Zé Celso Martinez
A morte trágica é parte de uma vida transcendente, de um ser humano incomum, que efetivamente deixará um vazio em todos nós
Muitos de nós terão suas histórias e percepções sobre o genial Zé Celso, por sua longevidade e rica carreira teatral, que se confunde com os últimos 60 anos do teatro de São Paulo.
A minha é mais simples, de espectador e das vezes em que o vi atuar, especialmente no Teatro Oficina, seu locus, sua vivência mais íntima, radical e bela.
Um pouco antes, 1993, vi Zé Celso e minha amiga Christiane Tricerri na praça da Sé, em pleno carnaval encenando "Mistérios Gozosos". Aquilo foi lindo e doido, num momento ele estava num camburão da PM e não sabíamos se era parte da encenação. Chris esclareceu que ele teve um infarto ali.
Definitivamente passei de admirador distante, sabedor das suas peças desafiadoras da Ditadura, para assíduo do Teatro Oficina, uma orgia de sentimentos e liberdade de interpretar, com uma força pulsante.
Hamlet, As Bacantes, estão entre as experiências teatrais mais vivas e arrebatadoras da minha vida. Nas Bacantes quase perdi a roupa, literalmente, quando tentaram me despitlr, mas a timidez foi maior.
Depois o projeto Os Sertões, as lutas frente ao grande capital representado pelo Sílvio Santos, os eventos políticos e culturais do mais lindo teatro que conheço, e ele é a cara do Ze Celso. O espectador vira íntimo e parte de uma familia dionísica, com o Ditirambo, Zé.
A morte trágica é parte de uma vida transcendente, de um ser humano incomum, que efetivamente deixará um vazio em todos nós.
Beijos, Zé Celso!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

