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A oportunidade perdida pelas religiões

Durante a votação no STF da permissão para que se aborte fetos sem cérebro, não me lembro de ter visto nenhuma religião demonstrar preocupação com o estado emocional da mulher

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Tudo que envolveu a votação no STF da permissão para que se aborte fetos sem cérebro pode ter sido uma grande oportunidade que as religiões de uma forma geral tiveram de exercer um de seus papéis principais: consolar, compadecer-se de quem sofre.

Tiveram, e perderam.

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Não me lembro de ter visto nenhuma delas, em nenhum momento da batalha no Supremo – ou mesmo em outra ocasião-, demonstrar preocupação com o estado emocional da mulher que vai à Justiça pedir para abortar a criança que, segundo a medicina, não sobreviverá à primeira hora após o nascimento.

A mesma ausência da piedade cristã sempre observei em relação à mulher que é estuprada, que renega o filho fruto desse ato abominável, a maior das covardias.

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Só quem já viveu o momento mágico da descoberta de uma gravidez (mesmo sendo homem), pode imaginar a lâmina gelada que atravessa o peito da mulher (e do homem também) quando o médico, muitas vezes com inconcebível frieza, diz que aquele sonho não sobreviverá. Sabe aquele laço de fita que você pretendia fazer? Sabe o bercinho combinando com as paredes? E as primeiras roupinhas que você já comprou? Pois é, esqueça, pois a cabecinha do seu neném é uma caixa oca onde a morte espera a hora de abraçar esse pequeno corpo em formação.

A preocupação maior é, como sempre foi ao longo da história das religiões, pregar a moral sem o cuidado de livrá-la de uma ponta de condenação. Intencionalmente ou não, a mulher que carrega no ventre o chamado anencéfalo, ou até o filho gerado pela violência que ultraja a dignidade humana, passa, mesmo que de forma sutil, por criminosa na pregação “pelo direito à vida”. Nem para uma certa crueldade do slogan – no caso da anencefalia – as religiões atentaram. Como falar em “direito à vida” a uma gestante que não será mãe nem por uma hora?

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Preciso dizer que sou contra o aborto, mesmo nos dois casos aqui discutidos. Minha religião, o espiritismo, condena o ato, não a pessoa, mas mesmo as entidades que representam a doutrina no Brasil não se importaram em cuidar do aspecto mais importante: o drama interior da mulher que opta por tirar o filho sem chance de sobrevivência. O que falou mais alto foi a necessidade de se propagar pontos de vista.

Na anencefalia e no estupro, o aborto é decisão de foro íntimo que dispensa sermão. Caso procure a orientação religiosa, a mulher deve ser recebida primeiramente com piedade e misericórdia, e só depois com o esclarecimento próprio de cada crença. E jamais condenada, pois nenhum padre, pastor ou presidente de centro espírita terá a dimensão da dor de uma mulher para quem a maternidade abriu um rasgo na alma.

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André Giusti é escritor e jornalista

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