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Do escravagismo à integração: imigração chinesa ao Brasil completa 210 anos

Em 1812, quando o Brasil era uma colônia portuguesa, o navio Vulcano, vindo da também então colônia lusitana Macau, desembarcou no Rio de Janeiro com cerca de 400 chineses

(Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Leonardo Sobreira, de Pequim (247) - 2022 marca o aniversário de 210 anos da chegada dos primeiros imigrantes chineses ao Brasil. Em 1812, quando o Brasil era uma colônia portuguesa, o navio Vulcano, vindo da também então colônia lusitana Macau, desembarcou no Rio de Janeiro com cerca de 400 chineses plantadores de chá-verde.

Embora o cultivo da planta não tenha sido bem-sucedido, a vinda de chineses para exercer o trabalho braçal nas lavouras sob o sistema escravagista ‘coolie’ foi estimulada pelas autoridades reais e pela elite agrária durante boa parte do século 19. Preocupado com a escassez de mão-de-obra nas lavouras, o governo imperial emitiu em agosto de 1870 decreto garantindo por dez anos a vinda de milhares de chineses ao país.

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O historiador Silvio Cezar de Souza Lima, em artigo, observa que a mão-de-obra chinesa era vista no Brasil como uma transição entre o trabalho escravo e o livre, que seria depois substituído pelo trabalhador “civilizado”, vindo da Europa. Em vista disso, tanto abolicionistas como conservadores se opuseram ao decreto de 1870, com alguns propagando teses racializadas e eugenistas em favor da vinda do europeu, tido como “civilizado”.

Seus esforços obtiveram sucesso por um curto período, levando o novo governo republicano a promulgar, em 1890, após a abolição da escravidão, decreto que restringia significativamente a vinda de imigrantes da África e da Ásia. A medida foi revertida em 1892, mas Souza Lima pontua: “é de extrema relevância o fato de o Estado iniciar uma política que dificultava a imigração de não-brancos (negros e asiáticos, principalmente), enquanto incentivava a imigração de europeus”.

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Ao longo de todo o século 19, cerca de 3 mil chineses emigraram ao Brasil, número significativamente menor que a presença chinesa em outros países da região. Em 1876, o censo no Peru registrou 49.956 chineses, enquanto a população do país era de 2.699.160. No entanto, entre 1849 e 1876, quase metade deles morreram de exaustão, suicídio ou maus-tratos. Cuba também contou com grande imigração chinesa, assim como outros países caribenhos. No primeiro, em 1874, mais de 125.000 chineses foram trazidos para o país. Os cubanos chineses muitas vezes lidavam com o isolamento da sociedade até a ampla participação do grupo na Revolução Comunista, que impôs políticas raciais normalizando a nacionalidade desse grupo.

No Brasil do início do século 20, o debate ainda tomava formas extremamente racializadas, mas ao longo das próximas décadas as restrições foram sendo afrouxadas. Com a turbulência política na China perdurando de 1930 até 1970, produto da Guerra Civil, da Segunda Guerra Mundial e da ocupação japonesa, muitos chineses emigraram para o Brasil em busca de novas oportunidades.

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“Mudávamos muito de região, por causa da Guerra Civil. Não consegui estudar lá (na China)”, contou Rubens Chang Chung Lin, que veio para o Brasil em 1950, aos oito anos de idade, ao jornalista Guilherme Botacini, da Folha de S. Paulo, em 2020.

Chang contou ainda que seu pai, sem conhecer chineses no Brasil, pretendia instalar uma fábrica de papel no País. A família passou pelo Paraná e Paraíba antes de se estabelecer definitivamente em São Paulo, hoje o maior centro de imigrantes chineses no Brasil. Estima-se que cerca de 130 mil chineses e descendentes moram em São Paulo, de um total de cerca de 200 mil ao redor do país.

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“Quando decidimos vir, minha família comprou um monte de livro sobre o Brasil. Mas eram livros de viagens e, quando chegamos ao Paraná, não tinha nada a ver”, disse ele. “Mas tenho excelentes memórias da minha infância no Brasil”.

“Sou mais brasileiro que chinês”, acrescentou Chang, que completou 70 anos no Brasil.

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Paloma Luo, uma jovem brasileira filha de pais chineses que emigraram na década de 1990, contou ao Diário de Penambuco neste ano que seu sentimento é o mesmo, mas que não se encaixa 100% no Brasil nem na China, problema que afeta muitos imigrantes.

“Eu me sinto mais brasileira”, disse ela, que foi alfabetizada tanto em chinês como em português.

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“Eu não me encaixo totalmente na cultura brasileira, mas também não me encaixo na cultura chinesa. Eu tenho as duas culturas incorporadas, de forma híbrida”.

Sancionado em 2018, o Dia Nacional da Imigração Chinesa passou a ser comemorado no Brasil no dia 15 de agosto. A data comemora a chegada de 107 imigrantes chineses em São Paulo e celebra a contribuição inestimável dessa civilização para a cultura e economia do Brasil. 

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