Vão dar o coice na Dilma
Tudo converge para o TSE salvar Temer e aprovar a inelegibilidade da ex-presidente. Todo o episódio é absolutamente surreal, desde o início. O final será surrealista, com certeza. Tal como no impeachment, esse não é um julgamento cem por cento jurídico, mas cem por cento político
Aquela frase antológica de Renan Calheiros quando foi consumado o impeachment de Dilma ainda ecoa no Senado:
"Na minha terra se diz: derruba, mas não dá coice"!
Naquele dia eles derrubaram a presidente; agora vão dar o coice.
Mulas não faltam para fazer o serviço.
Tudo converge para o TSE salvar Temer e aprovar a inelegibilidade da ex-presidente.
Todo o episódio é absolutamente surreal, desde o início. O final será surrealista, com certeza.
Aécio Neves, que perdeu a eleição e entrou com pedido de cassação da chapa vencedora, logo alinhou seu partido ao PMDB, a quem acusava de abuso de poder econômico.
Aliar-se a quem se acusa de crime eleitoral é um ato que renderia algumas sessões no divã de um psiquiatra ou num filme de Buñuel.
Agora ele tenta consertar a lambança e sustenta que somente a cabeça da chapa é a criminosa e seu maior aliado no PSDB, Fernando Henrique tenta colocar panos quentes espalhando a tese de que cassar Temer traria muita confusão.
Ele só não se lembrou de dizer isso quando Aécio, Cunha e Temer, sob sua supervisão tramavam a deposição de Dilma.
É lamentável um ex-presidente da República defender uma solução que viola a constituição.
Mas se trata de enredo surrealista.
Outro toque absurdo: o TSE começa a julgar a cassação da chapa Dilma-Temer transcorridos dois anos de mandato, sendo um, dela e um dele.
A sentença deveria ter saído antes que o mandato começasse, não? Se a opção fosse pela cassação, novas eleições seriam organizadas; se a chapa fosse absolvida todas as especulações acerca da lisura das eleições cairiam por terra.
Mas não. O mandato começou debaixo dessa nuvem negra, à espera de uma tempestade a qualquer momento. Tempo instável, com pancadas de chuva.
Para cúmulo do surrealismo, o julgamento do processo eleitoral ficou para depois do julgamento do impeachment, uma inversão c0mpleta do calendário: se a chapa fosse cassada não haveria mandato nem impeachment.
Tal como no impeachment esse não é um julgamento cem por cento jurídico, mas cem por cento político.
O relator Herman Benjamin passa uma imagem íntegra, culta e competente, mas o atual presidente do TSE, Gilmar Mendes, é amigo íntimo do atual presidente da República e nunca fez questão de esconder essa amizade, nem de mostrar de que lado está. Se a ética prevalecesse ele deveria ser afastado desse julgamento.
Mas nos enredos surrealistas a ética é a primeira que morre.
E vai levar o coice, no fim, quem nunca pediu dinheiro a empreiteiro.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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