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Deise Recoaro

Sindicalista e militante da AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras

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Um outro sindicalismo é possível… com as mulheres

Ser mulher na atual conjuntura, mais do que nunca, virou sinônimo de resistência. Aproveitemos então o mês de março para buscar inspiração naquelas que sempre resistiram

Um outro sindicalismo é possível… com as mulheres (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
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Ser mulher na atual conjuntura, mais do que nunca, virou sinônimo de resistência. Aproveitemos então o mês de março para buscar inspiração naquelas que sempre resistiram.

Na tentativa de conter qualquer reação mais institucionalmente organizada contra a Reforma da Previdência, Bolsonaro agora mira seu “revólver” para cima dos sindicatos e promete vir com chumbo grosso. Por meio da Medida Provisória (MP) 873/19, Bolsonaro quer fazer sangrar a forma de arrecadação financeira das entidades. Como se já não bastassem os impactos negativos da reforma trabalhista do Temer sobre os sindicatos, a situação tende a agravar com as dificuldades impostas pela MP. Pois, para aqueles trabalhadores e trabalhadoras que querem manter vivas suas entidades, terão que contribuir por meio de boleto bancário, ao invés do desconto em folha, entre outras malvadezas.

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Os sindicatos de diversos países vêm driblando os ataques e buscando formas de sobrevivência para continuar cumprindo minimamente seu papel histórico, que é de equilibrar as relações de exploração no mercado de trabalho. Gostemos ou não dos sindicatos, uma coisa é certa: se ruim com eles, pior sem eles. Os sindicatos, conforme afirmam estudiosos como Alan Touraine, são resultado de um dos primeiros e mais poderosos movimentos sociais organizados. Foram capazes de aglutinar pessoas em torno de uma causa, criaram uma identidade de classe e promoveram transformações sociais que mudaram os rumos políticos e econômicos de muitos países.

No Brasil, o “novo sindicalismo” entre os anos de 1970 e 1980 foi a principal força contra a ditadura militar e se tornou referência internacional para aquilo que chamam hoje de “sindicalismo de movimento social”. Esse modelo é visto por diversos especialistas no tema como uma saída para a crise que o sindicalismo vem enfrentando. Isso porque, entre outras características, teve a capacidade de fazer parcerias com outros movimentos e formular políticas e reivindicações que vão para além dos muros da empresa. Dito de outra forma, para além das questões corporativas.

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E o que as mulheres têm a ver com isso? Se o sindicalismo de movimento social é visto como uma alternativa à crise de representatividade, as mulheres já se inserem no sindicalismo em crise porque os sindicatos historicamente foram hostis à presença feminina. Essa hostilidade pode ser explicada devido à entrada tardia das mulheres no mercado formal de trabalho, ao rebaixamento dos salários que essa entrada promoveu e/ou porque foram acusadas de dividir a classe trabalhadora com as suas demandas, ditas específicas. Isso tudo sem falar das atitudes machistas que também se reproduzem no movimento sindical.

As mulheres desenvolveram rapidamente a receita de sobrevivência nesse ambiente e alargaram o papel das centrais sindicais em parceria com outros movimentos sociais, em especial com o feminismo. Essa relação com o feminismo contribui para politizar as relações de trabalho (entre o produtivo e reprodutivo) e de poder, sob a máxima de que “o pessoal é político”.

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É incontestável que as mulheres estão à frente das principais manifestações dos últimos anos, não só no Brasil, como também nos EUA com a “Marcha de Mulheres contra Trump”, na Argentina pela legalização do aborto, e com a ousada greve geral de mulheres na Espanha. No Brasil as mulheres têm conseguido arrastar multidões às ruas a exemplo dos atos do “Fora Cunha”, do “Ele Não” e, mais recentemente, das mulheres contra  Bolsonaro nos atos de 8 de março. Não é para menos. Motivos para protestar é que não faltam: continuamos ganhando menos que os homens, não temos autonomia sobre nossos corpos e somos as mais prejudicadas com a reforma da Previdência.

Nesse momento de severos ataques contra todo pensamento crítico, contra a liberdade de expressão e sobre qualquer forma de exercer a democracia, a Central Única dos Trabalhadores (e das Trabalhadoras) tem um grande desafio pela frente. Trata-se da principal central do país e uma das mais importantes do mundo. Para revitalizar o sindicalismo, não existe fórmula milagrosa ou mirabolante. Precisa olhar ao redor e reconhecer a importância e exemplo de organização que as sindicalistas construíram. Elas não só resistiram como também ampliaram a representação feminina na direção da central, desenvolvem parcerias com diversos movimentos, partidos e centrais na luta contra toda forma de opressão (de gênero, raça, orientação sexual ou classe) e, de forma horizontalizada, seguem articulando com os movimentos sociais em todo o Brasil.

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Apesar de a CUT ter paridade na sua direção, a participação das mulheres nos sindicatos e demais estruturas (federações e confederações) sequer consegue atingir a cota mínima de 30%. Em tempos de crise política e econômica, de discursos autoritários e do medo, as conquistas das mulheres tendem a ser as primeiras a caírem, porque fica valendo a máxima do “salve-se quem puder”. Pode mais quem detém poder, quem ocupa os principais cargos, quem controla a máquina sindical. Historicamente, as mulheres são as primeiras a terem que abrir mão de suas pautas, cargos e recursos, em nome da unidade e manutenção de um modelo de sindicalismo que já apresenta sinais de decomposição.  

O modelo de “sindicalismo de movimento social”, como o próprio nome diz, propõe um retorno às origens por mais movimento e menos instituição, mais democracia e menos hierarquia, mais parceria e menos protagonismo, por mais políticas sociais e menos corporativismo. Sabemos que não são mudanças fáceis de serem implementadas, mas se colocam também como uma nova potência de revitalização dos sindicatos e do sindicalismo. As mulheres, pela própria condição e repertório de mundo, estão mais voltadas às demandas sociais e mais aptas à diversidade, têm nos dado exemplo de que um outro sindicalismo é possível.

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