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Eduardo Henrique

Eduardo Henrique é reverendo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), graduado em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco

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Uma luz ao que reluz: um olhar sobre a fala de Luana Araújo

A sua participação na CPI da Covid foi importante por ser a presença de uma iluminista clássica em um contexto de ‘Idade Média’, onde campeia o obscurantismo e negacionismo em que estamos, mas seria complicado esperar mais que isso

Infectologista Luana Araújo (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

A médica Luana Araújo, com sua fala ontem na CPI da Covid, apresentou-se dentro dos moldes do pensamento iluminista clássico! Logo, ela acredita na ciência. O que é muito bom dentro do cenário em que estamos. Mas pareceu ser uma voluntarista, permitam-me dizer. Sua fala aponta para alguém que, por ‘valores patrióticos e pessoais’, oferece seus sólidos conhecimentos científicos diante da grave realidade da pandemia sem levar em conta as razões políticas que produzem tal situação.  

Dentro do cenário de rebaixamento teórico, ela pode parecer um alento. Mas o seu lugar de ‘neutralidade’ científica, em sua ‘verdade epistemológica imaculada’, a leva a se afastar da sujeira da arena política. Ela afirma a importância do método científico, que nos afasta da borda da Terra Plana, o que é muito bom, mas ao não querer questionar as bases políticas que produz o negacionismo soa ingênuo. Essa "neutralidade política" dela, para ‘além do bem e do mal’, pode soar para algumas pessoas desavisadas algo bom, mas não é. Ela condena o ‘discurso cloroqueiro’, mas esquece as bases ideológicas e políticas que o produz. Observe como ela nega o termo “negacionista”!  

Ela é uma excelente cientista, isso não há sombra de dúvida. Seu humanismo iluminista pode soar inspirador, mas depois da bomba atômica soa simplório. Ela apresenta-se acima das ideologias, do lado da verdade científica; logo não sendo nem de direita, nem de esquerda. A que lugar essa postura nos leva? A sua participação na CPI da Covid foi importante por ser a presença de uma iluminista clássica em um contexto de ‘Idade Média’, onde campeia o obscurantismo e negacionismo em que estamos, mas seria complicado esperar mais que isso. 

Ela parece partir da ideia que Bolsonaro e sua equipe podem mudar através da informação e da educação. Ela se dispôs inclusive a colaborar com tal governo pois, pelo que expressou, acreditou que através do uso da ‘Razão Pura’ poderia produzir uma mudança no governo e a consequente melhoria da situação do povo. Isso dito, fica um questionamento: ela ou é uma ingênua voluntarista, que acredita que pode mudar um governo de extrema direita, através de seu discurso técnico - científico (como esperavam os pensadores humanistas / iluministas do século XVIII que acreditavam que poderiam educar os reis e seus governos, para mudar a realidade) ou ela é uma pessoa ‘esperta’ que acredita que pode ser mais real que o rei! Quem sabe assim salvar o governo e o projeto neoliberal através de uma dose de racionalidade. Dar um verniz técnico (como faz o atual ministro da saúde) para salvar o que resta de projeto eleitoral da direita para 2022.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.