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André Barroso

Artista plástico da escola de Belas Artes da UFRJ com curso de pós-graduação em Educação e patrimônio cultural e artístico pela UNB. Trabalhou nos jornais O Fluminense, Diário da tarde (MG), Jornal do Sol (BA), O Dia, Jornal do Brasil, Extra e Diário Lance; além do semanário pasquim e colaboração com a Folha de São Paulo e Correio Braziliense. 18h50 pronto

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Venezuela na mira de Trump

A possível invasão da Venezuela parece mais um capítulo perigoso do imperialismo americano do que uma solução real

Donald Trump e Nicolás Maduro (Foto: Leonardo Fernandez Viloria/Reuters I Reuters)

Todos os sinais de que os Estados Unidos vão invadir a Venezuela estão cada vez mais fortes. Desconsiderando a declaração mais contundente de Trump na terça-feira, em que disse que “qualquer país que traficar drogas para os EUA poderá ser atacado”, feeds internacionais especulam sobre uma possível intervenção americana desde o começo de novembro, mesmo sem que o governo tenha apresentado ao público uma justificativa embasada para o envio de combatentes americanos ao conflito.

O maior pesadelo da família americana está cada vez mais real. Sempre se pensa na proporção de mutilados e feridos em relação à mortalidade de soldados americanos. Na guerra do Iraque e do Afeganistão, foram 10 feridos para cada morto, proporção maior que a de todos os conflitos anteriores. Nunca fica claro nas declarações de Trump o que pode realmente acontecer. O presidente americano já disse que não invadiria o Irã e atacou horas depois. Muito do propósito das falas de Trump é jogar verde para não sofrer sanções internas da justiça americana e ver sua popularidade cair. Por isso, apesar de realizar bombardeiros ilegais no Caribe, o presidente americano espera que Maduro, através de pressão psicológica, renuncie.

Uma intervenção direta precisa ser muito bem avaliada, ou seja, não será uma invasão movida apenas pelo temperamento de Trump. Ele mesmo disse que, se for preciso, irão atacar por terra. E para isso, precisa ser muito bem planejada, pois a geografia da Venezuela é complicada, com montanhas protegendo Caracas e o interior sendo de selva amazônica fechada, necessitando de tropas estimadas em 50 mil homens.

A Rússia, que vende armas na ordem de bilhões de dólares para Maduro (como caças SU-30), por outro lado, envia um avião de carga tipo Ilyushin Il-76, com mísseis antiaéreos, para a Venezuela, que não é apenas mais um país em crise. É simplesmente o país com a maior reserva de petróleo do mundo, superando até a Arábia Saudita. Como se não bastassem os 303 bilhões de barris de petróleo, é também o número 1 em reservas de ouro, níquel, ferro, bauxita, lítio e gás natural do mundo. A China também tem aliança com a Venezuela, sendo seu maior comprador de petróleo. A reciprocidade simbólica dos dois grandes países em apoio à Venezuela sempre foi o calcanhar de Aquiles dos EUA.

A desculpa de atacar a Venezuela por causa da guerra contra as drogas é a mesma usada para invadir o Iraque atrás de armas de destruição em massa que nunca existiram. Os Estados Unidos invadiram o Iraque e dilapidaram o país, deixando o governo nas mãos de várias facções, causando o caos. Derrubando Maduro e as instituições do país, criam um vácuo de poder que será preenchido com o tempo pelos cartéis de drogas. Seria como potencializar o comércio de drogas e criar uma guerra permanente contra as drogas, não solucionando o principal motivo alegado para a invasão. Só iria provocar mais problemas do que resolver, com países vizinhos se unindo à Venezuela, imigração em massa para os países vizinhos e instabilidade em toda a região, vide Panamá.

Por que atacar? Trump segue a cartilha do presidente William McKinley (1897-1901), que representou o imperialismo mais cru, com a vitória na guerra Hispano-Americana, tarifas protecionistas e fortalecimento da indústria, o que caracterizou uma prosperidade econômica para o país. Uma das principais prerrogativas, além das tarifas, foi a política externa belicosa, quando conseguiu adquirir as colônias espanholas das Filipinas, Porto Rico, Cuba e Guam. Todas as reservas venezuelanas dariam aos Estados Unidos uma sobrevida à sua recessão atual e poderiam fazer o país ultrapassar o domínio que mudou de mãos para a China.

Custo alto e risco muito grande para os Estados Unidos. Mas podemos esperar qualquer coisa de Trump. Não se deve gritar “incêndio” em um discurso de Trump, mas deve-se gritar “discurso de Trump” dentro do incêndio.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.