Caso de negligência mobiliza pais de alunos do Mackenzie em Brasília
Um fio desencapado quase causou uma tragdia numa das escolas privadas mais exclusivas da capital federal. Leia o relato dos pais
Rodolfo Borges_247, de Brasília - Um fio desencapado e a falta de preparo dos educadores quase terminou em tragédia no colégio Mackenzie de Brasília. No início do mês, Warlley Sullivan Covre foi chamado ao colégio para buscar o filho, que havia se machucado. O relato que segue abaixo tem levado à caixa de e-mails de Warlley cerca de 15 mensagens por dia, todas de pais com filhos no mesmo colégio se solidarizando, relatando negligências e anunciando que também vão retirar seus filhos da instituição. Segue a nota escrita pela família para elucidar o ocorrido:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Este comunicado destina-se a todos aqueles que vem acompanhando o acidente envolvendo nosso filho, Luca Vallocci Covre, no Instituto Presbiteriano Mackenzie.
Na última segunda-feira, dia 02 de maio de 2011, às 16h26, recebemos um telefonema da coordenadora Adriana dizendo única e simplesmente o seguinte:
“O Luca machucou a mãozinha e não pára de chorar. Ele está bem, mas está chorando muito. Queria saber se você poderia vir buscá-lo”. Ponto. Nada além disso.
Graças à flexibilidade do meu horário pude ir imediatamente. Houve também uma boa quantidade de sorte pois eu me encontrava na Asa Sul e consegui chegar à escola em 15 minutos (trabalho em Taguatinga, e se lá estivesse, levaria mais tempo para encontrar meu filho). Intrigado, cheguei a comentar com minha esposa no caminho a minha apreensão. “Calma... Se fosse algo sério eles o teriam levado para o hospital”, disse Giselle. Ledo engano.
Ao chegarmos ao prédio infantil, uma funcionária nos recepcionou dizendo que meu filho se encontrava na enfermaria do prédio principal e para lá nos conduziu. De longe avistamos Adriana, que tentou até bancar a descontraída: “Puxa! Veio a família toda!”. Foi aí, e somente aí, que o ocorrido foi revelado (e da seguinte forma): “Olha, poderia ter sido pior... Mas o Luca pegou em um fio desencapado e...” Quando ouvimos o enredo, aceleramos o passo agora desesperados para ver nosso menino. Ao entrarmos na enfermaria, lá estava o Luca deitado no colo da professora Rose, já exaurido de tanto chorar, e – pasmem – segurando duas gazes molhadas. Ao nos ver, Luca desmoronou e pôs-se a chorar compulsivamente.
Naquela hora um milhão de perguntas me vieram à cabeça. Mas eu só conseguia me focar em duas coisas: as mãos do meu filho. Eram vergalhões em carne viva, além de um buraco, na mão direita, onde se via claramente a carne queimada. A única atitude coerente num quadro daquele (por menos óbvio que possa parecer para alguns) era leva-lo a um hospital.
A epopéia hospitalar à qual meu filho foi submetido é bastante extensa, por isso vou adiantar até o dia seguinte, terça-feira, quando, foi atendido por uma das maiores especialistas em queimados do DF. Ao retirar os curativos das mãos do meu filho, a doutora mostrou-nos a carne necrosada. Começou, então, a identificar quais eram queimaduras de 2º grau (duas) e 3º graus (também duas). Iniciou a retirada da pele morta e, já daí, Luca chorava e era contido por nós e outras enfermeiras. Ferida limpa, a médica explicou-nos que o pior viria agora, com a aplicação de uma pomada que era responsável pela “descamação” desse tecido necrosado. A tal pomada era muito, muito, MUITO ardida (não só no ato da aplicação, mas por, pelo menos os 20 minutos seguintes). Perguntamos se não havia alternativa a esse tratamento. “Sim, há uma alternativa. É retirar o tecido morto cirurgicamente”, disse ela.
Numa reação que deve ser instintiva de qualquer pai, refutamos de imediato a radical alternativa. Diante da nossa negativa, pôs-se então a ministrar a tal pomada nas lesões do meu filho. Imediatamente eu e Giselle vimos que a cirurgia seria inevitável. Luca urrava. Ele gritava palavras desconexas e arqueava o corpinho como se estivesse sendo marcado com ferro em brasa. Se, de fato, optássemos pela terapia da pomada, todo aquele suplício se repetiria a cada dia sim, dia não, quando fosse trocar os curativos DURANTE TRÊS SEMANAS. Instintivamente como qualquer pai ao ver uma cena daquela, agora implorávamos pela cirurgia.
Às 8h30 da manhã de quarta-feira nosso filho foi colocado para dormir sob efeito de anestesia geral e, pelas mãos da competentíssima doutora, teve seu calvário encurtado em alguns dias. A carne necrosada foi retirada e uma sutura foi feita no ferimento onde havia um buraco. Mais que minimizar a dor, a operação foi indicada para agilizar a cicatrização e evitar possíveis infecções, tão comuns e temidas em casos de queimaduras.
Luca está se recuperando bem. É um garoto forte e cheio de vida. Infelizmente foi marcado tão prematuramente pelas cicatrizes que a vida costuma impor. E, pior, cicatrizes essas adquiridas no local onde sua segurança era presumidamente total.
Muito nos confortou saber que um grupo de pais solicitou uma audiência na escola para que esta apresentasse sua versão. Alguns pais até mobilizaram a imprensa dizendo que tal episódio não poderia ser omitido. Entendemos a revolta deles. Mas nossa intenção primeira sempre foi restabelecer a saúde do Luca. Mesmo tendo exercido a profissão de jornalista por muitos anos e ainda dispor de inúmeros contatos no meio, não nos interessava levar para a TV ou aos jornais um episódio que deveria ser tratado entre as partes envolvidas. Mas o jornalismo tem seus meios e nossa história foi a público. Continuamos a ter a saúde de nosso filho como prioridade, mas tem nos desagradado imensamente as versões que o Instituto Presbiteriano Mackenzie vem divulgando. Soubemos, por exemplo, que nessa referida reunião a coordenadora Adriana chegou a minimizar o ocorrido dizendo, inclusive, que o procedimento ao qual o Luca foi submetido não foi sequer uma “cirurgia”, mas apenas uma “raspagem”. Bem, reside aí uma grande interrogação. Como poderia essa senhora saber o tipo de tratamento que meu filho recebeu se sequer tem contato conosco? Além da pedagogia ela é também versada em medicina? Se o for, ajude-me pois meu filho de três anos recebeu uma anestesia geral e a própria médica (aquela profissional que possui um CRM, sabe?) só se refere como “cirurgia” ao que foi feito. Adiantou-nos, inclusive, da necessidade que nosso filho terá de algumas sessões de fisioterapia devido ao local das lesões. Gostaríamos que ficasse bastante claro aos pais que estão acompanhando essa história que nada, repetindo, NADA que o colégio Mackenzie disser sobre o que foi feito da escola pra fora ou estado de saúde do Luca ou gravidade de seus ferimentos é oficial. Não estamos compartilhando absolutamente qualquer notícia com a instituição primeiro pela falta de razão para fazê-lo e segundo por um aparente desinteresse da mesma já que nos procuraram apenas durante as 24 horas seguintes ao ocorrido.
É imperativo salientar, entretanto, que alguns funcionários do Mackenzie terão de nós uma eterna gratidão pela assistência dada ao nosso filho. Tia Rose, pela instintivo puxão que deu no Luca ao ouvi-lo gritar. Tia Sara, a “maratonista” que, a despeito de sua arritmia cardíaca, correu com meu filho nos braços até a enfermaria enquanto ele chorava pedindo ajuda e dizendo o quanto doíam suas mãozinhas. Aproveitamos a oportunidade para agradecer a todos os pais de alunos que nos contataram, que viram em nossa dor um motivo para indignar-se e cobrar da escola explicações para o inexplicável. Luca aguarda todos os amiguinhos para virem visitá-lo. E a nós, os pais, resta dizer muito, muito, muito obrigado pelas palavras de carinho e manifestos de apoio.
O pai, Warlley Sullivan Covre.
A mãe, Giselle Vallocci Covre.
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