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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Xingar Dilma na final da Copa: tem preço

Se Dilma for xingada não será ela que sairá com cara de chuchu. Ou imagem de agressiva, truculenta e tosca. Mas a horda. Seja esta quem for

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Pessoas e partidos populares sempre representaram extremos antagônicos de amor profundo e ódio profundo. No Brasil, por exemplo, Brizola e Lula. No exterior, Fidel Castro. Houve e continua havendo quem morresse por eles. E igualmente quem não pode ouvir o nome. O ponto de ligação aparente parece estar na ideologia. No caso, esquerda e comprometimentos populares. Há quem ame isso. Há quem odeie.

Este 'amor profundo' é em grande parte explicado por uma resistência ao pensamento capitalista conservador, visando a se quebrar velhos padrões e melhorar o nível em atendimentos sociais. Já o ódio profundo está no seu inverso. O desespero de uma elite pela perda de privilégios. A 'infame' divisão do poder com camadas populares e uma redução da concentração capitalista. Todo este antagonismo poderia ser um velho clichê, mas a história do Brasil mostra que não é. Em duas palavras, ainda: esquerda e direita.

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Dilma Rousseff não era uma 'política profissional', no sentido tradicional do termo, antes de ser, digamos, catapultada por Lula ao Poder. Mas pelo fato de ter sido 'lançada' por Lula, despertou amores para uns e ódios para outros. Observadores serenos veem de camarote essa psicologia social. Sobram adoração fundamentalista num lado da sociedade, e ódio quase étnico do tipo 'não posso ouvir o nome' no outro. Fica claro que ambos os extremos, sem qualquer maniqueísmo, são fruto de baixa reflexão.

A parcela que odeia, xingou Dilma no estádio, na abertura da Copa. No Brasil, parece não haver dúvidas, segundo pesquisas, que apoiadores de Dilma, na população, são a maioria. Mas repare que no estádio só se ouviu o coro de quem não gosta. Novamente por razões capitalistas, leia-se preço de ingresso, camadas populares não tinham condições de estar na festa. Por isto observadores teorizaram estar ali a 'elite branca'. Não erraram, mas enfureceram. Falar em cor enfurece. Mesmo que verdadeiramente e sem qualquer preconceito.

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Marcio Moreira Alves (Histórias do Brasil profundo, p. 11) já disparava: 'Esse maravilhoso povo brasileiro, solidário e trabalhador, não merece as elites que tem.' Era, como dizia Gilberto Freire a única grande civilização mestiça dos trópicos. Não foi nem esse povo nem essa grande civilização mestiça que babou o xingamento, a agressão.

A presidente não se intimidou em ser xingada. Fritou a fritura. Disse que irá à final da Copa. Sua presença é, obviamente, um ato político importante para o país. Pessoas minimamente instruídas, ou apenas educadas, deveriam ver assim. A televisiva 'bonita e alegre' parcela da sociedade que irá ao estádio e tem sido mostrada pelas câmeras, agora, tem duas opções. Ou continua a berrar palavrões contra Dilma ou mostra um mínimo de civilidade. Mesmo que uma civilidade 'arrependida'. Seria válido e nobre. Mas estima-se que a hipótese seja difícil. Nobreza aí...

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Há que se pensar globalmente, ou pelo menos se tentar. Se Dilma for xingada não será ela que sairá com cara de chuchu. Ou imagem de agressiva, truculenta e tosca. Mas a horda. Seja esta quem for.

Não se trata de Dilma merecer ou não ser xingada. Ninguém merece. A ofensa em si é a pobreza, a falência da argumentação. Se o inteligente responde com eficiência; o imbecil urra. A inteligência consegue elaborar uma vaia ou uma única palavra de ordem mil vezes mais contundente, e genial, que um xingamento.

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O delicioso episódio 'cala boca Galvão' da Copa ou campeonato passado que chegou a inspirar imprensa e torcedores estrangeiros iludidos de que aquilo seria a proteção a um pássaro brasileiro foi cínica e simplesmente genial. E não envolveu a vulgaridade de um xingamento.

O palavrão em si, no caso de Dilma, não mete medo em pessoas adultas. Não meteu em Dilma. Ao contrário, o palavrão é um ícone cultural genuíno e valioso. Às vezes, insubstituível. Chico Anysio se referia à genialidade da contração do 'sifu', – fulano sifu-, uma forma inventada para dizer tudo sem dizer nada.

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O problema no caso de Dilma nem é tanto o palavrão em si. Mas sua ineficácia. Dilma parece ter apertado o botão do dane-se (ou do f....). Mas contra o ofensor há efeito colateral. O atingido é o próprio xingador: a sociedade brasileira. Quem não sabe argumentar, xinga.

Se o xingamento vier de novo, ficará patente um modo atávico de grosseria de uma parcela da sociedade. A que pôde pagar os tais preços altos para a diversão futebolística.

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Nem se venha com a balela de se negar que seja a tal elite branca. Basta se assistir a qualquer partida pela TV para se perceber a praticamente totalidade de brancos. Ou será que a maioria no estádio é de negros e os câmeras só escolhem brancos? É claro que há negros na festa, por outro lado, a cor da pele é o que menos interessa. Este não é o foco. A educação boa é cega. A ruim também. Há os educados e os grosseiros, seja de que cor for. Xingar é grosseria tola. Primária mesmo.

Mas xingar o próprio presidente da república num evento mundial é um pouco pior. É burrice cidadã. É mostrar, antes de qualquer coisa, ao mundo que a sociedade brasileira é grosseira. Se houvesse uma jogada como um "cala boca Galvão" para Dilma, ela poderia ser posta em xeque. Ninguém poderia se insurgir, afinal a crítica é democrática. Mas xingar é o atalho tosco. E também fácil para o ofendido dar de ombros para quem xinga. É o famoso, 'não tô nem aí'.

O país vive uma espetacular normalidade democrática. Infelizmente a comparação histórica ainda se faz presente. Há pouco tempo xingar assim daria porrada e cadeia. Era o pandemônio esquizoide de ditadura. As gerações atuais precisam de um mínimo de história para valorizar o presente. Liberdade, ausência de carestia e inflação, crítica à vontade, o Brasil bem visto no mundo. Isso não tem preço.

Seja um presidente de que partido for, PSDB, PT, Psol etc. Não se deve xingar esta figura numa festa pública mundial. Nem em lugar nenhum. Temos que ser aquele povo amável. Repudiar o preço por este xingamento. Podemos dar um exemplo de civilidade. Como é que vai ser?

Do blog Observatório Geral

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