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David Miranda clama por asilo a Snowden

Em carta aberta aos brasileiros, estrategista de marketing diz que as informações reveladas pelo ex-agente beneficiam o Brasil ao tornarem evidente a precariedade de nosso sistema de comunicação; ainda segundo o brasileiro que foi detido no aeroporto de Londres levando documentos de Snowden a seu companheiro Glenn Greenwald, se ele for preso, nunca mais “ouviremos uma palavra desse homem que tanto nos ajudou”

Em carta aberta aos brasileiros, estrategista de marketing diz que as informações reveladas pelo ex-agente beneficiam o Brasil ao tornarem evidente a precariedade de nosso sistema de comunicação; ainda segundo o brasileiro que foi detido no aeroporto de Londres levando documentos de Snowden a seu companheiro Glenn Greenwald, se ele for preso, nunca mais “ouviremos uma palavra desse homem que tanto nos ajudou” (Foto: Roberta Namour)

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247 – Em carta aberta dirigida aos brasileiros, o estrategista de marketing David Miranda tenta sensibilizar a população ao pedido de asilo do ex-agente Edward Snowden ao governo de Dilma Rousseff. Companheiro do jornalista Glenn Greenwald que revelou o esquema de espionagem dos EUA, ele ficou detido durante dois dias aeroporto de Heathrow.

Leia o documento publicado na Folha de S. Paulo:

Carta aberta aos brasileiros

Se Snowden for preso, nunca mais ouviremos uma palavra desse homem que tanto nos ajudou. Temos o dever de proteger os seus direitos

Um importante tema tomou conta dos debates em todo o mundo, nos últimos meses: a espionagem praticada pelos Estados Unidos.

Esse debate só é possível porque um homem corajoso sacrificou sua vida, suas amizades, sua liberdade e seu trabalho e abriu mão de seu próprio país. Esse homem é Edward Snowden, ex-agente de inteligência do governo dos Estados Unidos.

Eu, David Miranda, pude sentir na pele o quão perigoso é se envolver em relações entre países, em especial no tocante a abuso de poder.

Em agosto deste ano, fiquei detido por nove horas, sendo interrogado sem intervalos, arbitrariamente, no aeroporto de Londres, no Reino Unido. Hoje, o governo desse mesmo país acusa a mim e aos jornalistas que trabalham com histórias sobre terrorismo de sermos criminosos, por supostamente cooperarmos com essa prática.

O Brasil foi um dos países mais espionados pela agência de espionagem norte-americana, a NSA (Agência de Segurança Nacional). Devido às informações que Snowden tornou públicas ao repassá-las ao meu parceiro, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, conseguimos entender como a NSA espiona a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e seus ministros de Estado mais próximos.

Também pudemos conhecer os métodos de espionagem aplicados contra a Petrobras e contra a população brasileira, que tem por mês cerca de dois bilhões de e-mails e ligações rastreados pela agência.

Então, pelas razões aqui expostas, eu comecei uma campanha para que o meu país conceda asilo para Edward Snowden, acusado pela Justiça dos Estados Unidos por furto de propriedade do governo e por revelar informações secretas de defesa nacional e de inteligência. No solo de seu próprio país, ele poderia ficar até 30 anos preso.

As informações reveladas por meio de Snowden beneficiam o Brasil ao tornarem evidente a precariedade de nosso sistema de comunicação. Se hoje temos papel de destaque no debate internacional sobre a regulamentação da internet, isso se deve ao conhecimento que ele nos possibilitou adquirir.

No trabalho que venho fazendo com o meu parceiro, Glenn Greenwald, pude ver a reação do público brasileiro, calorosa e indignada com o tratamento dado a esse homem. Paradoxalmente, também tive contato com pessoas que dizem não se importar de serem espionadas, porque, argumentam, "não têm nada a esconder".

A questão é outra. Não se trata da coleta de dados feita pelo governo norte-americano e seus aliados. Trata-se de um comportamento ao qual ainda não sabemos como reagir, especialmente por causa da dúvida que paira sobre o papel da internet no cenário mundial. Será que a rede continuará sendo uma ferramenta de liberdade de expressão, comunicação e criatividade, ou será que ela se tornará um poderoso instrumento de governo para monitorar e controlar a população?

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Brasil e outros 47 países, liderados pelos Estados Unidos, assinaram a Declaração Universal de Diretos Humanos, com o intuito de resguardar os direitos mais fundamentais das pessoas.

Neste momento, venho pedir, como cidadão brasileiro, para que o meu país honre esse tratado e conceda asilo a Snowden. Se ele de fato for preso, nunca mais poderemos ouvir uma palavra dita por esse homem que tanto nos ajudou e pode nos ajudar ainda mais. Temos o dever de proteger os seus direitos.

Com este artigo, eu venho pedir a você, leitor, para se juntar a todos que procuramos trabalhar por um futuro no qual a privacidade e os direitos humanos sejam preservados.

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