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Brasil vive "tempestade perfeita" com aumento de mortes por Covid-19, avalia sociólogo

Com o agravamento da pandemia, o Brasil registrou em março a menor diferença entre óbitos e nascimentos do país. Agora, em abril, a tendência é que essa lacuna diminua ainda mais e, para entender melhor esse fenômeno, a Sputnik Brasil conversou com o sociólogo Antonio Marcelo Jackson

(Foto: Chico Batata/Divulgação | Marcos Corrêa/PR)
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Sputnik - De acordo com pesquisadores que estudam a população brasileira, o mês de abril pode ficar marcado na história por um fato inédito causado pela pandemia: o país pode registrar, pela primeira vez, mais mortes do que nascimentos no período de 30 dias.

Segundo os estudos demográficos realizados no país, nos últimos 120 anos a população brasileira só cresceu. No início do século XX, o país somava menos de 20 milhões de brasileiros, enquanto agora, no início da segunda década do século XXI, a população já supera os 200 milhões de habitantes.  

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Nas últimas décadas, no entanto, a tendência de crescimento diminuiu, com uma queda gradual no número de nascimentos, o que reduziu a diferença entre nascimentos e óbitos. Porém, mesmo com famílias menos numerosas, o país seguiu crescendo. 

De acordo com as previsões do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essas duas linhas — nascimentos e óbitos — só deveriam se cruzar em 2047. No entanto, com a chegada da pandemia, e seu efeito avassalador na sociedade brasileira, esse espaço de tempo provavelmente será reduzido. 

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Segundo um levantamento realizado pelo Jornal da Globo, o mês de março de 2021 registrou a menor diferença entre nascimento e óbitos dos últimos anos. Essa redução ocorreu principalmente pela explosão de mortes nesse mês, que foi o mais mortal da pandemia. Só para se ter uma ideia do tamanho do problema, ao se comparar março deste ano com março de 2020, quando o país já estava sendo afetado pela crise sanitária, o número de óbitos em 2021 foi 63% maior.

Agora, no mês de abril, os números já indicam uma situação inédita: "Do dia 1º a 6 de abril, pela primeira vez na história brasileira, o número de óbitos é maior do que o número de nascimentos", afirmou o doutor em demografia José Eustáquio Diniz Alves, citado pelo Jornal da Globo.

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Para Antonio Marcelo Jackson, cientista político, sociólogo e professor do Departamento de Educação e Tecnologias da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Minas Gerais, esses números indicam que o Brasil está vivendo o que pode ser chamado de uma "tempestade perfeita".

"De um lado, é possível identificar que, nos últimos anos, o número de nascimentos vem caindo no Brasil, e todos os demógrafos confirmam isso. Só que, de outro, sem dúvida alguma, a pandemia está somada a uma absoluta falta de logística, a relações internacionais pífias e à falta de empenho do governo federal, elementos que contribuíram bastante para que esse quadro seja agravado, ou seja, temos uma lamentável reunião de fatores, cujo resultado é esse", um número de óbitos maior que o de nascimentos, afirma Jackson em entrevista à Sputnik Brasil

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Para Jackson, caso o país continue nessa crescente de óbitos, com sucessivos recordes diários de falecimentos provocados pela Covid-19, as consequências podem ser muitas.

Na opinião do professor da UFOP, primeiro, será necessário verificar qual é a faixa etária e quais as profissões que mais estão sendo afetadas com os óbitos, para que se saiba, no curto prazo, quais são as áreas que deverão absorver inicialmente esse impacto.

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Em segundo lugar, o cientista político e sociólogo ressalta que, dependendo da localidade, essa mudança demográfica também altera a relação política, "na medida em que a proporção será alterada e o coeficiente eleitoral também".

Por fim, caso as condições atuais sejam mantidas, "quando finalmente conseguirmos escapar da pandemia", diversas localidade do país, se não o Brasil como um todo, serão inevitavelmente lugares bastante diferentes do que vemos agora.

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O professor da UFOP, no entanto, assinala que, caso haja uma mudança profunda no combate à pandemia, com a evolução do programa de vacinação contra à Covid-19, essa tendência poderá ser revertida. Contudo, ele ressalta que ainda é muito cedo para saber qual será a tendência, se haverá retração demográfica ou aumento da população.

De acordo com Jackson, o Brasil já vinha demonstrando uma redução no crescimento populacional nos últimos anos e que, "ao contrário do que se possa imaginar", essa queda foi percebida nos anos de bonança econômica.

"Se tomarmos como um caso isolado o ano de 2010, que foi o final do governo Lula, a época em que o Brasil chegou a 7,5% de crescimento do PIB e desemprego de 5,3% da população economicamente ativa, o Nordeste, por exemplo, apresentou queda nos nascimentos. Isso já estava ocorrendo desde os anos imediatamente anteriores. Aliás, essa queda no número de crescimento [populacional] foi identificada em todas as regiões do Brasil, em maior ou menor grau", comenta.

Nesse sentido, o professor da UFOP explica que, quando há um crescimento econômico e emprego pleno, há uma espécie de retração nos nascimentos. Segundo ele, as razões que explicam essa tendência são muitas, que vão "desde a certeza de que a qualidade de vida será garantida com menos indivíduos no núcleo familiar, até mesmo o receio de que aquilo que se vive é temporário".

Para Jackson, o mito da família extensa em um ambiente pobre, que existia no passado, estava muito mais relacionado às características econômicas, como, por exemplo, a própria natureza do trabalho rural, que era mais intensivo em mão de obra, e a outros fatores, como a ausência de métodos anticoncepcionais amplamente difundidos.

Agora, o professor avalia que o quadro é de absoluta incerteza, pois será preciso "aguardar a vacinação completa da população", para que se faça "o inventário das perdas" e a reflexão do que será possível fazer para a existência de um futuro próspero.

"Até lá, vamos ter que, infelizmente, aguardar e nos resguardar desta loucura que estamos vivendo", conclui Jackson.     

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