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Vivi para ouvir isso...

Ministro Celso de Mello durante sessão do STF 01/02/2017 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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Ouvimos agorinha, como se diz nas Minas Gerais (obrigado Salomão, pela estrada de fazer o sonho acontecer), um deputado federal, na CNN, se referir ao Decano do Supremo Tribunal Federal enquanto juiz de merda...

Celso de Mello constitui não só o mais antigo de nossos ministros (sua nomeação se deu no Governo Sarney, ainda nos anos 80), como açambarca a condição de referência do próprio sistema judiciário. Para além disso, é uma de nossas reservas morais institucionais... 

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Para conferir nossa fala, medindo a febre do respeito que a comunidade jurídica tem por Celso de Mello, basta perguntar a cada Advogado de relevo - e que não tenha se perdido pelo caminho -, o que pensa sobre o Decano do Pretório Excelso. 

Todavia, ouço um deputado da seita bolsonarista lhe referir enquanto juiz de merda. Pior: o deputado está eleito pela minha amada Londrina.

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Deu.

À parte a grosseria típica dos adeptos da referida seita, o deputado não sabe o que fez (e o que faz). Sua fala vai além da ofensa pessoal que, enquanto chula, não se sustenta, porque toda a comunidade jurídica que importa vai contrapor o descalabro. Todavia, ao chamar o Ministro de merda, a grosseria respinga em toda instituição...

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O que fica, então, da ofensa? A própria merda, conquanto esta não é outra coisa senão a medida do caráter de quem pronuncia o excremento. Trocando em miúdos; a palavra merda isolada de qualquer contexto apenas expõe a ausência de argumento, revelando que a única merda aferível deste cenário reside na cabeça do próprio autor do despropósito (o jovem deputado), que deveria ser ocupada pelas ideias e não pelo mero sentimento de ódio guardado no xingamento.

O fato dele, Celso, ter uma vida dedicada ao judiciário pátrio e, em especial, ao Supremo, só potencializa a grosseira ofensa do deputado, que deveria buscar aprimorar seu raciocínio, sua lucidez, para formular argumentos combativos, que contestassem a decisão jurídica que ora lhe contraria, ao invés de usar a denominação merda para se referir ao propulsor desta.

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Outro tanto, falamos aqui recentemente, que nossas instituições não estão funcionando em sua plenitude. Não recuamos um ceitil deste entendimento. Entretanto, a partir da ofensa à Celso de Mello (que é ofensa ao próprio Supremo), abrimos outra frente crítica, em ordem a indagar: que país é esse, aonde um jovem, recém-chegado em Brasília, no exercício de um cargo político dos mais elevados (deputado federal), que não lhe pertence - e sim à sua legenda e ao povo brasileiro (ele ocupa a cadeira transitoriamente) -, sente-se confortável para, nas ondas do rádio, referir-se a um Ministro do Supremo da maneira como o fez?   

Há tanta cousa errada por aqui que nos cansa enumerá-las. Mas não podemos ouvir calados, quem quer que seja referir-se a Celso de Mello desta maneira.

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Deputado, Celso de Mello é dos maiores juízes da história do Supremo, goste o Senhor de suas decisões ou não. Esteja, ele, Relator de algum feito que lhe interesse, direta ou indiretamente...

De toda sorte, se a intenção era comprar briga com algum Ministro, penso que o deputado atacou o ministro errado e de uma forma inadequada, utilizando-se de pura histeria, dessas que prevalecem à falta de argumentos e revelam a forma que o imaginário de uma mente imatura concebe às insatisfações pessoais: “é tudo merda”.

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A origem da ofensa, entrementes, está na formação fascista que o estado brasileiro desfila na atual quadra de nossa história e a grande responsabilidade da ascensão totalitária é de quem patrocinou/aderiu ao golpe de 2016.

Como também é de quem, feito a mais bonita das cabrochas dessa ala, fez de conta que era turista a bateu palma com vontade, saindo à janela com uma panela e ar blasé de indignação...

Vergonha alheia...

Ademais, éramos felizes; muito felizes e, infelizmente, um presidenciável de Minas Gerais (duvido que goste de Salomão e de seu trem azul, de sua estrada de fazer o sonho acontecer), derrotado nas urnas, não o sabia. Mas o que esperar daquele que, para manter o sigilo de suas pretensões, ceifaria a vida do próprio primo?

Quando um governo legitimamente constituído é desterrado pela atuação de uma minoria que acredita representar a elite econômica de um país, um dos frutos dessa covardia é a medida da violência desafiada nos dias que seguem o golpe.

É feito o oceano: a tempestade em alto mar é mãe da ressaca!  

A pergunta que não cala e nos cobra uma posição: seremos o que, à sombra do autoritarismo, vocifera; da ofensa gratuita e deselegante do deputado, ao ofício assinado pelo ministro Heleno, ameaçando, literalmente, o Supremo? Dita de outra forma: até quando as denominações e ameaças vão ocupar o reino das ideias e dos argumentos no cenário político brasileiro?

Não sabemos qual o método, isto é, não sabemos o que dizer, na medida em que não há uma relação ética mínima para se estabelecer um acordo mútuo necessário à construção do diálogo, quando uma das partes encena o fascismo por meio destas unidades linguísticas que não sintetizam ideias, apenas sentimentos de cólera, instigando o ódio à sociedade. Como estabelecer, por exemplo, um diálogo racional com alguém que sustenta sua insatisfação política com a expressão juiz de merda? Não podemos nos esquecer que justo este alguém, enquanto eleito pelo povo para ocupar assento no Congresso, é quem deveria oportunizar a participação da sociedade civil nos debates, através de argumentos racionais que permitissem o entendimento mútuo – e não sair proferindo ofensas pessoais descabidas em uma sociedade civilizada. 

Ainda outro dia, jovem éramos, e essa memória caminha viva pelo Perobal. Nossa lembrança vai ao início dos anos oitenta. João Batista Figueiredo havia jurado fazer do Brasil uma democracia em seu discurso de posse e os estudantes acreditaram que seria preciso ajudar o general cumprir com a palavra.

Em um dos muitos movimentos dos quais participáramos, tangemos uma vaca pelo campus; iniciamos a condução do bovino de tetas no Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA), de onde atravessamos a UEL até a Reitoria. 

Vaca às portas, reitoria invadida, polícia no campus, borrachada de cassetete no lombo, dentes ao chão. Foi épico, dolorido e confortante. Foi verdadeiro. Havia uma mensagem em favor da coletividade, do democrático, na tradução daqueles gestos insurgentes. 

Era (e ainda é) necessário combater o autoritarismo, mas como, se ele se apresenta tão esparramado? Aonde levaríamos a vaca, hoje, se não há confins para o fascismo?

Havia uma dignidade no ar que conduzia nossas marchas e minimizava nossos hematomas. Este sentimento, somado às lutas históricas de sindicatos, pastorais, ligas camponesas, movimento dos trabalhadores rurais sem terra, de figuras históricas como Lula, Dilma, Dom Paulo Evaristo Arns, Wladimir Herzog, Aldir Blanc, João Pedro Teixeira, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Zé Dirceu e tantos outros mais, pautaram a redemocratização que veio. 

O general cumpriu a palavra no esforço dos que apontamos e de tantos outros (Moraes Moreira, Taiguara, Geraldo Vandré, Glauber Rocha, Marighela, Torquato Neto...) que deixamos de lembrar – a memória nos trai sem culpa... 

Com a redemocratização, veio a Carta Política de 1988, não por acaso, chamada Cidadã. Iniciávamos, ali, um País.

Hoje, cortamos o Brasil que fomos, para o brazil que estamos. Talvez, o resultado do golpe de 2016 explique o que levou o deputado a chamar Ministro do Supremo de juiz de merda.  

Talvez o golpe explique moro – ou moro explique o golpe. Ou moro e o golpe representem uma pretensão só. O tal “Brasil acima...”, de uma coletiva para outra, se transformou, para a serpente do golpe, em “Fazer o certo sempre”. O bordão acompanha a matéria de interesse, é passageiro, apenas o método (herdado da Alemanha nazista) persiste, e ainda não sabemos como desarticula-lo.  

Talvez possamos argumentar o óbvio: não se deve chamar ninguém de “merda”. Ainda que o cara seja a própria merda (o que, nem com má vontade da seita bolsonarista dá para aferir da história soberba que Celso de Melo escreve, diariamente, enquanto juiz e homem honrado), não se deve referir a ninguém assim...

Não pense, deputado, que nos falte coragem ou vontade de chamar uma tantada de gente de merda. Aliás, quando o tema nos ocorre, agradecemos a Gregório Duvivier que, no ponto e sobre o tema “juiz de merda”, falou pelo mundo civilizado...

Só para pontuar: se um dia, no Brasil, houve um juiz de merda, este não foi Celso de Mello. Jamais.

Tristes trópicos; Moraes Moreira, Aldir Blanc, Tim Maia, Elis Regina, Dom Paulo Evaristo Arns, João Pedro Teixeira, Taiguara, Torquato Neto e uma pá de gente maior que a gente seguem fazendo muita falta. Já sérgio moro, como político togado que foi, não faz falta alguma.

Saudade das metáforas vivas que estes, e tantos outros que “partiram num rabo de foguete”, acresciam ao Brasil – e não dos tristes e decadentes “jingles” mal entoados pelos que ainda permanecem em evidência às custas do método nazista.

Joões dos Santos Gomes,  

o Filho e o Neto do Fausto Pescador.

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