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Judson Nascimento

Professor universitário, Doutor em Engenharia de Produção, atua nas áreas de gestão e inovação social, além de consultor da Incubadora Afro Brasileira no Rio de Janeiro

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Violência, discriminação e cultura dominante

A elite majoritariamente branca e mesmo muitos pobres e negros não se dão conta de que a discriminação e a violência são, em grande medida, fruto do descaso das políticas externas e internas do neoliberalismo

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É natural que a visão de muitos sobre a violência, pobreza e discriminação se dê dentro da ótica de aderência à cultura dominante. Esta segue a lógica da supremacia da burguesia sobre as classes menos privilegiadas e este fenômeno se dá em nível mundial. Assim, de maneira velada a tendência tem sido supervalorizar a cultura da acumulação de bens e a cultura ariana em detrimento de outras culturas, raças e religiões.

Nesse contexto é possível estabelecer um paralelo entre como os países desenvolvidos veem os países pobres ou em desenvolvimento, como por exemplo a fuga de imigrantes motivada pela miséria e/ou conflitos políticos; com a maneira com que a burguesia existente em cada país vê a parcela pobre da população. São visões fruto de políticas típicas do sistema econômico vigente, insensível às mazelas criadas pelo próprio sistema, que ao privilegiar exageradamente a racionalidade técnica e a competição, produz problemas econômicos, sociais e ambientais de tal sorte que o resultado tem sido o aumento das desigualdades, nivelando por baixo as populações discriminadas.

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A elite majoritariamente branca e mesmo muitos pobres e negros não se dão conta de que a discriminação e a violência são, em grande medida, fruto do descaso das políticas externas e internas do neoliberalismo em todo o mundo que tem provocado um aumento considerável dos conflitos sociais. Há conexões entre o atual sistema e a concentração de renda, pobreza, violência, xenofobia, intolerância étnica e religiosa, discriminação de gênero e opção sexual. A educação padrão desvaloriza a diversidade contida no tecido social distorcendo e reforçando junto a própria população discriminada, valores que desqualificam qualquer tentativa de representação que não seja a da classe dominante.

A mídia por sua vez geralmente trata catástrofes provenientes de continentes europeus ou americanos de maneira bem diferente quando o assunto envolve continentes africanos ou asiáticos, sendo semelhante por exemplo, a forma como trata a morte de cidadãos de classe média e de favelados. A morte de imigrantes, pobres ou negros tem geralmente menos importância para as elites, do que a morte dos "seus". Nos primeiros casos predomina a comoção e nos demais o descaso, como se as demais culturas, credos, traços étnicos e os valores humanos, dependessem exclusivamente do acúmulo de bens amealhados ao longo da vida. É como se a "cultura do ter" fosse parâmetro exclusivo de valor social em detrimento da "cultura do don", que é de se doar e cooperar tendo a ética como premissa fundamental.

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É igualmente interessante observar como o doutrinamento eficaz do sistema faz com que uma boa parcela da população discriminada, seja incapaz de tecer análises críticas sobre a questão, vendo com normalidade tais ocorrências. É preciso evitar se acostumar com essa perversa realidade e rejeitar a ideia de que a "normalidade" seja capaz de relativizar um absurdo qualquer, pelo simples fato de ser corriqueira, como por exemplo admitir ser possível conviver com elevadas taxas de morte de pobres e negros, pelo simples fato de ocorrer com frequência.

Por outro lado observa-se que a concentração de esforços unicamente na repressão, tem-se mostrado inócua, na medida em que se privilegia atuar no efeito do problema em detrimento da causa. Esta é fruto dos limites e da miopia com que o poder público trata as questões étnico sociais, das péssimas condições de vida, da falta de oportunidade, da supremacia da cultura padrão, dominante e excludente, sobre a cultura da diversidade.

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Atuar na causa pode significar desenvolver políticas públicas que gerem oportunidades para as populações menos privilegiadas, como faz por exemplo o Instituto Reação na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. O caso da Rafaela Silva, atual medalhista de ouro olímpico e mundial, mulher, negra, homossexual e pobre, que apesar das dificuldades do dia a dia de qualquer atleta, ainda tem que superar o preconceito e o racismo, uma violência psicológica que deixa marcas profundas seja como cidadã ou desportista.

Assim, as mudanças mais relevantes só serão possíveis a partir do questionamento do atual sistema econômico, promovendo transformações relevantes e não apenas mudanças de rumo de um sistema viciado e predatório. Caso contrário estaremos apenas minimizando alguns problemas sociais ou pintando de preto uma parte da elite tradicionalmente branca, mitigando avanços mais consistentes e amplos da população pobre e negra. Não creio que a saída esteja na promoção da ampliação de uma burguesia, seja ela branca ou negra e sim na diminuição das desigualdades, buscando inserir de maneira consistente a diversidade no desenvolvimento, proporcionando igualdade de oportunidade para quem mais precisa, promovendo justiça, equidade e bem-estar.

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