, tampouco atende a um interesse restrito de uma única pessoa ou mesmo de um partido. O ex-presidente representa a vontade direta de, ao menos, 30% do povo brasileiro que declaram votar nele. 

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Ciro tem feito o que se espera de um candidato, que é elogiar a si e criticar os adversários. Porém a forma como tem se posicionado é pouco produtiva para os objetivos do campo da esquerda, do qual ele próprio faz parte. Após 13 anos ininterruptos no poder, é evidente que o Partido do Trabalhadores acumula sua cota de  ações negativas – como acontece com todas as instituições e pessoas. Usar isso para uma desqualificação geral, como Ciro tem feito, é adotar a mesma estratégia da direita. 

Na via oposta, o pedetista vem reclamando uma hipotética injustiça do PT para com ele. Cobra retorno pela fidelidade ao partido de Lula ao longo desse tempo. Uma cobrança no mínimo estranha, pois Lula sempre destacou seu nome respeitosamente e como um companheiro, alguém a ser sempre considerado. 

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Desde o final de 2017, no entanto, Ciro passou a fazer críticas frequentes e tóxicas demais até para o meu gosto – eu o apoiava e queria vê-lo numa chapa com o PT. Desisti porque Ciro me fez desistir e muito antes de Lula ou dirigentes do PT expressarem qual comentário fosse sobre as ofensivas de Ciro. Esse comportamento adotado por Ciro é assustador e prefiro cautela devido às experiências recentes, dando crédito aos sinais visíveis. Além disso, no seu atual partido, o PDT, lideranças políticas adotaram posições dúbias em vários momentos do governo petista.   

Lula e o PT estão combatendo o Golpe de Estado de 2016 que está em curso. Ciro e o PDT estão combatendo o quê? O PT? Assim como pressionar 13 na urna significa eleger não somente Lula, mas todo um conjunto de lideranças e opiniões, da mesma forma ocorrerá se o eleitor decidir livremente em apertar o 12 do PDT. 

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Porém, nesse segundo caso, diante da postura belicosa de Ciro, um pensamento que se alastra em parcela considerável da militância progressista, é que poderemos nos deparar com um comprometimento menor com os valores que movem a restauração brasileira. Ressalto que faço referência apenas ao pensamento entre a militância progressista, e não de direções e lideranças de partidos políticos. 

Ciro parece frustrado, o que é natural para alguém que tem seus planos de bem comum diante de dificuldades para realizá-los. Mas atacar os postulantes da chapa, como Lula, Manuela D’Ávila, Fernando Haddad e o PT, é agir contra o próprio patrimônio. 

Ele não é o único a ter motivos para frustrar-se. Destaque-se a situação de Lula: mesmo diante do arbítrio e dificuldades extremas, diante do prejuízo da injustiça, não se observa Lula bater em presidenciáveis e partidos do campo popular que homologaram suas candidaturas. Tampouco as lideranças e membros da Executiva do Partido dos Trabalhadores fazem isso. 

O candidato pedetista tem uma carreira de patriotismo e bons serviços prestados à esfera pública. No momento em que ele acirra as fronteiras dentro do único batalhão com condições de resgatar o caminho do progresso, acaba por contradizer a própria história. 

 

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