Maria Luiza Franco Busse avatar

Maria Luiza Franco Busse

Jornalista há 47 anos e Semiologa. Professora Universitária aposentada. Graduada em História, Mestre e Doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação sobre texto jornalístico e tese sobre a China. Pós-doutora em Comunicação e Cultura, também pela UFRJ,com trabalho sobre comunicação e política na China

83 artigos

HOME > blog

Uma flotilha para a Venezuela

A Venezuela é uma república em que Estado e povo caminham juntos

Venezuela: tudo o que a mídia esconde de você (Foto: JUAN BARRETO)

Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, o país tem um presidente assassino, réu confesso por antecipação. Seria apenas extraordinário, se não fosse incrível, ouvir o mandatário informar, em rede internacional, que a CIA está autorizada a fazer “operações secretas” no território da Venezuela. Isso significa que a Agência Central de Inteligência não mais cometerá crimes sem assinatura. Bombas, envenenamentos, atentados, torturas, roubo de documentos, sequestros e homicídios dolosos levarão o carimbo da prática corrente do serviço de espionagem que, há 47 anos, desestabiliza e derruba governantes que contrariam os interesses do imperialismo que vem do Norte.

Sempre foi fácil identificar as ações da CIA, mas a falta de prova material impedia acabar com as dúvidas. Deixar rastro explícito é coisa de dono de boca, chefe de facção de tráfico de drogas, que anuncia o extermínio, mata e mostra o arsenal como manda o código de conduta que assegura o poder pela intimidação, medo e barbaridade de toda ordem. Entretanto, diante da novidade, os narcotraficantes parecem não estar mais sós. Pode-se dizer que estão diante de um associado ao revés. Ou não. Com a justificativa de combater o narcotráfico, o violador do direito internacional à soberania dos povos dá a impressão de ter tomado gosto pelo método e, assim, quem sabe, ampliar seus negócios dependendo das vantagens apresentadas.

Desde setembro, a costa da Venezuela está cercada por navios fundeados no mar do Caribe. Sampson, Iwo Jima, Gravely e Erie são os nomes dos destroyers, anfíbio e cruzador, que aguardam o comando de ataque. Mais recentemente, dois bombardeiros B-52 sobrevoaram a região. O supersônico que transporta bombas convencionais e nucleares representa o poder da Força Aérea dos Estados Unidos. Na extensa lista de serviços prestados, o B-52 foi usado nas guerras do Vietnã e do Iraque, quando protagonizou a Operação Tempestade no Deserto, transmitida em tempo real pelos meios de comunicação como um videogame, que em terra resultou na destruição de Bagdá e no assassinato — ainda subnotificado — de mais de 200 mil civis. O orgulho da aviação militar estadunidense será aposentado em 2040, mas até lá nem Deus sabe.

O que é possível saber é que o governo dos Estados Unidos mostra disposição de seguir enfrentando as mudanças na regra do jogo que vem garantindo seu lugar de dono do cassino desde o final da Segunda Guerra Mundial. Os sócios estimulam o empenho. A Noruega deu o Nobel da Paz a uma Maria-dinamite venezuelana, golpista com tradição de incendiar o país, fazer qualquer negócio para derrubar a democracia popular da República Bolivariana e sem vergonha de entregar ao estrangeiro a exploração e o comércio das jazidas nacionais de petróleo. A Noruega é membro-fundador da OTAN e explora petróleo e gás no Brasil por meio de sua estatal Equinor. A nova laureada dedicou o prêmio ao presidente estadunidense e apelou para que invadisse a Venezuela.

A Venezuela é uma república em que Estado e povo caminham juntos. Uma China com características caribenhas, digamos assim. Neste tempo de alta tensão, a população está armada e de prontidão, firme como uma muralha para barrar a ofensiva. A luta de resistência do povo venezuelano vale um sumud tropical.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados