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Roberto Xavier

Cientista Político, Mestre em Gestão de Políticas Públicas

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Vamos aos números

Há notícias muito ruins, mas há coisas muito boas também

Lula e Bolsonaro estão em empate técnico no Rio e SP 16/08/2022 (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
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Bom, enquanto alguns preferem analisar pesquisas cada vez menos confiáveis, eu prefiro analisar os resultados do 1º turno e compará-los com as eleições passadas. Com certeza não é o melhor método de projeção, mas nestes números eu confio mais que em dados de pesquisa.

Há notícias muito ruins, mas há coisas muito boas também.

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A principal constatação ruim é que o Bolsonarismo cresceu eleitoralmente e hoje é muito maior do que supúnhamos, principalmente pelos equívocos metodológicos das Pesquisas que nos induziu a erro, mas não vou crucificar ou criminalizar os Institutos porque entendo que o problema é muito mais metodológico que ideológico. Já falei longamente sobre isso aqui nesse espaço. Se tiver interesse aqui o link para o artigo.

Em relação ao 1º turno de 2018, os votos em Bolsonaro cresceram 3,6% em números absolutos, mas caíram 2,8 pp, de 46,0% para 43,2%. Explicar que 46,0% dos eleitores tenham decidido votar em um candidato desconhecido como Bolsonaro em 2018 é relativamente fácil, mas explicar por que seu eleitorado aumentou em 1,8 milhões de votos, apesar de quase 700 mil mortes por Covid, da volta da inflação e da fome, dos ataques sistemáticos à democracia e às Instituições e da ascensão à condição de pária internacional é uma tarefa que não dou conta. Nem tento.

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Outro ponto ruim do crescimento do Bolsonarismo é que a reboque dessa votação impressionante foi eleito um Congresso ainda pior do que o atual, o que significará muitas dificuldades para um eventual governo Lula e um risco permanente de abertura de um processo de Impeachment, independente de crimes de responsabilidade. Já vimos que isso não é mais necessário para se iniciar um processo.

Mas vamos aos pontos positivos. O PT mais que recuperou seu eleitorado histórico. A votação em Lula, em números absolutos em 2022, foi 82,7% maior que em 2018 e o PT obteve 9,6 milhões de votos a mais que em 2010, quando obteve a maior quantidade de votos em um 1º turno. 

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Em termos relativos, ou seja, em percentual de participação nos votos válidos, os 48,4% obtidos agora só foram menores que a participação conseguida em 2006, no 1º turno da eleição que reelegeu Lula em 2006, mas diferença foi mínima: 0,2 pp.

Muito desse desempenho excepcional se deveu a manutenção da fortaleza histórica em termos eleitorais que é o Nordeste e a retomada da liderança no Norte do Brasil, mas também e sobretudo pela retomada da posição do Partido em São Paulo. 

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Apesar da derrota para o Bolsonarismo no estado, os quase de 10,5 milhões de votos de Lula no foi 15% superior a maior votação registrada em 2002 quando Lula recebeu 9,1 milhões de votos e 56% maior que a votação de Haddad em 2018. Isso significa que dos 6,2 milhões de votos a mais em relação à Bolsonaro que Lula recebeu nessa eleição, 4,6 milhões, em tese, vieram da recuperação do eleitorado paulista.

Agora pensando em projeções para o 2º turno, temos que entender e aceitar que os votos de lado a lado, dados a Lula e a Bolsonaro, estão consolidados. É muito pouco provável que alguém que votou em Bolsonaro no 1º turno, agora mude para Lula e vice-versa. Não existe esse negócio de “virar voto”, não quando o Centro Democrático foi completamente tragado pela Extrema Direita

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Portanto, os eleitores em disputa são aqueles que deram seus votos aos demais candidatos, cerca de 8% do total, e os que se abstiveram da votação, que foram aproximadamente 21% do total de eleitores aptos. Só para se ter ideia de como essa eleição está cristalizada entre Lula e Bolsonaro, em 2018 o total de votos dados a outros candidatos foi de 26,4 milhões de votos. o que representou 24,6% do total de votos em disputa, ou seja, 3 vezes mais que agora. O índice de abstenção praticamente não mudou.

Dos que votaram em outros candidatos a conta não é muito complexa: os votos dos candidatos de Direta, Soraya Thronicke, Luiz Felipe d'Avila, Padre Kelmon e Eymael irão naturalmente para Bolsonaro. Esses candidatos totalizaram quase 1,3 milhões de votos. Já os votos dados aos candidatos de Esquerda, Leonardo Péricles, Sofia Manzano e Vera Lúcia que serão absorvidos por Lula é bem menor, foram apenas 125 mil votos.

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A projeção complica um pouco quando analisamos os votos dados ao que se tentou classificar como 3ª Via. Simone Tebet e Ciro Gomes receberam juntos 8,5 milhões de votos. Na eleição passada a divisão dos votos de outros candidatos entre Haddad e Bolsonaro no 2º turno foi de 2 por 1 em favor do petista, mas mesmo impressionante, não foi o suficiente para uma virada. Já nas eleições onde os adversários no 2º turno foram candidatos do PSDB, os votos dos eleitores da chamada 3ª Via somados aos demais candidatos, no 2º turno se dividiram entre PT e PSDB, com ligeira vantagem para os tucanos. Em média 43% foram para o candidato de PT e 57% foram para o candidato tucano. Mas eram outros tempos, eram tempos mais civilizados.

Considerando uma média entre essas duas tendências e por se tratar de uma projeção, preferi ser até um pouco mais conservador e distribuí os votos na relação 60 / 40 em favor de Bolsonaro.

O motivo para considerar a proporção da média histórica nas disputas entre PT e PSDB e não a da eleição de 2018 é porque a última eleição foi um ponto fora da curva em relação a todas as anteriores.

Também temos que considerar que o Bolsonarismo tem uma atuação muito mais agressiva nas redes sociais e terá a atuação dos Deputados, Senadores e Governadores eleitos em seu favor nas suas bases, por um lado, e que já houve um movimento de voto útil em favor de Bolsonaro para evitar uma vitória de Lula no 1º turno e também porque há uma tendência de haver uma ampliação do total de votos válidos entre os dois turnos, mas que esses votos novos não representarão mais de 2% do total, por outro. Tendo essas premissas em mente arrisco fazer a seguinte projeção para o resultado do 2º turno:

• Lula / PT – 61,972 milhões - 51,39%

• Bolsonaro / PL – 58,622 milhões -   48,61%

Projeção feita considerando apenas votos válidos e considerando também que, historicamente a tendência é que o total de votos diminua entre o 1º e o 2º turno na proporção 2%, será revertida e haverá um crescimento nessa mesma proporção.

O ponto de inflexão da curva se dá abaixo de 38%, ou seja, somente se a campanha do PT não conseguir manter o total de votos do 1º turno e atrair pelo menos 2 de cada 5 votos dados aos demais candidatos, exceto Bolsonaro, obviamente, Bolsonaro passa ter uma chance real de virar a eleição no 2º turno.

Ou seja, será uma eleição muito disputada como foi a última confronto entre PT e PSDB com Dilma e Aécio, mas com reais possibilidades de vitória do PT e do fim do pior governo da história do país e a volta de Lula e do PT e do seu projeto de inclusão social e redistribuição de renda, apesar do Congresso ultraconservador que foi eleito, mas isso é assunto para outra análise.

Agora é torcer para que as escolhas para o 2º turno sejam acertadas, que a militância, sobretudo em SP, entre de fato no jogo e as comparações dos 16 anos de governos petistas em relação ao governo Bolsonaro no horário eleitoral, nos debates e também nas Mídias Sociais possam anular o que a militância digital bolsonarista e a força conservadora do Brasil profundo farão para tentar viabilizar a virada de Bolsonaro.

Em 2014 e 2018 fiz essa mesma projeção, na primeira acertei na vírgula e na segunda errei feio, mas ninguém podia acertar aquele desastre. Vamos ver como será dessa vez.

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