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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Uma pedra no sapato

Graças à firmeza do funcionário Marco Antônio Lopes Santanna, se impediu a prática de uma ilegalidade do então Presidente da República

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil | Isac Nóbrega/PR)
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Há temperamentos que enfrentam tsunamis. São pessoas que, postas à prova, em certas circunstâncias, crescem acima do cotidiano e se mostram superiores, imbatíveis, incapazes de ceder sob qualquer pressão. Além de tudo que o cerca de lamentável no episódio do colar de pedras preciosas de Bolsonaro, “presente” da Arábia Saudita, ao lado da vassalagem geral dos militares que trabalhavam com ele, ressalta a energia do funcionário Marco Antônio Lopes Santanna. Graças à sua firmeza, se impediu a prática de uma ilegalidade do então Presidente da República, do Ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque e do Ajudante de Ordens Mauro Cesar Barbosa Cid, além de outros de patente menor. Numa rebelião de burocratas a pedido do chefe, todos compareceram aos escritórios da alfândega do aeroporto de Guarulhos com a missão de se apoderar de um conjunto de pedras preciosas. 

Sem alarde, sem arrogância, mas com a convicção de que se achava no lado correto da situação, o funcionário se preparou para o tsunami dotado apenas da força de seu temperamento e da experiência, da convicção de que desempenharia suas funções com a energia necessária. Os últimos lances do episódio coincidiram com o fim da gestão anterior. Dois dias depois, o Ex estaria num avião da FAB voando para um refúgio previamente escolhido em Orlando, nos EUA. O velho capitão, improvisado no cargo de primeiro mandatário do país por quatro anos, desejava carregar como seu o tal colar por todas as normas pertencentes ao governo e não ao seu ocupante eventual.

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Por incrível que pareça, a pedra no sapato de Bolsonaro não era preciosa, apenas aparentada aos exageros que havia praticado nas coisas públicas. A pedra tinha nome, endereço e CPF, com atribuições específicas à testa da Alfândega de Guarulhos, capaz de resistir inclusive ao Chefe da Receita Federal, que também tentou pressioná-lo. São contradições que vivemos na crônica dos tempos em nossa História. Quando tudo parece dar errado, uma novidade, uma simples pessoa, pode surgir para pôr um freio no desvario. Nas últimas eleições, é claro que Jair Bolsonaro, seus filhos e seguidores erraram pela certeza de ganhar. Estavam habituados às regalias do poder e não queriam abrir mão delas. Por isso, o resultado, com a vitória de Lula, se expandiu em frentes variáveis de inconformismo, inclusive através do sargento designado para uma derradeira carteirada para liberar as joias. Ele diz ao funcionário atrás do guichê que não se podia “deixar nada” para o sucessor, daí a urgência de resolver os problemas do famoso colar. Não adiantou. 

O servidor não se sensibilizou. Ou se obedecia às normas – e as pedras de 16 milhões ficariam de posse do governo - ou continuariam assim, sem resolver o impasse. Os vários telefonemas no celular, convocando o próprio Chefe da Receita, caíram no vazio. O rapaz atrás do balcão não falava ao telefone. Era um muro que se erguia no maremoto. Não cedia e não cederia. Graças a ele, este homem de temperamento e de coragem, o republicano Marco Antônio Lopes Santanna, a imprensa tomou conhecimento do assunto. O ilustre exilado em Orlando deve estar sofrendo com a pedra no sapato. 

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