Prêmio Brasil Sem Fome reconhece iniciativas que transformam vidas
Cerimônia em Brasília premiou experiências estaduais e locais que reduziram a insegurança alimentar, ampliaram a renda e garantiram dignidade a famílias
247 - O Teatro Nacional de Brasília tornou-se, nesta quarta-feira (17.12), o cenário de uma celebração dedicada à luta contra a fome no país. A cerimônia de entrega do Prêmio Brasil Sem Fome reuniu representantes de governos, sociedade civil e beneficiários de políticas públicas para reconhecer mais de 40 experiências que, por diferentes caminhos, contribuíram para devolver a milhões de brasileiros o direito fundamental de não sentir fome. A iniciativa é do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), responsável pela organização da premiação.
As histórias apresentadas ao longo do evento evidenciaram que o enfrentamento da insegurança alimentar passa por decisão política, continuidade das ações e presença efetiva do Estado nos territórios. As experiências premiadas mostraram como políticas bem estruturadas conseguem gerar impacto direto na vida de famílias vulneráveis, promovendo dignidade e novas perspectivas.
A secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS, Valéria Burity, definiu a cerimônia como um momento de valorização de vidas transformadas, e não apenas de indicadores. “Hoje é um momento de celebração da redução da pobreza, da fome e da desigualdade no Brasil. De números que caíram, mas sobretudo de vidas que mudaram para melhor”, afirmou.
Segundo a secretária, o prêmio reafirma um compromisso coletivo de manter o combate à fome como prioridade permanente da agenda pública. Ela destacou que os avanços foram mais significativos exatamente onde a fome historicamente esteve mais presente, como nos lares chefiados por mulheres, entre pessoas negras, no meio rural e no Nordeste, região que apresentou o maior crescimento da segurança alimentar.
Valéria Burity explicou que a premiação reconhece três dimensões centrais. A primeira diz respeito às experiências locais, que demonstram como a política pública se fortalece quando chega aos territórios. “Uma das razões deste prêmio é justamente dar visibilidade a essas experiências, permitir que elas circulem, inspirem e se multipliquem pelo país”, explicou. A segunda dimensão envolve a organização do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), considerada essencial para garantir governança, coordenação e participação social. Já a terceira categoria, dedicada à redução da fome, foi apontada como especialmente significativa. “Esse reconhecimento é muito especial porque fala de resultado, fala de impacto. Fala de crianças, mulheres, homens e famílias que passaram a ter comida na mesa, dignidade e perspectiva. A redução da fome não é um dado abstrato, é a vida concreta sendo transformada”, concluiu.
Entre as histórias destacadas no palco do Teatro Nacional esteve a da empreendedora Faritta Kamilla Cruz do Nascimento, 38 anos, moradora de Fortaleza, beneficiária do programa Ceará Sem Fome. Mãe de quatro filhos, ela representou milhões de brasileiros cuja trajetória foi alterada pela chegada de políticas públicas estruturadas. “Antes, eu trabalhava de forma autônoma, fazendo bicos. Fazia faxinas e outros trabalhos para garantir o sustento diário. Era uma situação difícil”, relembrou.
A instabilidade da renda comprometia a alimentação da família e tornava distante qualquer possibilidade de qualificação profissional. Esse cenário começou a mudar com a oferta de cursos vinculados ao programa. “Antes, não tínhamos condições de pagar por esses cursos. O Ceará Sem Fome surgiu com essa oportunidade, permitindo profissionalizar e até mesmo iniciar nossos próprios negócios”, contou.
Após concluir a capacitação, Faritta abriu o próprio empreendimento e passou a produzir pudins, tortas de abacaxi e alfajores, vendidos porta a porta e pelas redes sociais. “Atualmente, tenho meu próprio negócio, após concluir o curso oferecido pelo programa. Sou empreendedora e produzo sobremesas para venda”, afirmou. O aumento da renda refletiu diretamente na rotina familiar. “Agora, com a possibilidade de produzir e vender meus produtos, minha renda aumentou, e consigo melhorar a qualidade de vida da minha família”, completou.
Representar os beneficiários em Brasília foi, para ela, um momento simbólico. “Agradeço a Deus por ter colocado as pessoas certas para tornar este programa um sucesso, proporcionando aos cearenses uma vida melhor, com alimentação de qualidade e oportunidades de qualificação profissional, algo que antes não tinha”, declarou.
Outra experiência reconhecida veio de Pernambuco, onde a decisão de fortalecer a estrutura administrativa resultou na criação de uma secretaria executiva exclusiva para o combate à fome. O secretário-executivo de Combate à Fome do governo estadual, Felipe Gabriel Gomes de Medeiros, explicou que a mudança foi necessária diante da expansão das políticas. “No início de 2024, a governadora considerou necessário reestruturar a política estadual de segurança alimentar, reconhecendo que ela havia crescido em escala, ultrapassando a capacidade administrativa do estado. A estrutura existente não comportava a complexidade das ações que se pretendia implementar”, relatou.
O programa Bom Prato, principal eixo da política estadual, opera atualmente por meio de 246 cozinhas comunitárias em parceria com os municípios, além do apoio a 62 cozinhas solidárias. “Atualmente, o programa Bom Prato atende cerca de 50 mil pessoas diariamente, em todo o estado, desde o litoral até o sertão”, destacou o secretário.
Alagoas também foi reconhecida por avanços rápidos no enfrentamento da pobreza extrema. A secretária de Estado da Assistência e Desenvolvimento Social, Kátia Born Ribeiro, lembrou que o ponto de partida foi desafiador. “Em 2023, após um período de instabilidade governamental, pesquisas de diversos institutos revelaram que Alagoas era um estado com altos índices de extrema pobreza”, relatou.
A estratégia adotada envolveu articulação intersetorial e a criação dos Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional em todos os municípios, além do engajamento direto do governo estadual com comunidades quilombolas, indígenas, ciganas, agricultores familiares e pescadores. Os resultados apareceram em pouco tempo. O número de famílias inscritas no Cadastro Único caiu de 534 mil para 500 mil. “Ainda temos oito municípios com insegurança alimentar, uma redução significativa em relação aos 36 que tínhamos”, afirmou a secretária.
O trabalho segue com o mapeamento dos territórios mais vulneráveis e articulação com gestores municipais. “Nossa meta é, até o final de 2026, erradicar a extrema pobreza no estado de Alagoas e continuar aprimorando os indicadores de pobreza”, declarou Kátia.
Sergipe, ao lado de Roraima, entrou para a história como um dos primeiros estados a alcançar 100% de adesão de seus municípios ao Sisan. Para Luiz Campos, secretário-executivo da Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional de Sergipe, o reconhecimento simboliza um esforço coletivo. “É uma honra, para nós, receber esta menção honrosa, reconhecendo a adesão de 100% ao Sisan. Esse resultado é um reflexo dos esforços conjuntos do Governo do Estado e do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Sergipe, que visam fortalecer os mecanismos de controle social e combater a fome”, celebrou.
Segundo ele, a diversidade de políticas implementadas foi decisiva para os resultados alcançados. “Observamos a relevância do PAA, a importância das cisternas, o impacto da produção agrícola, as cozinhas solidárias e as cozinhas comunitárias. Todas essas ações representam intervenções de grande alcance regional, que, somadas, geram um impacto nacional significativo”, explicou.
O Prêmio Brasil Sem Fome, organizado pelo MDS, tem como objetivo valorizar experiências bem-sucedidas de estados e municípios que contribuíram de forma concreta para a redução da insegurança alimentar e nutricional. Ao reconhecer ações inovadoras e integradas, a iniciativa reforça o papel do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e amplia o acesso ao direito humano à alimentação adequada, especialmente nos territórios de maior vulnerabilidade social.
