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Cachoeira de insegurança na Bahia

Moradores de cidade do Recncavo Baiano associam chegada de universidade cidade ao aumento da violncia; especialistas rechaam ideia e indicam que violncia no interior tendncia nacional

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Rebeca Bastos_Bahia247 - Às margens do rio Paraguaçu e no miolo do Recôncavo baiano está a localizada a histórica cidade de Cachoeira, distante 120 quilômetros de Salvador. Com perfil turístico e com uma rica cultura, a cidade também se transformou em um polo universitário com a instalação da Universidade Federal do Recâncavo (UFRB). Apesar de a chegada da universidade movimentar artística e culturalmente o cenário do município, além de trazer benefícios para o comércio e o setor de serviços da região, moradores da cidade consideram a presença da universidade – ou melhor, dos universitários – um dos principais fatores que contribuíram para a crescimento da violência. Por outro lado, especialistas apontam que interior é a bola da vez para os criminosos.

"Hoje ninguém mais vacila com a porta aberta ou ficar passeado na rua após às 22 horas. Quando saio tarde da aula, sempre volto para casa em grupo, ou peço a meu marido para ir me pegar", relata uma dona de casa que não quis ter o nome revelado. Ela também diz que, nos últimos anos, cresceu o número de usuários de maconha e outras drogas no município. A dona de casa atribui aos estudantes da UFRB parte da culpa pelo crescimento da violência vinculada ao tráfico de drogas no município, mas também credita à polícia falta de iniciativa durante muito tempo. Ela e seu marido dizem que todo mundo sabe onde está o problema, pois a cidade é pequena e os bandidos não têm tanto lugar para se esconder.

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Temor

Outro que também acha que acha que a violência é fruto do desenvolvimento da região é dono de um estabelecimento comercial que também pediu sigilo. Ele conta que os comerciantes da cidade estavam todos assustados e alarmados com a possibilidade de terem seus estabelecimentos roubados. "No começo do ano, eram de dois a cinco assaltos por dia". Ele reconhece, no entanto, que a situação melhorou há alguns meses. "Agora, a média é de dois por dia. Estamos vendo mais policiamento na área, e isso intimida os bandidos".

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Mas quem não gosta nada dessa relação dos estudantes com o crescimento da violência é o estudante da UFRB, Toni Sales, que afirma sentir-se incomodado com a situação. "Não é verdade que fomos nós que trouxemos o tráfico para cá, isso já existia antes, não é só universitário que usa droga", protestou. O estudante conta que isto acaba causando um estigma muito negativo para todos os estudantes e que, por conta desta relação, eles acabam sofrendo abordagens policiais diferenciadas: "já sofri abordagem truculenta de policial só por estar junto a um grupo de estudantes", confirmou. Segundo o jovem, este é um assunto discutido na universidade e um dos pontos consensuais é que o uso de drogas pesadas, como o crack por exemplo, é incompatível com uma vida universitária ativa.

O estudante não fecha os olhos, porém, para a violência na cidade e diz que isso acaba mudando o comportamento de todos."Há dois anos, eu andava de bicicleta até de madrugada. Hoje, por uma medida preventiva, não faço mais isso, porque a cidade fica deserta logo cedo". No entanto, Sales ressalva que o aumento da violência não é uma exclusividade de Cachoeira, mas sim um reflexo sentido em outras cidades do interior.

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E esta mudança de comportamento do crime não é apenas uma sensação de assustados moradores do interior, pois segundo dados do Mapa da Violência de 2011, pesquisa realizada pelo Instituto Sagari, com o apoio do Ministério da Justiça, a violência subiu 74% no Nordeste de 1998 a 2008. A constatação mais marcante sobre a Bahia segue uma tendência nacional: a violência migra da capital para o interior. E seis municípios baianos têm taxas mais altas de homicídio do que a capital. Itabuna (98 homicídios por 100 mil habitantes), Lauro de Freitas (94,8), Dias D'Ávila (91,9), Eunápolis (89,6) e Camaçari (60,5). O caso mais grave é o de Simões Filho (152,6 mortes por 100 mil habitantes).

Estudos

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Os dados do estudo são comprovados pelo estudioso especialista em segurança pública Antônio Jorge Melo: ele confirma que está é uma tendência nacional e indica que o vácuo no policiamento no interior é um dos principais fatores que levam a esta migração. O pesquisador lembra que os recentes episódios de assaltos a banco e sequestro no interior são o indicativo mais evidente. "E é claro que com o tráfico de drogas não seria diferente, os bandidos sabem onde vão poder agir com mais liberdade e menos repressão".

Para Melo a universidade trouxa à cidade mais pontos positivos: "Uma universidade traz muitas coisas para uma cidade e com certeza a maior parte do que vem junto é boa. A elevação da educação é um dos fatores positivos, o crescimento do comércio e a oferta de empregos são outras. A parcela de estudantes usuários não pode ser responsabilizada pelo aumento da violência", reflete. No entanto, Melo, que pesquisa a formação de Políticas e Gestão de Segurança Pública como professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), reconhece que os valores consumistas, somados à sensação de impunidade e falta de perspectivas de um futuro melhor acabam puxando muitos jovens para a criminalidade.

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Professor e diretor do Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL) da UFRB, Xavier Gilles Vatin não ignora a existência de estudantes usuários de drogas, mas não admite que eles sejam responsabilizados pelo crescimento do tráfico. "Há uns oito anos, antes da chegada da UFRB, já existia tráfico de drogas e de crack aqui na cidade. É uma irresponsabilidade creditar aos estudantes este problema da sociedade contemporânea".

Ele acrescenta que "o uso de maconha não é nenhuma novidade em Cachoeira", um dos berços do reggae na Bahia. Para ele, as vantagens de ser cidade universitária acabam sobrepondo-se às desvantagens: "Hoje, cerca de 15% dos alunos da UFRB são moradores da região que antes não tinha oportunidade de ingressar no ensino superior". Mas o professor diz que o (CAHL) está com uma pesquisa multidisciplinar de análise dos impactos da universidade na região em curso e em breve a sociedade poderá se debruçar sobre está análise.

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Briga de polícia e bandido

Bem ao estilo de briga de polícia e bandido, um episódio acabou se tornando um dos fatos mais noticiados da última semana. O delegado Laurindo Neto, empossado há quatro meses, chegou a oferecer a recompensa de R$ 1 mil do próprio bolso a quem desse informações do paradeiro de Edmilson Bispo dos Santos, o Júnior, apontado como o bandido mais procurado do Recôncavo. Acusado de diversos crimes – entre eles, roubos, assaltos e homicídios na região –, ele também fundou e é principal líder do Primeiro Comando do Interior (PCI) e ficou conhecido como maior traficante de drogas e produtos contrabandeados da região. Neto, no entanto conta com o desafio de enfrentar o combate ao tráfico com efetivo de apenas dois policiais civis por plantão.

Antes de Melo, a delegada da região era Márcia Gonçalves, que foi acusada pelo comandante da 27ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), de Cruz das Almas, Major Domingos José Correia, de manter ligações com traficantes de drogas. As denúncias foram feitas nesta sexta-feira em dezembro de 2010. Meses depois, a delegada foi afastada do cargo sem maiores explicações.

A assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que está a par da situação do Júnior e que inclusive vai incluí-lo no famoso baralho do crime, mecanismo criado pela SSP para listar e procurar os bandidos mais procurados do estado. Há três dias, a reportagem solicitou os dados sobre a segurança pública da cidade, mas a secretaria não os forneceu.

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