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Pecuária moderna pode reduzir emissões em até 93% até 2050

Estudo da FGV e da Abiec mostra que a pecuária brasileira tem potencial para cortar drasticamente gases de efeito estufa com avanços tecnológicos

Pecuária moderna pode reduzir emissões em até 93% até 2050 (Foto: Agência Brasil )

247 - Se a pecuária brasileira mantiver, nos próximos 25 anos, o mesmo ritmo de evolução da produtividade observado nas últimas três décadas, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) por quilo de carne produzida podem cair cerca de 80% até 2050. É o que revela um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), elaborado em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e apresentado durante a COP30, a Cúpula do Clima das Nações Unidas, realizada em Belém (PA), segundo informações do Globo Rural.

O levantamento analisou quatro cenários possíveis de mitigação de emissões. No mais otimista, a redução poderia chegar a 92,6% — quase 93% — caso o Brasil cumpra a meta de zerar o desmatamento até 2030, adote integralmente as práticas do Plano ABC+ (voltado à adaptação climática e à baixa emissão de carbono na agropecuária) e incorpore técnicas avançadas, como o uso de aditivos alimentares para reduzir a fermentação entérica e o abate precoce.

O estudo destaca que a pecuária de corte ainda é a principal responsável pelas emissões do setor agropecuário, que representa cerca de 29% do total nacional. A fermentação entérica dos animais responde sozinha por 64% das emissões do setor, segundo dados do Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.

Para o presidente da Abiec, Roberto Perosa, a pesquisa mostra que o setor já está trilhando um caminho de transformação e tem papel fundamental na agenda climática. “A pecuária brasileira tem um papel central na agenda climática e um enorme potencial para contribuir com a descarbonização, liberando espaço nas metas do Brasil em relação ao Acordo de Paris”, afirmou. “Isso é motivo de muito orgulho, mas também aumenta ainda mais a nossa responsabilidade, pois precisamos continuar a acelerar o caminho que já estamos percorrendo”, completou.

O cenário base, usado como ponto de partida pela FGV, considera a continuidade do atual ritmo de crescimento da produtividade da pecuária. Entre 1990 e 2022, a produtividade por hectare aumentou 183%, enquanto a área de pastagem caiu 18%, conforme dados da Abiec e da Athenagro. Essa tendência é explicada por fatores como o melhoramento genético dos rebanhos, o uso de suplementação nutricional e práticas de bem-estar animal.

Nos cenários seguintes, o impacto ambiental diminui de forma significativa. Com o desmatamento zero até 2030, as emissões por quilo de carne produzida recuariam 86,3%. A aplicação total das tecnologias do Plano ABC+, incluindo a recuperação de pastagens degradadas e a adoção de sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta, poderia elevar a redução para 91,6%. No quarto cenário, que combina todas essas medidas com técnicas zootécnicas de ponta, a queda chegaria aos 92,6%.

O estudo também avaliou o balanço líquido de emissões, levando em conta as remoções de carbono proporcionadas pelas pastagens. Nesse caso, o potencial de mitigação varia de 60,7% no cenário mais conservador até 85,4% no mais ambicioso.

De acordo com a Abiec, a modernização da pecuária brasileira já vem ocorrendo de forma consistente e está diretamente ligada à sustentabilidade. O manejo adequado das pastagens, aliado à integração entre lavoura e pecuária, permite aumentar a produção sem expandir a área ocupada — um passo crucial para o cumprimento das metas climáticas assumidas pelo Brasil.