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Jose Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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Uma saída para a Argentina

A compra adiantada pelo Brasil de produtos argentinos, conforme acordo feito por Lula, é uma importante contribuição para que ela compense a queda na produção

Fabiola Yáñez, Alberto Fernández, Luiz Inácio Lula da Silva, Janja da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
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Se tivesse uma oportunidade de dar um conselho ao presidente da Argentina, Alberto Fernández, aproveitando sua visita ao Brasil, começaria por uma lição primária sobre as razões de um processo inflacionário tão agudo quanto em seu país. Trata-se simplesmente de mostrar que a inflação, ao contrário do que querem nos impor os neoliberais, não decorre normalmente de um fenômeno monetário, mas é fruto sobretudo do desequilíbrio entre oferta e procura de bens e serviços no mercado.

A ideia de que a inflação é um fenômeno monetário que, em última instância, resulta do déficit público – o que, por sua vez, implica gastos do Governo acima de suas receitas -, decorre de um preconceito ideológico que remonta ao monetarismo clássico de Milton Friedman. Esse economista norte-americano praticamente reinventou o liberalismo radical no mundo sob a forma de neoliberalismo. E com isso travou as políticas econômicas, especialmente dos países em desenvolvimento.  

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Não é difícil provar que a inflação não pode ser um fenômeno monetário. É só imaginar o que acontece quando há um aumento no preço do pão francês – ou de qualquer outro produto no mercado. Só um idiota vai imaginar que o pão francês aumenta de preço em consequência do déficit público, mesmo que trilionário. Não haveria relação entre uma coisa e outra, exceto quando ao déficit corresponde um desarranjo completo da economia, levando a uma desvalorização cambial extrema.

Quando há esse desarranjo total da economia o Governo perde os instrumentos clássicos de intervenção no sistema produtivo, inclusive o recurso a importações, a fim de financiar investimentos. Não há como aumentar a produção tanto pelo lado do setor público quanto pelo lado privado, pois ambos não têm moeda estrangeira em quantidade suficiente para ampliá-la. A economia entra em colapso, pois também os investidores e emprestadores estrangeiros desaparecem.  

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Já quando ao déficit corresponde investimentos produtivos responsáveis do Governo, seu aumento induz o da produção. Oferta e demanda de mercado se equilibram, estabilizando os preços. O pior seria quando os gastos do Governo se concentrassem em infraestrutura, e não em bens de consumo popular. Nesse caso, haveria, a curto prazo,  aumento do custo de vida. Esse efeito, contudo, poderia ser facilmente corrigido pelo planejamento, estimulando a produção de bens de consumo.  

 Portanto, meu conselho ao presidente Fernández seria de extrema simplicidade:  primeiro, tente equilibrar a produção de bens de consumo popular com a demanda de mercado. Segundo, se for impossível, recorra a empréstimos externos para completar a produção interna e financiar a compra desses bens, de forma emergencial, mas evitando “queimar” o dinheiro na especulação financeira; e terceiro, evite de toda a forma reequilibrar o mercado por cortes na demanda. É autofagia.  

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Dessa forma, a Argentina voltará a ser uma economia produtiva em lugar de uma economia especulativa, dominada pelo neoliberalismo. Entretanto, ela não terá como evitar, hoje, os efeitos que três anos de seca tiveram sobre sua produção alimentar. Terá, assim, de passar por uma etapa de transição, e nisso o Brasil pode ajudar. A compra adiantada pelo Brasil de produtos argentinos, conforme acordo feito por Lula, é uma importante contribuição para que ela compense a queda na produção.

Essas premissas deveriam se estender às políticas econômicas de todos os países em desenvolvimento que foram submetidos às regras draconianas do Fundo Monetário Internacional desde a explosão da dívida externa no início dos anos 40 do século passado. Pelos critérios do Fundo, a normalização de um mercado desequilibrado só pode ocorrer com a redução da demanda. Isso é uma falácia, e uma tremenda carga recessiva que se impõe aos países pobres e em desenvolvimento.

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A consequência política que se pode extrair disso é a valorização do grupo BRICS como alternativa ao Fundo. Isso faz parte da mudança da hegemonia do dólar em favor da que está sendo formada em torno da China, líder do BRICS, com suas reservas fantásticas de 3,2 trilhões de dólares - capazes de sustentar um novo esquema monetário planetário. Que Fernández, portanto, se apresse: o melhor conselho que posso lhe dar é que entre imediatamente para os BRICS!  

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