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A luz que se apagou

Vamos investigar em vão as razões dos tiros de David e chegaremos à conclusão de que é preciso restringir ainda mais a venda de armas. Talvez seja apenas o caso de assumir as consequências das nossas decisões

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Revolvers are tricky things for young hands to deal with.
Rudyard Kipling

Se Maise tivesse lhe acertado aquele tiro, Dick não teria se tornado correspondente de guerra. Se o disparo acidental do revólver que os dois órfãos criados por Kipling compraram minutos antes de chegar à praia naquela tarde tivesse ido parar no rosto do menino, ele não teria virado pintor ou conhecido o Sudão anos depois, nada disso. Revólveres são traiçoeiros nas mãos dos jovens, escreveu o indiano em "A luz que se apagou". É nisso o que eu penso quando fico sabendo que um menino de 10 anos atirou contra a professora e se matou em seguida em São Caetano do Sul.

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Vamos tentar entender sem conseguir, investigar em vão as razões que levam uma criança a dar um tiro na cabeça e chegaremos, como de costume, à conclusão de que é preciso restringir ainda mais a venda de armas no Brasil. Foi nossa resposta à chacina de 12 crianças em Realengo, lembra? Costumo ver com resistência essa proposta de revisão do referendo do desarmamento – rever uma decisão tomada há apenas 6 anos pela maioria da população (mais de 60%) a cada tragédia que ocorre não me parece razoável –, mas o incidente na Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão me pegou no ponto fraco.

Não achei o fim do mundo – longe disso – nossa decisão de permitir a compra de armas no país. Entendo que a segurança pública não alcança todos os cantos do país e que o cidadão tem o direito de se defender, mas mantive apenas um receio desde o referendo: que as armas adquiridas legalmente por meio do rígido processo imposto àqueles interessados em se armar caíssem nas mãos de despreparados – no pior dos cenários, crianças.

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A lei deve se fazer valer no caso de São Caetano do Sul, já que o pai de David caminha para ser responsabilizado pelos crimes, por negligência, mas talvez o grande ônus da decisão de 2005 seja essa possibilidade de uma criança conseguir acesso ao armamento dentro da própria casa – e Não havia ninguém mais bem preparado que o pai guarda municipal para zelar pelo revólver. Quando fomos às urnas votar, eu só conseguia pensar que, no fundo, estávamos deliberando sobre isso: a proximidade que queríamos que uma criança tivesse da arma.

Foi o videogame, o bullying ou a falta de Deus no coração que levou David a atirar na professora e, depois, acertar a própria cabeça? É cruel, mas tanto faz. O fato é que o garoto tinha uma arma ao alcance da mão, no quarto ao lado. A solução seria organizar outro referendo sobre o desarmamento? Pode ser, mas talvez seja apenas o caso de deixarmos de ser criança e assumirmos as consequências das nossas decisões.

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