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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

219 artigos

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Uma cabeça em dificuldades

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Existem pensamentos e ideias sábios, geniais, maravilhosos, sedutores e únicos. São manifestações que simplesmente encantam a humanidade, deslumbram por sua lógica, poesia ou razão.

Há outros que são ‘comuns’. E há, ainda, os que são ‘apenas’ errados e desastrosos. Defeituosos, invertidos, resultantes não da inteligência, mas de seu avesso ontológico.

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Um dos erros num pensamento haverá quando certa lógica objetiva, razão ou princípio de uma dada atividade, profissão ou ciência se vejam violados. A filosofia produz ‘pensamentos’ que se aplicam diversamente a diversas áreas.

Assim, na História há um pensamento histórico. Na Física, um pensamento físico. Na Biologia, um pensamento biológico. No Direito, um pensamento jurídico.

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Jamais o pensamento histórico autorizará, como método de investigação, a inversão cronológica de fatos. Jamais o pensamento físico aceitará que se negue a mecânica. Jamais o pensamento biológico rechaçará a Evolução. Jamais o pensamento jurídico democrático atual admitirá qualquer agressão à dignidade da pessoa humana.

Por aí veem-se princípios universais, racionais e lógicos que impõem a qualquer pessoa que pretenda ‘aprender’ uma dessas ciências, a necessidade de considerá-los. Sob pena de formular um pensamento defeituoso. Esses e outros princípios acabam sendo inegociáveis.

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Não há ideologias ou lados políticos preferenciais nos princípios das ciências. Todos eles obedecem a uma lenta e gradual evolução metodológica, ao longo da história de cada área que acabaram sendo confirmados, alguns a duras penas.

Um dos exemplos mais espetaculares é a Evolução. Ernst Mayr, em vários de seus mundialmente famosos livros de Biologia, mostra que a Evolução – para os biólogos seniores do mundo- deixou de ser uma ‘teoria’ para se transformar num fato, após resistir a 90 anos de críticas feitas pela própria Biologia como um todo, a partir de 1858, após Darwin. Pouco importa se algum político ou outro intelectualmente desonesto ou não estudioso ‘queira’ que a Evolução continue sendo uma teoria, para insistir no lado místico e sobrenatural de algum ‘criacionismo’.

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Quando se ‘aplicam’ métodos da Filosofia em geral, mais propriamente da Filosofia da Ciência e da Lógica à questão atual da Pandemia, neste obscurantista Brasil político de 2020, veem-se, pelas redes sociais, uma série de ideias lobotomizadas de radicais e fanáticos, simplesmente violadoras de princípios que as toram tecnicamente imprestáveis.

Advirta-se, ainda, que esta situação crítica não é, historicamente, privilégio da direita ou da esquerda isoladamente. Os chamados petralhas e bolsominions, pela sabida trava mental que têm de exercer qualquer autocrítica por meio da própria inteligência, mostram-se com o mesmíssimo nível de dificuldade intelectiva. O fanatismo na história sempre vitimou cabeças, nunca salvou.

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Exemplo crítico desse modo de pensar viciado é o pontual caso da ‘preferência’ de mortes, feita pelo presidente da República que, percebe-se, deveria ter uma assessoria melhor. Muito melhor.

Reparem-se as evocações pseudológicas feitas: primeira: ‘Está morrendo gente? Está! Lamento! Mas vai morrer muito mais se a economia continuar sendo destroçada.’ Segunda: ‘Um apelo que faço aos governadores. Estou pronto para conversar. Vamos preservar a vida? Vamos. Mas, dessa forma, o preço lá na frente serão centenas de mais vidas que vamos perder por causa dessas medidas absurdas de fechar tudo.’

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Por elas o presidente até passou a dizer que lamenta o efeito morte. Melhorou. Porém, ‘escolhe’ qual morte se preocupa mais, quando afirma oclusivamente ‘lamento’, para as mortes da Covid19, e utiliza a conjunção adversativa ‘mas’ para as mortes que a economia, todavia, poderá vir a produzir.

Na segunda frase, utiliza a mesma ‘lógica’ de burocratizar as mortes da Covid19 e importantiza, pela mesma conjunção adversativa ‘mas’, as mortes – ‘centenas’- que a economia poderá causar.

O fato é que esta ‘economia’, referida pelo presidente, de abertura de fábricas e comércio, até o presente, não causou uma única morte. O que está matando aos milhares em curva ascendente e está no colo dos brasileiros é o Corona vírus. Ou seja, o Corona vírus é uma realidade presente, crescente e já mortífera, enquanto essa economia referida, para efeito morte, hoje continua sendo futurologia.

Há aí uma funesta, desastrada e irracional ‘hierarquia’ temporal, totalmente defeituosa no plano lógico-social. Isso vale como errância para qualquer governante do mundo que optasse por essa lógica absurda: preferir se preocupar com ‘centenas’ de supostas mortes que a economia do comércio ‘poderá vir’ a causar, em detrimento das milhares de mortes atuais e reais que já vitimam o país.

E veja que nem se trata de uma comparação quantitativa: milhares de mortes da Covid 19 versus as tais ‘centenas’ da economia referida do presidente. Em morte não se comparam quantidades ou qualidades. Atendem-se, emergencialmente, às do dia de hoje, sejam elas quais forem, buscando-se evitação a todo custo. A Pandemia é uma realidade que está matando, hoje.

Só este defeito de raciocínio expõe o pensamento presidencial ao erro racional, ou metodológico. O Brasil vive até o dia de ontem, 14/5/2020, o trágico número de 14.058 mortes.

Um pensamento político-jus-filosófico correto, atrelado a princípios universais de dignidade da pessoa humana e prevalência da vida a qualquer custo, não tem como tolerar a relativização da morte atual pela Covid19 em detrimento de uma suposta morte futurizada oriunda da economia.

Todas as visões de mundo das agências de ciência internacionais, centros médicos, governos, universidades e entidades globais estão contestes na preocupação com a morte da Pandemia. Sem ‘mas’.

Isto seria o mesmo que um diretor de hospital não atender a pacientes de uma certa doença, que já está matando, para não ocupar os leitos, no sentido de esperar uma outra doença que foi ‘anunciada’ e que no futuro matará de outra forma. Este diretor seria criminalmente processado e teria seu futuro médico exemplarmente arruinado se utilizasse essa ‘lógica’ energúmena.

Às vezes, as questões do pensamento são complexas e ‘chatas’, difíceis mesmo para um gestor público com poucos estudos e fundamentos. O grande pensador Edgar Morin, na obra Introdução ao Pensamento Complexo, p. 15, mostra como a antiga patologia do pensamento, ligada a mitos e deuses que criava, se atualizou em 5 versões, sendo a da patologia moderna da mente ligada à ‘hipersimplificação que não deixa ver a complexidade do real’.

O real na premência das milhares de morte pela Covid19 não deveria ser tão difícil de o presidente ver. Mas uma cabeça em dificuldades não produz compreensões humanistas. Muito menos metodológicas.

PS. Teich, ministro da saúde acaba de sair. Mais um com quem o presidente ‘briga’.

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