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Brasil

"A Reitoria intimida, chama PM e lava as mãos"

Em entrevista ao Brasil 247, representante dos alunos da USP critica atual gesto da universidade por no dialogar com a comunidade universitria; para Thiago Aguiar, do DCE, policiais reprimem movimento social no campus em vez de combater crime; greve chega a 12 dias

"A Reitoria intimida, chama PM e lava as mãos" (Foto: Divulgação)
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Diego Iraheta_247 - A greve dos estudantes da USP completa 12 dias e, apesar de contar com apenas 30% de adesão, está afetando o movimento estudantil de São Paulo. As eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade estavam previstas para esta semana. Mas a paralisação de alunos de Ciências Sociais, História, Comunicação, Pedagogia e outros cursos levou à decisão de adiar para 2012 o processo eleitoral.

Em entrevista ao Brasil 247, o diretor do DCE-USP Thiago Aguiar fez um balanço do movimento convocado após a chegada da tropa de choque da PM no campus, em resposta à invasão da Reitoria. Segundo ele, a discussão sobre segurança no campus está sob o guarda-chuva de uma questão mais complexa: a autonomia universitária. "Quando o [reitor João Grandino] Rodas simplesmente assina convênio com a polícia, ele tem uma postura de lavar as mãos. A questão não é mais a administração da universidade, é caso de polícia", analisou.

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Thiago Aguiar também elencou ações autoritárias da Reitoria e defendeu a instituição da Guarda Universitária como alternativa aos PMs na USP. Leia a íntegra:

Brasil 247: Por que a decisão pelo adiamento das eleições para o diretório?

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Thiago Aguiar: A eleição do DCE precisa de um momento de debate democrático, com igualdade de condições para que todos participem. Num momento de greve, de mobilização, é difícil para o movimento estudantil organizar essa eleição. Mais de três mil pessoas votaram, em assembleia, pelo adiamento.

Mas quais seriam as dificuldades?

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Na USP, essa é uma eleição de grandes proporções. São disponibilizadas urnas em 6 ou 7 locais com campus. Do ponto de vista da participação, haveria desigualdade por causa da greve. Por isso, não dá para manter a eleição concorrendo com a mobilização.

Qual será a nova data da votação?

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Deve ficar para o início do novo ano letivo, em março ou abril. Isso agora depende da decisão do conselho de centros acadêmicos, que se reúne nesta semana.

Como está o saldo de adesão à greve no momento? Qual porcentual de alunos parou de fato?

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Nossos cálculos dão conta de 30% na USP como um todo. E metade dos alunos do campus Butatã, que é o epicentro do conflito. Mas nossas pautas políticas foram incorporadas por grande parte dos alunos.

Por que é necessária uma greve de estudantes num momento como este, em que se discute a presença de PM no campus?

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Na verdade, é uma situação mais ampla que a presença ou não da PM. Esse conflito tem como pano de fundo a autonomia universitária. Defendemos que a comunidade universitária pode definir os próprios rumos da USP.

E hoje a USP não tem autonomia?

A atual gestão da Reitoria é antidemocrática; a presença da PM no campus demonstrou isso. Além disso, vem acontecendo há algum tempo intimidação de servidores por meio de processos administrativos.

Que tipo de intimidação?

No mês passado, alguns diretores do sindicato dos trabalhadores da USP foram notificados que eram alvo de processo interno por terem organizado uma paralisação em março. Eles pararam um dia para ir a uma audiência pública, um ato na Assembleia Legislativa em função da demissão de 300 funcionários da USP em janeiro. Este é o papel de um sindicato: organizar a categoria. Essa praxe de processos internos precisa acabar!

E qual é o problema de ter PM no campus?

Essa questão da segurança na USP tem que ser discutida pela comunidade universitária. O reitor utilizou, de maneira bastante incorreta, o assassinato de um estudante [Felipe Ramos de Paiva, em maio deste ano] para acariciar um sentimento de medo e cedeu à pressão por militarizar a universidade. Para muitos, essa questão de não ter policais no campus soa estapafúrdia. E aí perguntam: "por que não ter PM na cidade universitária?".

Pois é, Thiago, por que não?

Essa é uma questão de autonomia universitária. O reitor deveria ter aberto debate com a comunidade universitária. Quais são os problemas do campus? O que precisa ser feito? Em vez de propor esse debate, ele simplesmente sentou com a Secretaria Estadual de Segurança e firmou convênio. O problema é que a presença de policiais militares no campus é questionável há tempos. A atuação deles na USP não tem sido de combate ao crime, mas de repressão a movimento social.

Mas, afinal, para que existe Polícia Militar?

Claro que a polícia tem seu papel constitucional. O fato é que a função do policial não está em permanecer no campus mediando conflitos da universidade. Não combina com universidade sair da sala de aula e encontrar três ou quatro homens fardados. Eles entram nos blocos didáticos, circulam. Neste ano, quatro estudantes da escola politécnica foram enquadrados por duas viaturas sem nenhum motivo. A ação durou 40 minutos, e os alunos não tinham feito nada. Polícia não combina com universidade como local de livre exercício de crítica, de reflexão.

O que estarreceu mais os estudantes: o assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva, em maio, ou a detenção de três alunos com maconha, em outubro?

Evidentemente, o assassinato é a coisa mais estarrecedora. Talvez até por isso não tenha gerado mobilização por exigir reformas. Nesses momentos de crise, a tendência é muito conservadora, o medo é muito conservador. Aí é melhor se isolar e reivindicar forças externas.

Em relação a essas forças externas, a pesquisa do Datafolha apontou que a maioria dos estudantes quer PM no campus...

Para não dizer que essa pesquisa foi mal-utilizada, com má-fé, ela foi mal-interpretada. Uma parcela majoritária de fato disse que quer PM no campus. Mas a resposta mais majoritária, que não foi explorada, é que as pessoas não se sentem seguras na USP - mesmo depois da entrada da polícia no campus. Isso mostra que precisamos de mais debate para encontrar outra solução.

E qual seria essa solução?

É fundamental a criação de uma guarda universitária. Que seja concursada e tenha um papel preventivo e não repressivo. Deve haver um efetivo feminino para casos de assėdio e abuso. As mulheres que sofrem esse tipo de violência, muitas vezes, procuram autoridades policiais e não se sentem confortáveis. Essa guarda tem que ter efetivo feminino.

Que outras ações implicariam uma melhora na segurança do campus?

É necessário a universidade assumir responsabilidades e investir onde precisa. Não é caro criar mais linhas circulares entre o campus e pontos distantes. Também tem que reformar sistema de iluminação. É questão de vontade política e prioridade. Quando o [reitor João Grandino] Rodas simplesmente assina convênio com a polícia, ele tem uma postura de lavar as mãos. A questão não é mais a administração da universidade, é caso de polícia.

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