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Alex Solnik

Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

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Vão dar o coice na Dilma

Tudo converge para o TSE salvar Temer e aprovar a inelegibilidade da ex-presidente. Todo o episódio é absolutamente surreal, desde o início. O final será surrealista, com certeza. Tal como no impeachment, esse não é um julgamento cem por cento jurídico, mas cem por cento político

dilma (Foto: Alex Solnik)

Aquela frase antológica de Renan Calheiros quando foi consumado o impeachment de Dilma ainda ecoa no Senado:

"Na minha terra se diz: derruba, mas não dá coice"!

Naquele dia eles derrubaram a presidente; agora vão dar o coice.

Mulas não faltam para fazer o serviço.

Tudo converge para o TSE salvar Temer e aprovar a inelegibilidade da ex-presidente.

Todo o episódio é absolutamente surreal, desde o início. O final será surrealista, com certeza.

Aécio Neves, que perdeu a eleição e entrou com pedido de cassação da chapa vencedora, logo alinhou seu partido ao PMDB, a quem acusava de abuso de poder econômico.

Aliar-se a quem se acusa de crime eleitoral é um ato que renderia algumas sessões no divã de um psiquiatra ou num filme de Buñuel.

Agora ele tenta consertar a lambança e sustenta que somente a cabeça da chapa é a criminosa e seu maior aliado no PSDB, Fernando Henrique tenta colocar panos quentes espalhando a tese de que cassar Temer traria muita confusão.

Ele só não se lembrou de dizer isso quando Aécio, Cunha e Temer, sob sua supervisão tramavam a deposição de Dilma.

É lamentável um ex-presidente da República defender uma solução que viola a constituição.

Mas se trata de enredo surrealista.

Outro toque absurdo: o TSE começa a julgar a cassação da chapa Dilma-Temer transcorridos dois anos de mandato, sendo um, dela e um dele.

A sentença deveria ter saído antes que o mandato começasse, não? Se a opção fosse pela cassação, novas eleições seriam organizadas; se a chapa fosse absolvida todas as especulações acerca da lisura das eleições cairiam por terra.

Mas não. O mandato começou debaixo dessa nuvem negra, à espera de uma tempestade a qualquer momento. Tempo instável, com pancadas de chuva.

Para cúmulo do surrealismo, o julgamento do processo eleitoral ficou para depois do julgamento do impeachment, uma inversão c0mpleta do calendário: se a chapa fosse cassada não haveria mandato nem impeachment.

Tal como no impeachment esse não é um julgamento cem por cento jurídico, mas cem por cento político.

O relator Herman Benjamin passa uma imagem íntegra, culta e competente, mas o atual presidente do TSE, Gilmar Mendes, é amigo íntimo do atual presidente da República e nunca fez questão de esconder essa amizade, nem de mostrar de que lado está. Se a ética prevalecesse ele deveria ser afastado desse julgamento.

Mas nos enredos surrealistas a ética é a primeira que morre.

E vai levar o coice, no fim, quem nunca pediu dinheiro a empreiteiro.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.