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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Uma dúvida que não chega a ser um dilema para Bolsonaro

Bolsonaro não precisa se preocupar muito com os riscos representados por Braga Netto, porque as próximas pesquisas podem indicar o que a extrema direita prevê

(Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
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Em tempos de quase normalidade, cálculos políticos de outros tempos, sustentados pela intuição, diriam que Braga Netto não deveria ser o vice de Bolsonaro.

Com tantos escândalos envolvendo fardados, desde a pandemia, não seria uma boa hora para chamar mais um general para o ativismo político.

Mas hoje os calculistas que se baseiam em pesquisas científicas poderão dizer que temos fatos que são apenas quase escandalosos.

Temos o quase escândalo do Viagra superfaturado, somado à divulgação dos áudios com falas sinistras de ministros do Superior Tribunal de Justiça em sessões dos anos 70 e 80.

O Viagra e a tortura quase causam impactos. Quase provocam indignação. Mas, no geral, na média da população que reflete a partir do que ainda se chama de senso comum, talvez não signifiquem muita coisa.

Mesmo assim, especulam sobre a possibilidade de Braga Netto ficar de fora. Seria um jeito de proteger as Forças Armadas da exploração de tudo que envolve os militares (incluindo as quase esquecidas quadrilhas das vacinas) e de proteger o próprio Bolsonaro.

Cálculos políticos, mesmo que precários, recomendariam que Bolsonaro não tire de Braga Netto a chance de ser um vice militar talvez com o protagonismo que Hamilton Mourão não teve.

Bolsonaro não teria tanta autonomia para tirar o general da sua chapa e mexer na base militar que o sustenta e o tutela desde o início do governo.

A presença de Braga Netto pode ser um bom pretexto para a classe média vacilante, diante da dúvida se volta ou não a apoiar um sujeito que potencializou seu perfil de fascista e genocida.

Ah, mas tem a Damares Alves como plano B. Tem, mas não é bem assim. A mesma classe média que poderia engolir um militar da linha dura talvez não faça igual concessão a uma neopentecostal da barra pesada que está com Deus acima de tudo.

Bolsonaro e seus calculistas poderão fazer a seguinte conta. Viagra e tortura são temas para quem está acima dos 40 ou 50 anos. São assuntos que pertencem ao catálogo de interesses da classe média.

O grande resto – o povo sem gás, sem luz e sem emprego e os jovens sem título de eleitor – quer alguma renda e sossego. Os ricos são querem ser ricos.

A geração da resistência envelheceu e não há substitutos para transformar a indignação em ação política fora das redes sociais, como aconteceu no Chile.

Os caras-pintadas estão hoje com idades ao redor dos 50 anos. Muitos que foram às ruas pelas Diretas Já são agora sessentões ou quase setentões.

Depois disso, tivemos as ruas de 2013, mas essa é uma outra história. Falta a todos nós a chance de olhar para quem está ao lado e enxergar alguém que, com vitalidade física e com o destemor da juventude, faça o que já foi feito pela democracia em outras épocas.

Então, Bolsonaro ainda não precisa se preocupar muito com os riscos representados por Braga Netto, porque as próximas pesquisas podem indicar o que a extrema direita prevê.

Vai se confirmar que a faixa de apoio de Bolsonaro continua inalterada e que o segundo turno é outra guerra.

É quase imexível o contingente que se acomoda na resignação da classe média conservadora, com parcela que um dia até foi de esquerda, e no conforto que o Auxílio Brasil oferece aos mais pobres.

Não há com o que se preocupar com o efeito das indignações. Falta disposição para a luta, e o tempo, que às vezes acelera o passo, tem sido cruel.

Entre o golpe de 64 e o início da mobilização que levou às Diretas Já, passaram-se menos de 20 anos. O tempo hoje consome percepções, sentimentos e resistências como nunca consumiu.

Escândalos envolvendo militares e revelações sobre torturas podem dizer muito para quem tem a memória política de períodos de exceção explicitada.

E não dizem quase nada para quem não percebe que vive sob anormalidade. É a realidade do Brasil em que os torturadores da ditadura voltam a ser assunto.

O país sob todo tipo de tortura, entre as quais a do esquecimento, não tem a compreensão de que está sendo torturado.

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