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Ayrton Centeno

Jornalista

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Uma viagem fantástica ao rodapé da História

"É mais um que vai para o Rodapé da História". Cada vez mais, tenho certeza, vocês estão ouvindo essa frase. Com a frequência, concluí que o Rodapé da História vivia um problema. Sendo a História um imenso e alto edifício erguido durante a longa marcha da humanidade por esse vale de lágrimas, sofria superlotação na sua base

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"É mais um que vai para o Rodapé da História". Cada vez mais, tenho certeza, vocês estão ouvindo essa frase. Com a frequência, concluí que o Rodapé da História – chamá-lo-emos (obrigado, Michel) com maiúsculas para conceder-lhe a devida importância -- vivia um problema. Sendo a História um imenso e alto edifício erguido durante a longa marcha da humanidade por esse vale de lágrimas, sofria superlotação na sua base. Aflito, contatei o agente imobiliário que administra o Rodapé da História. Cheguei a ele depois de tremendo esforço jornalístico e de subornar as pessoas certas. Encontrei-o num banco de praça, lendo um jornal que cobria o seu rosto. "Sente-se aí", ordenou. "Ligue o gravador, não olhe pra mim, abra esse outro jornal na sua cara e vamos conversar lado a lado". E assim ficamos. O resultado do diálogo foi o seguinte:

P – Por que temos que conversar desse jeito?
R – Não quero ser visto. Sou muito assediado. Muita gente deseja um lugar no Rodapé da História Hall of Fame.
P – Hall of Fame?
R – Sim, foi exigência dos rodapezistas. Acham que assim fica mais charmoso.
P – Mas quem o assedia?
R – Você não imagina. Figurões de todo tipo. Agora mesmo estamos com uma demanda brutal do Judiciário e do Ministério Público Federal. Uma loucura.
P – É mesmo? Quem é o mais recente inquilino do Rodapé da História?
R – O Moro, claro. Na verdade, há tempos ele andava olhando os apartamentos. Até que escolheu um tríplex. Tinha que ser algo espaçoso para acomodar as comendas que ganhou da Rede Globo, da OAB e da Fiesp, os cartões de Natal da Míriam e do Sardenberg, a coleção de cartas de amor do José Padilha...
P – Quem mais está no Rodapé?
R – Fernando Henrique. É o nosso decano.
P – E ele também mora bem?
R – Ulalá! E como! Seus aposentos têm um janelão para o Bois de Boulogne e outro para os Jardins. Sente-se à vontade, como pinto no lixo. Seu cursinho de boas maneiras é um sucesso. Ensina os moradores a não cometerem gafes imperdoáveis à mesa como trocar os talheres de peixe pelos de carnes silvestres. Também orienta uma oficina de tarantela. Viaja sempre ao século 17 e volta cheio de novidades. Adora. "Ai, se eu pudesse eu moraria lá. Aquelas perucas empoadas, aqueles punhos de renda...", me confessou dia desses o Pó de Arroz...
P – Pó de Arroz?
R – Você não sabia? Quanta ignorância! Foi o Brizola que botou o apelido nele. Sacou antes qual era a do Fernando...
P – Por falar nisso, o Aécio também está no Hall of Fame?
R – Está brincando? Não passa um dia sem que me ligue pedindo para lhe arrumar algo por aqui, nem que seja uma quitinete. Ele é o mais chato. Tem fila mas fica querendo furar. E não desiste. Vou mandá-lo pro Tugúrio...
P – Tugúrio?
R – Sim, Tugúrio. Covil, buraco, esconderijo. Caraca! Vou pedir pro Attuch e a Gisele não me mandarem mais ignorantes que nem você...
P – Também não precisa escrachar...O que é o Tugúrio?
R – É o primeiro subsolo. Nego que não tem cacife nem para o Rodapé vai para o Tugúrio. É o caso do Mineirinho...
P – E o Bolsonaro?
R – Olha, no começo do ano ele tinha uma chance no Rodapé. Agora, complicou. Já reservou vaga no Tugúrio. Até decorei o cafofo dele com correntes, ganchos de açougue e uns paus-de-arara estilizados. Botei uma coleção do Recruta Zero, cinco caixas de Sukita, um Cruzadex Fácil e o álbum de figurinhas Idolos do Terceiro Reich. Acho que vai gostar.
P – Quem mais está no Tugúrio?
R- Xi... um povo todo. Isso que lá não tem ar condicionado nem varanda gourmet. O Dallagnol queria ir pro Rodapé mas não rolou. Está lá no Tugúrio com o Barbicha do MPF, o Paulo Skaf, a patota do TRF4, um punhado de gente do STJ e do STF...
P - Você falou STF...Por acaso, a Carmen Lúcia está lá?
R – Não. Ela está no Charco's Place com o Fux, o Barroso e o Fachin...
P – O que é isso?
R - É o segundo subsolo, abaixo do Tugúrio. No Charco's Place não tem luz elétrica, só lamparina a querosene. Como os vazamentos de esgoto são permanentes, seus moradores vivem com uma água escura batendo nos fundilhos. Não é muito divertido. Mas é o lugar que encontraram no edifício da História...
P – Quem mais está no Charco's Place?
R – O Cunha, por exemplo. Mais o Temer, o Geddel, o Jucá, o Paulo Guedes, o Merval...
P – O Merval? Mas ele é imortal...
R – Meu foca, faça-me o favor...Ele é Imortal da rua Lopes Quintas, ali no Jardim Botânico. Não passa dali. Não chega à Gávea. É Imortal de Arrabalde...
P - E quem mais?
R - ...a Regina Duarte, o Olavo de Carvalho, os filhos do Roberto Marinho, aquele Roger cantador de iê-iê-iê que não lembro o sobrenome. Também o Ustra, o delegado Fleury e, claro, o Toffoli. Ah, e ainda o Ronaldo Fenômeno...
P – Ué, ele também?
R – Depois que gravou aquela propaganda dizendo que o Aécio era honesto e ia consertar o Brasil, quis entrar pra História mas não deu pé...Expliquei que havia muita gente boa acima dele: Pelé, Messi, Maradona, Biro-Biro... Foi direto pro Charco's Place.
P – Ainda mais depois que tomou aquele chapéu do Zidane na Copa do Mundo de 2006...
R – Putz! Você também lembra daquilo como última imagem dele jogando bola? Pois, eu também. O chapeuzinho do Zidane...
P - A gente falou muito do Rodapé, do Tugúrio e do Charco's Place mas pouco do que tem acima.
R – O edifício da História é em forma de pirâmide. Mais espaço em baixo e, conforme vai subindo, menos em cima. E tem outra particularidade...
P – Qual?
R – No Rodapé todos estão mortos, inclusive os vivos. Acima do Rodapé, todos estão vivos, inclusive os mortos.
P – Dê um exemplo de quem está lá em cima.
R – O Getúlio. Veja, ele se matou em 1954... Disso pelo menos você sabe, né? Pois bem, 65 anos depois, o Gegê está vivíssimo. Detonaram o Brasil que ele queria construir em 1954, depois em 1964 e agora em 2016. Mas quando começar a reconstrução vão lembrar sempre dele. A História guarda. A História não esquece. A História é foda, meu...

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