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Bruno Paes Manso: Bolsonaro representa ‘república das milícias’

Pesquisador ressalta papel de grupos parapoliciais no assassinato de Marielle Franco e expõe a conexão da extrema-direita com forças milicianas; veja vídeo na íntegra

Jair Bolsonaro e Bruno Paes Manso (Foto: Reprodução/Divulgação)
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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (15/11), o jornalista Breno Altman entrevistou o cientista político e pesquisador Bruno Paes Manso sobre violência policial e a “república das milícias”.

Segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro representaria esse modelo que legitimou o paramilitarismo através do voto, tanto do ponto de vista ideológico, pregando a violência como solução, quanto do ponto de vista mais prático de se relacionar diretamente com milícias.

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“Existe uma relação direta da família Bolsonaro com as milícias no próprio gabinete de Flávio Bolsonaro. Ele contratou a mãe de um dos principais criminosos do Rio de Janeiro, o capitão Adriano, para trabalhar com ele. É uma conexão direta e provada, só que isso não escandaliza as pessoas”, lamentou.

O pesquisador explicou que as milícias ganharam tanto poder que se criou uma elite formada a partir do “discurso do medo”, que foi ganhando poder político e assumindo cargos públicos. De modo que, hoje, a "fronteira entre milícia e Estado está obscura, é difícil saber quem aposta no modelo miliciano de gestão ou no modelo democrático de direito”.

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“A partir do momento que você tem alguém que diz que a Constituição ou as leis atrapalham a polícia e você quer criar um modelo baseado no uso da violência e da força, você tem um problema. Existe uma elite da guerra com um projeto de poder muito específico e que ganha dinheiro com isso, que extrai dinheiro do Estado a partir do discurso do medo. O próprio Bolsonaro desconstrói e desmoraliza as instituições com um discurso da guerra em nome de quem é amigo dele e que vai ganhar dinheiro com ele”, discorreu Manso. 

Para o cientista político, a parte mais grave de todo esse cenário é que, apesar da ideologia de que a violência possa ser uma solução política não ser nova, ela agora conseguiu apoio popular, tanto é que Bolsonaro foi eleito, e se enraizou no pensamento das pessoas. 

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De processo carioca a fenômeno nacional

O pesquisador retomou a história das milícias para explicar como elas chegaram ao patamar atual. O termo “milícia” surgiu em 2005, por acaso, “para caber no espaço do título no jornal como sinônimo de paramilitar”, e se refere a um tipo de negócio criminal típico do Rio de Janeiro. 

Manso contou que, diferentemente de São Paulo, onde a venda varejista de drogas se dá fora do território, no Rio, ela está fortemente vinculada ao controle territorial. Assim, com o tempo foram se estabelecendo facções que disputavam os territórios, “criando um trauma nas pessoas que testemunharam essa violência e gerando uma relação com a polícia que se beneficiava da situação”.

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A polícia cobrava arregos dos chefes dos territórios ou exigia que pagassem espólios para evitar repressões, “e foram percebendo que poderiam dominar os territórios”, vendendo à população um discurso de vacina contra o crime e as drogas.

“Diziam que iam evitar que o tráfico se expandisse, uma ideia comprada inclusive pelas autoridades como uma coisa de autodefesa comunitária. A partir daí diversificaram os comércios, envolvendo-se com grilagem de terras, venda de cigarro pirata, de internet e luz até se associar com o próprio tráfico de drogas para organizar sua venda. Agora, o tráfico de drogas também aderiu a esse modelo. As facções vendem proteção em seus territórios”, contou.

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O poder político das milícias veio, no entanto, de sua relação com os esquadrões da morte, que serviam como solução para a violência na periferia: “Era uma mentalidade de limpeza, de usar a violência para mostrar que a lei existia”.

Manso revelou que Amauri Kruel, homem de confiança de João Goulart, chefe do Gabinete Militar da Presidência, foi o responsável pela formação do primeiro esquadrão da morte do Rio de Janeiro, em 1958.

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“Naquela época não existia a Polícia Militar, o policiamento ostensivo territorial. Aí veio o golpe militar e mesmo depois da transição democrática esses grupos de extermínio continuaram agindo. Só que, antes, eles recebiam dinheiro dos comerciantes, por exemplo, para matar. Depois, eles passaram a cobrar dos comerciantes para que estes pudessem vender. Então na verdade há uma linha de continuidade entre os esquadrões da morte e as milícias”, ponderou.

Segundo ele, em São Paulo houve um esforço mais efetivo para acabar com os grupos de extermínio, o que não ocorreu no Rio, onde as milícias foram se profissionalizando, incluindo pessoas com treinamento profissional nos grupos e estabelecendo relações amistosas com a polícia, para evitar investigações.

Entretanto, o cientista político alertou para o fato de que o processo está se espraiando, deixando de ser um fenômeno somente carioca. Em São Paulo, o sinal de que já existem milícias é a lavagem de dinheiro: “É a gente olhar a relação para empresas e grilagem de terras. Constroem condomínios ilegais, em terras protegidas, e depois deputados anistiam aquela construção. Então o dinheiro que era de traficantes está entrando na economia legal e elegendo pessoas que permitem sua circulação”.

Para desmontar esse sistema, Manso afirmou que a eleição de 2022 é crucial, “e o Rio de Janeiro vai ser estratégico”.

“Marcelo Freixo vem tentando uma aliança com partidos de centro e acho que isso vai ser importante porque sozinho ele não vai conseguir fazer nada, e ele é alguém que tem a força de mudança [vale ressaltar que Freixo presidiu a CPI das Milícias em 2008]. Existe um alto grau de degradação das instituições, hoje quem manda é o crime, então quem chegar no poder vai ter que chegar com muita força para fazer uma reforma da polícia, antes de mais nada”, destacou

Marielle Franco

Manso também falou sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018, e foi taxativo: “Foi a milícia que mandou matar Marielle. Se sabe quem é um dos matadores dela e do motorista Anderson Gomes e que o miliciano é Cristiano Girão. Mas ainda não se sabe quem é o mandante”.

Além disso, outras dúvidas permanecem, segundo o cientista político. Ele explicou que as milícias e o crime organizado tendem a recuar em momentos em que os holofotes estão sobre o Rio de Janeiro, por exemplo durante as Olimpíadas ou, no caso, quando estavam ocorrendo as intervenções resultado da CPI das Milícias. Mas Marielle foi assassinada um mês após as intervenções, o que faz o pesquisador pensar que sua morte tinha a intenção de dar um recado político, não era apenas um ato criminoso.

Ele comemorou que pelo menos agora as investigações estão caminhando, ressaltando para o fato de que, pela relação da polícia com os matadores, o assassinato estava sendo acobertado.

“Mas ainda existem muitas dificuldades, porque estão sendo investigadas pessoas dentro da polícia, que sabem como uma investigação funciona, sabem desviá-la, tentam ludibriá-la, então é muito mais lento o processo”, enfatizou.

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