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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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Um mito para chamar de seu

Acredito que muitos que votam em Bolsonaro, também votariam em mim ou em qualquer outro que possua os mesmos requisitos que eles tanto exaltam no nobre deputado e que consideram suficientes para torná-lo elegível ao Planalto. Eu também posso falar o que vocês quiserem ouvir. Aliás, eu posso até cantar o que vocês quiserem ouvir

Deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) (Foto: Nêggo Tom)

Tenho ouvido muitas pessoas dizerem que vão votar em Bolsonaro, porque ele fala o que o povo quer ouvir, porque ele não tem rabo preso com ninguém, porque ele é honesto, porque ele é ficha limpa e por que ele é sincero. Essa mesmas pessoas defendem que ele não precisa entender de economia, que não precisa apresentar projetos nas áreas de educação e saúde pública e nem ter um programa de governo para ser se candidatar a presidência da república, porque ele vai nomear pessoas competentes para fazer tudo que ele não sabe ou que não está apto a fazer.

Essas mesmas pessoas costumam atenuar o fato de Bolsonaro - apesar dos 30 anos de vida política - nunca ter aprovado um projeto ou sequer apresentado algum que merecesse ser levado em consideração. Para eles, ele é vítima do sistema, que só apoia aqueles que se aliam aos corruptos. Eu chamaria a esse conjunto de ideias de: "Princípio da mitificação conveniente", e partindo de tal princípio, eu aproveito esse espaço para lançar a minha candidatura a presidência da república e pedir o seu voto.

Acredito que muitos que votam em Bolsonaro, também votariam em mim ou em qualquer outro que possua os mesmos requisitos que eles tanto exaltam no nobre deputado e que consideram suficientes para torná-lo elegível ao planalto. Eu também posso falar o que vocês quiserem ouvir. Aliás, eu posso até cantar o que vocês quiserem ouvir. Eu também não tenho rabo preso com ninguém, sou honesto, ficha limpa e sincero. Podem investigar. Eu também não entendo nada de economia, assim também como não entendo de educação e de saúde pública.

Eu também não tenho um programa de governo pronto e confesso que nem saberia por onde começar a elaborar um. O que não é nenhum demérito. Afinal, Bolsonaro também não deve saber. E além de possuir todos os predicados relevantes, contidos na figura do mito da extrema direita, ainda levo a vantagem de não ser fascista, racista, machista, homofóbico, intolerante, estúpido, violento, autoritário, prepotente e hipócrita. Ou isso não seria uma vantagem na visão dos seus seguidores? Mas como não poderia ser?

Todos os que votam em Bolsonaro se declaram cidadãos de bem, e como tais, deveriam repudiar quaisquer manifestações odiosas e discriminatórias, iguais as que eu citei acima. Ou seria justamente o que eu não tenho em comum com ele, que mais atrai os seus eleitores? Tomara que eu esteja enganado. Eu já cheguei a pensar que a figura de Bolsonaro é usada por muita gente, como uma espécie de desafogo, no qual elas podem externar os seus preconceitos de forma justificável. Como se apenas estivessem defendo a própria opinião. Como eu pude ser tão leviano em pensar isso, não é mesmo? Peço até perdão!

O meu maior problema ao me lançar como candidato - acredito que seja o de Bolsonaro também - é estudar uma maneira de parar Lula. Como iremos confrontá-lo em um debate, apenas com sinceridade, honestidade e ficha limpa? Como poderemos usar a nosso favor, o fato de não entendermos de economia, diante um cara, cuja política econômica colocou o país entre as sete maiores potências mundiais? Como não apresentar projetos na área da educação, ao debatermos sobre o assunto com um cara que construiu 18 universidades públicas, ao longo de seus dois mandatos e do mandato da presidente indicada por ele para o suceder?

Como iremos falar apenas o que o povo quer ouvir, estando debatendo com um cara que, além de falar o que o povo queria ouvir, fez o que o povo queria ver, criando políticas afirmativas e diversos projetos de inclusão social. Eu confesso que estou apreensivo, mas mesmo assim peço o seu voto. Talvez eu até proponha uma aliança com Bolsonaro no 2º turno. A união faz a força e também divide a vergonha.

Assim, para todas as questões que a gente não souber responder - porque não entendemos e nem somos obrigados a entender, porque vamos contratar pessoas para entenderem por nós - pediremos a ajuda dos notáveis que farão parte da nossa equipe de governo. Se eles não souberem, podemos pedir a ajuda da platéia, dos universitários ou até mesmo das cartas. Afinal, assim como Bolsonaro, elas não mentem jamais.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.