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BNDES apoia avanço da vacina brasileira de dose única contra a dengue

Anvisa aprova imunizante do Instituto Butantan, financiado pelo BNDES, que oferece alta eficácia e deve integrar o calendário nacional já em 2025

BNDES apoia avanço da vacina brasileira de dose única contra a dengue (Foto: Jose Felipe Batista/Comunicação Instituto Butantan)

247 - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu o registro definitivo para a primeira vacina de dose única contra a dengue no mundo, desenvolvida pelo Instituto Butantan. A decisão foi formalizada nesta quarta-feira, 26, por meio de um termo de compromisso que encerra um ciclo de pesquisas iniciado há mais de uma década. A informação é da própria Anvisa e do Instituto Butantan.

O desenvolvimento do imunizante Butantan-DV contou com apoio decisivo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financiou etapas-chave dos ensaios clínicos e a infraestrutura necessária para a produção em escala.

Eficiência elevada e potencial para mudar o cenário epidemiológico

A Butantan-DV apresentou eficácia geral de 74,7% e de 91,6% contra formas graves da doença, protegendo contra os quatro sorotipos do vírus. Os números surgem no momento em que o Brasil enfrenta sucessivos recordes de casos: foram mais de 1,6 milhão de registros prováveis apenas neste ano e 6,5 milhões em 2024, quatro vezes mais que em 2023.

Para a Anvisa, o impacto pode ser profundo. Segundo a agência, a vacina tem potencial para reduzir atendimentos ambulatoriais, hospitalizações e mortes relacionadas à dengue.

O diretor-presidente da Anvisa, Leandro Safatle, destacou o caráter nacional da inovação. “É fonte de orgulho para Anvisa avançar com o registro de uma tecnologia desenvolvida e feita no país, pelo Instituto Butantan, uma vacina que vem sendo desenvolvida há algum tempo e teve apoio expressivo do BNDES e do Ministério da Saúde”, afirmou.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também celebrou o avanço. “Hoje é um dia de vitória da vacina, da ciência e da cooperação entre o SUS e as instituições públicas espalhadas pelo país”, declarou.

Financiamento estratégico do BNDES

O apoio do BNDES foi determinante em momentos distintos da pesquisa. Em 2017, o Banco destinou R$ 97,2 milhões para ensaios clínicos e a construção de uma planta de escalonamento da vacina. O recurso, não reembolsável e proveniente do Fundo Tecnológico (BNDES Funtec), correspondeu a 31% do investimento total de R$ 305,5 milhões.

Antes disso, em 2008, o BNDES já havia aportado R$ 32 milhões na Fundação Butantan para o desenvolvimento de vacinas contra rotavírus, dengue e leishmaniose canina.

O presidente do Banco, Aloizio Mercadante, afirmou que a aprovação reforça a política de inovação apoiada pelo governo federal. “O apoio do BNDES ao desenvolvimento da vacina e à infraestrutura do Instituto Butantan mostra como o investimento público de qualidade salva vidas. ‘É uma conquista da ciência brasileira e uma vitória da saúde pública’”, declarou.

Inclusão no PNI e capacidade de produção

A vacina deve ser incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 2025. O Instituto Butantan já possui mais de 1 milhão de doses prontas para distribuição e poderá produzir mais de 30 milhões de unidades apenas no primeiro semestre de 2026.

O diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, destacou o alcance do investimento público. Ele lembrou também o aporte de R$ 386 milhões do BNDES, via Programa BNDES Mais Inovação, para a nova planta de biotecnologia dedicada ao desenvolvimento de bancos de vírus e células.

O superintendente de Desenvolvimento Produtivo e Inovação do BNDES, João Pieroni, reforçou a amplitude do projeto. “A vacina brasileira do Butantan contra a dengue contou com enorme apoio do BNDES. Desde 2008, o Banco contribuiu para o desenvolvimento dos estudos clínicos da fase 2 e da fase 3, que se constitui no maior ensaio clínico já realizado no país, com mais de 17 mil voluntários, além da construção da unidade industrial da vacina, com capacidade de produzir 60 milhões de doses por ano. É um exemplo da relevância do financiamento de longo prazo e uma vitória da ciência brasileira”, afirmou.

O diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Jarbas Barbosa, destacou o impacto continental da doença. “A dengue é um problema grande de saúde pública. No ano passado, do norte da Argentina ao sul dos Estados Unidos. Treze milhões de casos e nove mil mortes nas Américas. É um momento de celebrarmos uma vacina de uma dose segura e eficaz”, disse.

Crescimento dos investimentos em saúde

O BNDES registra expansão expressiva no setor. Apenas no último ano, foram aprovados R$ 4,8 bilhões em financiamentos para o complexo industrial e de serviços da saúde — alta de 140% em relação a 2023 e de 280% comparado a 2022. Desde janeiro de 2023, o total aprovado chega a R$ 6,8 bilhões, um recorde histórico.

Importância da imunização

O diretor médico de desenvolvimento clínico do Butantan, José Alfredo Moreira, reforçou que a vacinação é um complemento indispensável às ações de combate ao mosquito. “A vacina é de suma importância na estratégia de prevenção. O pilar antivetorial também é, mas tem lacunas na sua eficiência. E a vacina complementará, será mais um instrumento para diminuir os casos sintomáticos de dengue”, explicou.

Doença ainda desafia a saúde pública

A dengue, doença febril causada pelos sorotipos DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, provoca febre alta, dores no corpo, vermelhidão e mal-estar geral. Em parte dos casos, o quadro pode se agravar após a primeira semana, levando a sangramentos, queda de pressão ou choque. Crianças pequenas, idosos, pessoas com comorbidades e imunossuprimidos são os mais vulneráveis.

A gravidade também varia conforme o histórico de infecções: uma segunda dengue aumenta o risco de complicações.

Instituto Butantan: referência continental

Maior produtor de vacinas e soros da América Latina, o Instituto Butantan abastece o Brasil com imunobiológicos fundamentais, incluindo 100% das vacinas contra influenza utilizadas na campanha nacional. A instituição também é líder na produção de soros contra animais peçonhentos, toxinas bacterianas e o vírus da raiva.