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A violência que matou Chico Mendes está voltando, dizem ativistas

Passados 30 anos do assassinato do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, o seu legado em defesa da Amazônia e do desenvolvimento sustentável volta a ser ameaçado; "Está tudo voltando. Os fazendeiros estão querendo expulsar os trabalhadores das suas terras", afirma o seringueiro José Alves, diretor de Políticas Agrárias do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri; Segundo dados oficiais, foi registrado um aumento de 40% no desmatamento entre agosto de 2017 e agosto deste ano, mesmo período em que pautas ruralistas avançaram no Congresso Nacional

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Sputnik - A preservação da Amazônia em prol do desenvolvimento sustentável das comunidades locais e da humanidade foi uma luta encampada pelo seringueiro e ambientalista Chico Mendes. O legado de tal combate, porém, está sob forte ameaça passados 30 anos do seu assassinato, em Xapuri (AC), revelaram ativistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

Em 22 de dezembro de 1988, Mendes acabou morto em sua casa, depois de seguidas ameaças de pistoleiros e recados de fazendeiros da região, que viam o extrativismo como um entrave ao avanço da agropecuária e do desmatamento na região amazônica. E a violência na floresta, que vitimou o ambientalista, segue a pleno vapor.

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"Aqui no nosso município nós estamos sofrendo nos últimos anos, indo para o embate e uma preocupação muito grande voltou porque o que estava acontecendo na época do Chico Mendes está voltando agora. Está tudo voltando, os fazendeiros estão querendo expulsar os trabalhadores das suas terras", contou à Sputnik Brasil o seringueiro José Alves, diretor de Políticas Agrárias do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri.

Filho de um seringueiro que acabou expulso por fazendeiros de uma área de extração de borracha e outros itens, como a castanha, Alves relembra que Mendes é ainda hoje lembrada pelo seu apoio às famílias que viviam por décadas e gerações na região, mas que acabavam sendo hostilizadas e expulsas por fazendeiros interessados no avanço da pecuária, em detrimento da mata.

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Avanço do boi e da bala

Segundo os dados oficiais mais recentes, o desmatamento está em ascensão na Amazônia. Foi registrado um aumento de 40% no desmatamento entre agosto de 2017 e agosto deste ano, mesmo período em que pautas ruralistas avançaram no Congresso Nacional e a discussão em torno de temas favoráveis ao meio-ambiente foram colocados em xeque por parlamentares e setores da sociedade civil ligados ao agronegócio.

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Tais temores da população local, que depende da floresta amazônica para sobreviver, foram discutidos em um encontro em Xapuri, realizado entre os dias 15 e 17 de dezembro, no qual mais de 500 pessoas ligadas as comunidades tradicionais e extrativistas de todo o Brasil se reuniram na cidade. Além disso, 30 personalidades que dão continuidade ao legado de Chico Mendes foram premiadas.

À Sputnik Brasil, o presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, Joaquim Bello, revelou que o encontro em Xapuri reuniu várias gerações de trabalhadores e defensores da floresta amazônica, alguns que conviveram diretamente com o famoso ambientalista. Segundo ele, Chico Mendes deixou vários legados nos anos posteriores ao seu assassinato.

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"A questão para nós dos territórios de uso coletivo, de uso comum, e aí estou falando da rede extrativista, dos projetos de assentamentos extrativistas, são o conjunto deles que abrigam a moradia através de concessões de direitos de área de uso que é uma tutela jurídica por parte do estado que a gente não tem tido incentivo, temos tido concessões. Então essa agenda foi construída lá atrás pelo Chico e outros companheiros e se transformou, na nossa visão, na maior política pública de um governo", avaliou.

Bello reforçou que Chico Mendes não via a terra como um ativo de mercado, mas sim como um "ativo que a gente vive, passa nela, morre e outras gerações vão usufruindo".

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"Mudou o pensamento do governo de fazer destinação de terra no modelo da reforma agrária tradicional, na qual a terra vira simplesmente uma mercadoria, um ativo de mercado, e para nós não é isso [...]. Então nós temos esse direito de zelar por essa floresta, e temos a obrigação de deixá-la melhor do que recebemos. Não temos o direito de fazer com que as futuras gerações não tenham isso aí, e depois é o nosso meio de produção porque a gente trabalha com castanha, trabalha com borracha, trabalha com açaí, trabalha com babaçu, com piaçava, com um conjunto de produtos de floresta. A nossa economia é de floresta. Então a destruição da floresta ameaça o modo de vida das pessoas e ameaça a sua economia", acrescentou.

Futuro do medo

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Os ativistas ouvidos pela reportagem são unânimes em dizer que temem pelo futuro, sobretudo com os primeiros indicativos do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). José Alves contou ter percebido uma maior confiança dos fazendeiros da área onde vive, tanto que o número de ações judiciais por reintegração de posse teria aumentado.

"O que percebemos no nosso município é que para os pequenos as coisas só estão piorando. Após a eleição a gente já vê que aumentou o número de ação judicial, aumentou o número de pedido de reintegração de posse. A gente já vê fazendeiros falando mais alto, se sentindo mais no direito, e uma outra coisa é a questão do desmatamento. Até mesmo os pequenos estão achando que vai ser liberado o desmatamento, a gente vê ele [Bolsonaro] na mídia falando que quer aumentar a área de desmatamento na região amazônica, tirar de 20%, aumentar essa cota. Então isso foi uma empolgação para as grandes. Os pequenos, para eles, são invasores. As coisas não vão ser fáceis daqui para frente, é o que estamos percebendo", ponderou.

Joaquim Bello vai na mesma linha de percepção. De acordo com ele, a resistência terá de ser mais forte do que nunca, sobretudo diante de dados nada animadores – relatório da ONG britânica Global Witness, que mede a violência contra defensores do meio ambiente, contabilizou 57 mortes no Brasil em 2017 –, seguindo preceitos conhecidos e que custaram a vida de Chico Mendes.

"Desde [o início da] história do nosso país, há 500 anos, esse sistema predatório que a gente está conversando aqui sempre marginalizou, sempre escravizou, e essa luta que vem tanto dos povos indígenas como da nossa tem sido pela liberdade o tempo todo. Por isso que nessa história toda, no processo do povo brasileiro em que estamos inseridos, é lutar pela liberdade, por ter direitos, para ser reconhecido como cidadão de verdade, para que a gente possa conviver de maneira harmoniosa com todo mundo", concluiu.

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