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Marconi Moura de Lima

Professor, escritor. Graduado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Prof. Damásio de Jesus. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Leciona no curso de Agroecologia na Universidade Estadual de Goiás (UEG), e teima discutir questões de um novo arranjo civilizatório brasileiro.

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Uma síntese da distopia que é o Governo Bolsonaro

Se você ainda carrega no peito indignação com as injustiças sociais, sentirá um pouco de dor ao ler este poema abaixo

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Hoje o artigo que lhes apresento é na verdade uma poesia crônica. 

 Se você ainda carrega no peito indignação com as injustiças sociais, sentirá um pouco de dor ao ler este poema abaixo. Todavia, sentirá também energia para alimentar a luta, a resistência a fim de corrigirmos as mazelas e cruezas de nossa neo-colonização avocada pelo modelo distópico e também sistematicamente ultra liberal do governo do Presidente Jair Messias Bolsonaro.

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Não vamos perder tempo. Convido-as/os para irmos direto à leitura rítmica desta poesia:

 

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Pesadelo Multitransversal 

Não!

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Resistência Multitransversal... 

Tempo de dor infernal.

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A vulnerabilização das vidas 

 [ mais frágeis

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 [ nunca foi tão flagrante.

 

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Cínicos santos do pau-oco.

Rezam em templos sacros,

Mas mandam aos sacos,

Ossos para pobre comer,

Ou morrer de fome é a opção

 [ a mandarem aos sacos

 [ restos de gentes.

Cancelam CPFs inocentes 

 [ e riem num cruel tesão. 

 

Essa é brasileira nação

Acima de tudo,

Até de Deus

Que Chora os Seus.

 

Sonhei essa noite.

O açoite comia meu lombo.

Tombo secular.

Estava dentro de uma caravela

 [ voltando da África.

Roupas e gentes estranhas,

 [ damas tacanhas de laço

 [ ao pescoço;

 [ elegantes moços de terno torto.

Esperavam-me solenemente no porto.

Achei sorrindo ser importante.

Que recepção!

 

Como vulto, a cena se refaz.

A escravização.

Olhei ao lado,

Irmão

E irmã,

Ligados por correntes

E sequelas nas costas.

Fomos cortejar o canavial.

Trivial o acúmulo de riqueza 

 [ que eu e os meus

Produzíamos.

Optamos por dar essa fortuna ao homem do chicote

Que gentilmente nos dava um pote

 [ com restos de comida estragada,

E mais uma infindável chicotada!

 

Estranho.

Era um canavial na Esplanada dos Ministérios,

Não tinha mais grama.

Somente cana

E grana espalhada pelo pátio de céu infinito.

Um labirinto ao lado

Que dava para salas de pelourinhos.

Mas tinha um passarinho em cada topo do castigo.

Servia de abrigo.

Um horizonte manchado de sangue 

 [ e tingido por esperança.

Quase não se via criança.

 

Na saída do labirinto

Achamos uma multidão de famintos,

 [ irmãos negros;

 [ irmãos brancos;

 [ irmãos outros

Com as mãos estendidas como um pedido

 [ de clemência.

 

A demência era o regime de Governo da paisagem.

Uma Praça na passagem.

Corremos para todos os lados.

Saindo da marronagem.

 

Vimos estátuas de uma pessoa cega.

Deficiente?

Não!

Sim!

Experiente...

Mas calada ao extremo tremor,

Digo: temor!

 

Vimos uma barca virada para baixo:

Era a caravela que nos trouxera.

Finalmente tombada.

Casco branco na água molhada?

Contudo, a vimos virada de volta,

Navegada,

Do outro lado das torres gêmeas.

Gememos:

Mais açoite.


À noite, nos seguira um ser mitológico.

Era uma besta de duas cabeças

Ao rigor de coités cortadas ao meio.

Numa das cuias, 

 [ moscas avistavam a lavagem dentro;

Na outra, 

 [ um vazio de entristecer Aruanã.

Ria o bicho retardado retardando 

 [ o seio que amamentava um bebê.

 

Vê!

Avistamos a rampa 

Que dava para uma luz intensa.

Tensa adrenalina a sina de uma marronagem.

Funil!

Fuzil!

Fomos recebidos à bala de feijão 

 [ temperado de pólvora.

Não nos matavam de uma vez:

Era arrancando a pele suavemente 

 [ até a carne ficar exposta ao sol.

Carne de sol para o churrasco

Do carrasco 

E da menina do laço, aquela...

Aquarela dançante no interno

 [ em câmera lenta

 [ de um “rialiti-chôl”.

 

Votaram um rol de medidas,

Os homens das caravelas

E os homens das caras velhas 

 [ e pálidas 

Atacaram!

 

A perda de direitos de todos os lados.

É um pesadelo daqueles que você sonha

 [ estar dentro de outro pesadelo.

 

Estávamos cercados 

 [ de leões de um lado, 

 [ de hienas de outro, 

 [ de lobos atrás

 [ e talibãs tupiniquins armados adiante.

(Ainda tinha uma manada de gado

Fazendo barreira.

Ou era barrela?)

Mas todos, com frio, vestiam cordeiros.

 

Cordeiro de Deus,

Que tirais os pecados do mundo:

Tende de piedade de nós!

Gritávamos na fila do abate!

 

Já não tínhamos casa;

Trabalho;

Comida;

Mobilidade.

Oportunidade?
Liberdade?

Somente langor e o grito da resistência

Diante daqueles quatro lados

Cercados de desgraçados,

Digo: desgraçantes, 

 [ os que tiram as graças alheias.

 

Correr é quase a última semântica do respirar,

 [ mesmo sabendo que restará à traiçoeiras

 [ apenas uma bala na nuca desprotegida

 

Dos trabalhadores e das trabalhadoras

 [ e suas intergerações coloniais,

Mais conhecidas como filhos da revolução

Que, talvez, um dia virá...

Até lá,

A distopia,

A agonia,

O labirinto,

O minto (digo: mito!),

O canavial

E essa elite boçal 

 [ que ocupa o meu e o seu lugar na vida...

E nesse sonho estranho,

Onde me banho no espelho d’água e sangue

No mangue da Praça dos Três Espíritos ruins

 [ que governam à demência...

 

Por outra clemência:

Alguém me acorde,

Antes que eu morra no translado

Ao pesadelo multitransversal 

Que veio parar dentro da minha realidade surreal...

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