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Derrite é visto com extrema “soberba” e postura irrita até aliados do centrão

Deputado enfrentou forte reação após tentativa de limitar poderes da Polícia Federal; votação do projeto foi adiada por pressão política e governadores

Guilherme Derrite (Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)

247 - Lideranças do centrão se irritaram com a postura do deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) na condução do projeto de lei antifacção, uma das principais apostas do governo Lula (PT) para a área de segurança pública. A informação é da Folha de S.Paulo.

Segundo integrantes do grupo, Derrite demonstrou “soberba” ao apresentar o relatório sem consultar previamente aliados, o que teria levado a desgastes desnecessários dentro e fora da base parlamentar. 

O texto inicial do parlamentar tentou reduzir as atribuições da Polícia Federal (PF) no combate ao crime organizado — medida que foi amplamente criticada e posteriormente retirada.Com a repercussão negativa, Derrite recuou sucessivas vezes até acatar diversas sugestões do Executivo. Ainda assim, o desconforto foi generalizado tanto entre governistas quanto na oposição. A pressão de governadores e líderes partidários fez o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), adiar a votação do projeto para a próxima terça-feira (18).

Nos bastidores, parlamentares avaliam que a condução do caso enfraqueceu a imagem de unidade do centrão e deu fôlego à esquerda, que passou a associar a proposta de Derrite à PEC da Blindagem — medida criticada por reduzir a transparência e dificultar investigações contra políticos.

O episódio também ocorre em um momento sensível para o governo Lula na área de segurança. Em outubro, o presidente foi alvo de críticas após afirmar que traficantes também seriam “vítimas de usuários”, e, depois, classificar como “matança” e “ação desastrosa” a operação policial contra o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos — a mais letal da história do país.

Para líderes do centrão, Derrite ignorou o impacto político que alterações em temas sensíveis poderiam causar. Deputados afirmaram à Folha que, em pautas de alto risco, é prática comum submeter as propostas a uma leitura prévia coletiva, o que o relator teria dispensado por confiar em sua própria experiência.
“Ele é um dos que mais entendem de segurança pública, mas achou que não precisava dividir o texto antes de apresentar. O resultado foi um erro político que poderia ter sido evitado”, avaliou um integrante do grupo sob reserva.

A tensão também atinge o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem Derrite é aliado próximo e atual secretário de Segurança Pública licenciado. Parte das lideranças teme que o desgaste respingue no projeto político do governador, apontado como um dos possíveis candidatos à Presidência em 2026.Hugo Motta, responsável por escolher Derrite como relator, também passou a ser cobrado por colegas sobre as estratégias e orientações adotadas. Apesar do revés, o centrão tenta agora realinhar a articulação para evitar novas crises internas antes da votação da proposta.