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Paulo Nogueira Batista Jr

Economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS e diretor executivo no FMI pelo Brasil.

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Um olho no peixe, outro no gato!

" A frente superampla é importante para ganhar a eleição e, em caso de vitória, para governar", escreve Paulo Nogueira Batista Jr

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
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Por Paulo Nogueira Batista Jr. 

A arca de Noé do Lula é uma beleza, leitor. Tem sido merecidamente  elogiada. Trata-se de uma construção brilhante e bem brasileira. O  brasileiro é, entre muitas outras coisas, um eclético e um pragmático. E  o nosso Noé, o ex-presidente Lula, é um brasileiro até a medula. E esta  é, aliás, uma das razões da sua preeminência na política brasileira  desde os anos 1970. Qualquer que seja o resultado desta eleição, Lula já  se tornou, pelo muito que fez, pelo muito que sofreu, pela maneira como  resistiu a uma perseguição implacável, uma figura lendária, uma  verdadeira lenda brasileira.

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Mas não era do Lula propriamente que queria falar um pouco hoje, e  sim dessa sua construção – a frente superampla, que ele mesmo alcunhou  de Arca de Noé. Essa arca, com tripulantes e passageiros muito  heterogêneos, só poderia ser montada, insisto, num país de pragmáticos e  ecléticos como o Brasil. E por um político pragmático e eclético como  Lula. Por motivos evidentes, que não preciso recapitular agora, a frente  superampla é importante para ganhar a eleição e, em caso de vitória,  para governar.

Nada é perfeito, lamentavelmente. A Arca do Lula está ficando meio  lotada e, vamos ser francos, com passageiros, às vezes, bem duvidosos.  Tudo bem, queremos nos ver livres desse desastre chamado Jair Bolsonaro.  E, desde 2021, estava claro e cristalino que Lula era o que tinha mais  chances de derrotá-lo. Com algumas semanas pela frente até o segundo  turno, todos sabemos que a vitória não está garantida.

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O próprio Lula vinha avisando, há meses, que seria uma eleição muito  difícil. Em almoço do qual participei, faz alguns meses, um dos  integrantes mais proeminentes da Arca comentava com realismo que  disputar a reeleição na condição de presidente, governador ou prefeito é  “uma covardia”. Afirmação que dispensa explicações, mas que apesar  disso vinha sendo esquecido pelos que davam a derrota de Jair Bolsonaro  como certa. Outros, ao contrário – como o professor Marcos Nobre, da  Unicamp –, advertiam desde 2021 que, apesar de tudo, Jair Bolsonaro  chegaria competitivo às eleições presidenciais.

Portanto, a Arca do Lula é tudo menos excludente. Como coração de  mãe, cabe todo mundo. Entra qualquer um, desde que comprometido com o  antibolsonarismo. A frente ampla se define, portanto, fundamentalmente  pelo negativo.

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Disso decorre um problema: dentro da Arca temos a presença expressiva  da poderosa direita ou centro-direita tradicional, órfã da terceira  via. Sem querer pecar pelo excesso de didatismo, lembro que a política  brasileira se divide, grosso modo, em quatro grandes blocos: (1) a  centro-esquerda e a maior parte da esquerda, lideradas por Lula e pelo  PT; (2) a direita ou centro-direita tradicional, que inclui a Faria Lima  e a mídia corporativa e vinha sendo representada sobretudo pelo PSDB,  hoje em frangalhos; (3) a direita ou centro-direita fisiológica, que  inclui o Centrão e outros partidos ideologicamente indefinidos, em geral  de base regional; e (4) a extrema direita bolsonarista, fascista ou  protofascista, representada no Congresso pelo bancada BBB (bíblia, boi,  bala). Existem outras forças, mas são periféricas. O bloco 4, antes  totalmente inexpressivo no Brasil, saiu do armário com força e  espalhafato em 2018.

A Arca de Lula inclui a maior parte do bloco 2. O bloco 3 está hoje  majoritariamente com o bloco 4, mas pode desembarcar a qualquer momento e  pleitear ingresso na Arca, dependendo, claro, do resultado do segundo  turno.

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Com as pressões incansáveis de integrantes do bloco 2, a Arca está  adernando perigosamente para a direita. De novo, na conjuntura dramática  que vivemos, só um radical louco pensaria em rejeitar ou hostilizar  companheiros do bloco 2. São legítimos passageiros da Arca. Afinal, ela é  ou não é coração de mãe? E digo mais: se ainda houver algum financista,  algum neoliberal, algum fisiológico, até mesmo algum ex-bolsonarista,  disposto a embarcar tardiamente, que seja recebido aos beijos e abraços.

No entanto, leitor, sem ilusões! E com uma dose saudável de  hipocrisia, aquela mesma que La Rochefoucauld dizia ser a homenagem do  vício à virtude. Os neocompanheiros, por mais simpáticos, por mais  dedicados ao discurso da justiça social e da democracia, nem sempre são  autênticos. De uma maneira geral, digamos diplomaticamente, a  autenticidade não é seu forte. Também são discípulos de La  Rochefoucauld.

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Obviamente, o peso do bloco 2 aumentou com o resultado do primeiro  turno. O bloco 1 precisa, mais do que nunca, do seu apoio, e de parte do  bloco 3, para derrotar o 4. Política também é a arte de engolir sapos.  Por outro lado, leitor, convenhamos: de que adianta ganhar as eleições e  perder o governo? Temos que ser, sim, flexíveis, sutis e até delicados.  Mas, cuidado: não vamos perder a alma.

Lembrei do verso de Rimbaud: “par délicatesse, j’ai perdu ma vie”  (por delicadeza, perdi minha vida). Não digo que possamos perder a  vida, mas a alma sim! No imediato, a luta é contra a destruição do  Brasil, que será inevitável se Bolsonaro se reeleger. Mas logo em  seguida a disputa será pela hegemonia na frente superampla que comporá o  governo, em caso de vitória de Lula. Realismo acima de tudo, portanto!

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