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Vinícius Canhoto

Professor, doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo

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Uma crítica a Glenn Greenwald e um elogio a Pepe Escobar

Pepe Escobar, aqui no Brasil 247, foi o primeiro no campo progressista a alertar e colocar em dúvida as possibilidades de alcance do Intercept naquilo que viria a ser chamado de Vaza-Jato. As desconfianças do veterano jornalista eram fundamentadas no caso Snowden

Pepe Escobar e Glenn Greenwald (Foto: 247 | Edilson Rodrigues/Agência Senado)
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Pepe Escobar, aqui no Brasil 247, foi o primeiro no campo progressista a alertar e colocar em dúvida as possibilidades de alcance do Intercept naquilo que viria a ser chamado de Vaza-Jato. As desconfianças do veterano jornalista eram fundamentadas no caso Snowden cuja maior parte do material, recebida por Glenn Greenwald, jamais foi publicada. Escobar não se deu apenas o direito ao ceticismo, como também justificou suas desconfianças na experiência do caso Snowden e nas origens e na propriedade do site Intercept. Parodiando Christian Andersen, era como se no momento em que todos estavam entusiasmados com a descoberta da nudez do rei, o menino dissesse que ainda havia muitas roupas escondidas e por esconder. E são das roupas ocultas do rei que precisamos tratar.

Além de Pepe Escobar, diretamente mencionado, este texto também dialoga com críticas manifestadas por Kiko Nogueira no DCM e, sobretudo, com o artigo de Fernando Horta O que quer a Vaza a Jato?, publicado no GGN. O artigo de Horta começa por tratar das esperanças que Glenn Greenwald despertou na esquerda ao afirmar que em seus arquivos há uma enormidade de mensagens, áudios e vídeos comprometedores, referentes à Operação Lava-Jato. Embora fosse de conhecimento dedutivo de parcela culta da sociedade o modus operandi da Lava-Jato, os vazamentos do Intercept trouxeram à luz os intestinos e o esgoto da atuação da força-tarefa. Mais do que ter ciência das conspirações, os vazamentos permitiram ver parte dos bastidores. É neste ponto que eu quero enfocar porque o que foi anunciado como uma janela para que a sociedade enxergasse a maquinaria do Estado de exceção e visse a lógica de funcionamento do código de direito do inimigo político, a Vaza-Jato tem somente nos convidado para ver o buraco da fechadura que criam uma visão muitas vezes reduzida e ocultada.

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Horta tem razão: “Bolsonaro e Moro estão ganhando a parada” e nãoapenas eles. Procuradores continuam com suas agendas, sejam elas de palestras remuneradas, sejam em entrevistas coletivas para imprensa. Os punitivistas do Supremo seguem com o discurso contrário ao artigo 5º da Constituição e quase tudo parece como dantes no quartel de Abrantes. Ao contrário da Lava-Jato, que sempre soube editar a narrativa para que sua visão de mundo triunfasse, a Vaza- Jato parece não saber ou não se interessar em estabelecer um fio lógico e cronológico entre os fatos e os arquivos. Horta citou vários profissionais e veículos da imprensa progressista que, com expertise, (para usar uma palavra da moda) montaria facilmente o quebra-cabeça as correlações entre causa e efeito das mensagens trocadas e os contextos envolvidos. Horta, no final do artigo, fez três questionamentos que seriam interessantes caso Greenwald os respondesse. Jornalistas historicamente críticos aos método da Lava-Jato poderiam fazer vários recortes de objeto para serem analisados: a) manipulação jurídica; b) manipulação da opinião pública; c) a manipulação política; d) a relação pouco ética com veículos de imprensa; e) vazamentos; f) indústria da delação; etc, etc, etc.

O que a Vaza-Jato tem atualmente nos apresentado são matérias esparsas,ora no Intercept, ora em veículos tradicionais, peças que apenas criam imagens  da renovação do velho e a novidade do já conhecido. O tom de escândalo e a ânsia por saber os desdobramentos dos vazamentos já se dissipou. Glenn Greenwald e outros editores têm muito mais falado fora das matérias do que por meio delas.

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Por ser escritor, não gosto de utilizar o termo narrativa fora dos domíniosdas artes, por mais que a realidade tenha cada vez mais buscado se tornar fictícia. Todavia, reconheço na direita todo o trabalho de construir uma narrativa, o que em outras épocas seria chamado de discurso ou ideologia. Esta construção narrativa criou no senso comum a visão de que a corrupção foi inaugurada no Brasil quando o país foi assaltado por uma quadrilha de metalúrgicos, sedentos de whisky e poder. Vimos esta obra narrativa ser esboçada, ensaiada e representada com sucesso de público e crítica. O golpe em três atos: a queda de Dilma, a prisão de Lula, a eleição de Bolsonaro.

A Vaza-Jato muito mais que uma narrativa, poderia ser uma contra-narrativa. As mensagens trocadas, os áudios, os vídeos, ou seja, os materiais confiados a Greenwald, poderiam ser apenas a realidade nua e crua, vindas a público. Entretanto, o que temos visto são pequenas peças, pouco polêmicas, que reiteram o já sabido. As grandes revelações, que acompanharam os grandes atos da farsa Lava-Jato, ainda não foram publicadas. Estratégia estranha que permitiu Moro ironizar o Intercept com a frase da montanha que pariu um rato.

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Talvez o reino da Lava-Jato esteja nu e as roupas e vestidos usadosestejam escondidos em armários e guarda-roupas do Telegram.

Gleen Greenwald tem as chaves.

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