Estudo aponta que governança e pressão internacional são decisivas para conter desmatamento na Amazônia
Pesquisa do Instituto Esfera revela queda de 25,8% no desmatamento em 2024 e destaca papel das políticas públicas e da autorregulação do mercado
247 - Um estudo inédito do Instituto Esfera de Estudos e Inovação, braço acadêmico do think tank Esfera Brasil, mostra que a combinação de políticas públicas de governança, pressão internacional pela preservação ambiental e mecanismos de autorregulação do mercado — como as moratórias da soja e da carne — é essencial para conter o avanço da degradação no chamado Arco do Desmatamento, que abrange os estados do Pará, Mato Grosso, Maranhão, Rondônia, Tocantins e Acre. Segundo o levantamento, a região registrou uma redução de 25,8% nas áreas desmatadas em 2024, resultado que coincide com a retomada de políticas ambientais a partir de 2023.
A pesquisa, intitulada “Análise dos Determinantes do Desmatamento no Arco do Desmatamento Brasileiro”, foi conduzida pelo economista Waldecy Rodrigues, pós-doutor em economia do meio ambiente pela Universidade de Brasília (UnB). O trabalho combina modelagem econométrica e avaliação de políticas públicas para entender os fatores que influenciam o desmatamento na Amazônia Legal.
De acordo com o levantamento, instrumentos como o PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), lançado em 2004, foram decisivos para reduzir as taxas de desmate de 27.772 km² naquele ano para 4.571 km² em 2012, o menor índice desde 1988. Outras medidas de impacto incluem a Lei de Crimes Ambientais (1998), o sistema de monitoramento em tempo real Deter/Inpe (2004), as moratórias da soja (2006) e da carne (2009), a restrição ao crédito rural em municípios críticos (2008) e o Cadastro Ambiental Rural (2012).
O estudo também destaca o fortalecimento institucional de órgãos como o Ibama e o ICMBio, além do reposicionamento do Brasil na agenda climática internacional. A análise aponta que o sucesso das políticas ambientais depende diretamente da combinação entre fiscalização, regularização fundiária e estabilidade institucional.
O Arco do Desmatamento ocupa cerca de 10% da Amazônia Legal e responde por 45% do desmatamento total do país. Historicamente, é o epicentro da expansão da fronteira agrícola e concentra 75% do desmatamento acumulado da floresta. Em 2023, a queda foi de 23,8%, seguida por 25,8% em 2024 — resultados que refletem o impacto positivo de uma política ambiental mais robusta.
A pesquisa apresenta ainda três projeções para o desmatamento até 2050. No cenário pessimista, caracterizado por pressão internacional limitada e enfraquecimento institucional, a perda florestal pode ultrapassar 1,2 milhão de hectares em 2045. O resultado evidencia que o mesmo ritmo de expansão agropecuária pode coexistir com níveis distintos de degradação, dependendo da qualidade da governança ambiental.
Outro ponto importante abordado é o chamado “trilema da sustentabilidade regional”, que representa o desafio de conciliar desenvolvimento econômico, inclusão social e conservação ambiental. O Arco do Desmatamento concentra 77% dos focos de queimadas da Amazônia Legal, mas também oferece oportunidades para alinhar produção rural e conservação ambiental, consolidando o Brasil como líder global em sustentabilidade agropecuária.
Atualmente, o Arco soma mais de 19 milhões de hectares alterados ou degradados, área equivalente a duas vezes o território do Reino Unido. Desde 1988, a Amazônia perdeu 20% de sua cobertura original, cerca de 800 mil km², e o Brasil foi responsável por 40% da perda global de florestas em 2021. Embora abrigue uma das maiores biodiversidades do planeta — com mais de 119 mil espécies de fauna e 46 mil de flora —, o país ainda explora de forma incipiente o potencial econômico sustentável desses recursos.
Para Camila Funaro Camargo Dantas, CEO do Instituto Esfera de Estudos e Inovação, o estudo oferece subsídios estratégicos às vésperas da COP30, que será realizada em Belém. “O estudo confirma que a preservação da Amazônia e do Cerrado depende sobretudo da qualidade da governança. O futuro das nossas florestas está ligado à força das instituições e à consistência das políticas públicas”, afirma.
