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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Waack esqueceu de pedir desculpas (e muito mais)

"A única forma de William Waack tentar se recuperar de uma lamentável manifestação de racismo explícito seria reparar sua divida moral com a população negra através de um  pedido de desculpas público, claro e sem ambiguidades," escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Em vez disso, sugerindo que tenha sido vítima de um complô de blogueiros & Cia, em artigo publicado na Folha prefere denunciar "grupos organizados que atuam nas redes sociais" e acusa grandes grupos de comunicação que "por falta de visão estratégica ou por covardia" se tornaram reféns de pressões de adversários da "mídia tradicional".  

"A única forma de William Waack tentar se recuperar de uma lamentável manifestação de racismo explícito seria reparar sua divida moral com a população negra através de um  pedido de desculpas público, claro e sem ambiguidades," escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Em vez disso, sugerindo que tenha sido vítima de um complô de blogueiros & Cia, em artigo publicado na Folha prefere denunciar "grupos organizados que atuam nas redes sociais" e acusa grandes grupos de comunicação que "por falta de visão estratégica ou por covardia" se tornaram reféns de pressões de adversários da "mídia tradicional".   (Foto: Paulo Moreira Leite)
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O sentido do artigo de William Waack publicado na Folha de São Paulo, hoje, se expressa no título: "Não sou racista, minha obra prova".

Há muito tempo estou convencido de que a única forma de Waack se recuperar da "Coisa Preta," episódio lamentável de racismo explícito, é reconhecer o caráter inaceitável de seu comentário e apresentar um pedido de desculpas - em público, claro e sem ambiguidades.

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Acredito que, numa situação como esta, é indispensável reconhecer uma dívida moral, que deve ser reparada -- simbolicamente -- com uma demonstração de respeito à dignidade de quem sentiu-se ofendido. É preciso mostrar-se humilde diante de quem foi humilhado.

Também seria um exemplo necessário para aqueles que, com certeza da impunidade, pronunciam comentários equivalentes, produzindo as mesmas dores que o preconceito, a discriminação e o ódio costumam provocar.

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Sabemos que é fácil reconhecer que ninguém está livre dos preconceitos de seu tempo, que acompanham a humanidade a partir da conhecida verdade de  que a "ideologia dominante de uma sociedade é a ideologia da classe dominante".

Essa constatação não deve servir, em nenhum momento, para se tolerar manifestações de racismo ou qualquer preconceito. Mas ajuda a entender que elas devem ser reconhecidas e enfrentadas, pois esta é a única forma de avançar na construção de uma sociedade democrática.

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Sabemos que a hipocrisia é um componente necessário da velha noção de democracia racial, alimentando uma postura que esconde e disfarça o preconceito, de grande utilidade para esconder uma situação de dominação. Tolera-se o racismo em diversas formas -- a condição para o truque funcionar é sempre seja encoberto, nunca explicitado.

Ao longos dos últimos anos, a luta do movimento negro brasileiro ajudou a desmascarar o mito da democracia racial, numa contribuição essencial à formação cultural de uma nação que está longe de ter acertado as contas com três séculos de escravidão. 

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A reação ampla e indignada ao comentário ofensivo de William Waack só se explica porque a situação do país mudou muito nesse aspecto. A maioria de nós, brasileiros, hoje tem consciência de que vive num país estruturalmente racista, e que este comportamento, intolerável, se reproduz em nossas conversas, atitudes e decisões -- econômicas, sociais e pessoais.

Seria importante reconhecer essa mudança, um dos ganhos essenciais do atual período histórico. Daí a importância, repito, de honrar uma dívida moral contraída pelo "Coisa de Preto".

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Em vez disso, William Waack prefere no artigo denunciar a atuação de "grupos organizados que atuam no interior das redes sociais". Sem jamais mencionar a TV Globo de forma direta, diz que, "por falta de visão estratégica ou covardia, ou ambas", os grandes grupos de mídia tradicional tornaram-se reféns das redes mobilizadas, sugerindo, em resumo, que blogueiros & Cia mandam num sistema de comunicação nacional, monopolizada por cinco famílias. Em sua defesa, pede ajuda colega Gloria Maria que, num debate onde o preconceito é o prato de resistência, analisou o caso com as seguintes palavras: "ele não é racista. Aquilo foi piada de português." Também fala de Carmen Lúcia, presidente do STF, para mencionar um "clima de intolerância e cerceamento de liberdades".

A luta continua, com seus tropeços, armadilhas e recuos. Como se podia ler nos muros de várias cidades do mundo, cinquenta anos atrás: "Burgueses, vocês não entenderam nada".

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