Ativista do clima defende energia limpa no Nordeste, mas preservando comunidades
Jovens do coletivo Nordeste pelo Clima denunciam o avanço de multinacionais que instalam usinas eólicas e solares de maneira abusiva e antiética
Beatriz Bevilaqua, 247 — “Queremos energia limpa, mas não destruindo o Nordeste.” O alerta vem de Heloíse Almeida Luna, estudante de Direito e uma das coordenadoras do coletivo Nordeste pelo Clima. A ativista denuncia que grandes multinacionais estão instalando parques eólicos e solares em áreas rurais e tradicionais do semiárido sem consulta prévia às comunidades, em contratos abusivos que reproduzem a lógica da colonização.
Segundo Heloíse, o discurso do desenvolvimento sustentável tem sido usado para legitimar novas formas de exploração. “As empresas chegam prometendo emprego e progresso, mas o que fica é a degradação ambiental e a perda de território. Muitos agricultores e pescadores estão sendo expulsos de suas terras e impedidos de manter seus modos de vida tradicionais”, afirma. O coletivo Nordeste pelo Clima alerta para o avanço desenfreado de empreendimentos renováveis em toda a região, sem o devido diálogo com as populações locais e sem estudos que considerem os impactos sociais, culturais e ambientais.
Ela explica que as empresas assinam contratos de cessão de terra com cláusulas complexas e abusivas, muitas vezes sem que os moradores compreendam o que estão cedendo. “Esses contratos acabam gerando conflitos dentro das próprias comunidades, porque dividem as pessoas entre quem aceita e quem resiste. As companhias se aproveitam da vulnerabilidade e da falta de informação para garantir lucros altíssimos sobre um território que não é delas. Isso não é transição energética, é greenwashing: usar o discurso da energia limpa para perpetuar o mesmo modelo de exploração e exclusão”, denuncia.
Para Heloíse, o desafio vai muito além da geração de energia: envolve repensar o próprio modelo de sociedade. “A juventude ativista não age por esperança, mas apesar da falta dela. Diante do caos climático, precisamos fazer alguma coisa. A cada milésimo de grau que aumenta na temperatura média da Terra, nossa qualidade de vida piora e a dos nossos filhos também. Precisamos garantir um futuro minimamente estável.”
Ela também critica a falta de comprometimento global com as metas do Acordo de Paris. “Desde a assinatura, as emissões de gases de efeito estufa só cresceram. Já se passaram dez anos sem uma implementação real. A COP30 é chamada de COP da Implementação, mas, na verdade, todas deveriam ter sido. Mesmo assim, é preciso agir. Não dá mais pra falar de saúde, direitos, sociologia, biologia ou política sem falar de clima. Precisamos de esforços de todas as áreas e de uma sociedade civil forte para pressionar governos e garantir um futuro digno.”
Heloíse acredita que, apesar do cenário crítico, este é um momento decisivo em torno de um novo modelo de desenvolvimento. “O futuro dentro de um sistema que coloca o lucro acima da vida é inviável. Mas podemos agir hoje, de forma coletiva, para construir um futuro com a vida acima do lucro. Isso significa usar a tecnologia para melhorar a existência humana, reduzir jornadas de trabalho, diminuir emissões com menos transporte e ter mais tempo para viver em contato com a natureza.”
A ativista também vê nos chamados “empregos verdes” uma oportunidade de reconfigurar o mercado de trabalho. “Há uma geração de jovens se preparando para atuar com energias renováveis, profissões que nem existiam há dez anos. Precisamos formar pessoas para cuidar das outras pessoas e da terra. É disso que o mundo precisa.”
Inspirada na filosofia de Ailton Krenak, Heloíse afirma que a luta climática é, antes de tudo, uma luta pela vida. “Nós não somos diferentes da natureza; fazemos parte do mesmo ecossistema. Cuidar do planeta é cuidar das pessoas. Justiça climática é garantir direitos sociais e humanos em meio a uma crise que ameaça a todos. O futuro que queremos é de equilíbrio, de bem viver e de reconexão com a Terra.”
Assista na íntegra aqui:
