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Documento revela como caiu o Movimento de Libertação Popular

Também chamado de Grupo da Ilha ou Grupo dos 28 na época da ditadura militar no País, o Molipo teve sua queda iniciada com a prisão, em Pindorama, do médico Boanerges de Souza Massa

Documento revela como caiu o Movimento de Libertação Popular (Foto: Edição/247)
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Renato Dias, especial para o Jornal Opção - A queda do Molipo (Mo­­vi­mento de Li­bertação Popular), também chamado de Grupo da Ilha ou Grupo dos 28, teria se iniciado com a prisão, em Pindorama (à época Goiás, hoje Tocantins), do médico, treinado em Cuba, Bo­a­­nerges de Souza Massa. É o que aponta documento obtido no Arquivo Nacional pelo Jornal Opção.

O militante da organização [Boanerges de Souza Massa], uma dissidência da Ação Li­bertadora Nacional (ALN), criada por Carlos Marighella, morto em 4 de novembro de 1969, foi preso com duas carteiras de identidade. Uma com o nome de Julio Martins. Outra sob o registro de Moisés de Leôncio Braga.

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"Ele foi conduzido à Bra­sília e logo em seus primeiros interrogatórios confirmou a presença de terroristas vindos de Cuba. (...) Eram 6 terroristas", informa. Logo depois, relata o informante, "Rui Car­los Vieira Berbert acabou preso em Natividade". Ele morreu dois dias depois.

"Outro terrorista, Jeová de As­sis Gomes, acabou localizado em um campo de futebol, em Guaraí". Ele também morreu. De uma fazenda localizada na região do Rio Lages, entre Araguaína e Wan­der­lândia, conseguiram escapar Sérgio Capozzi, Jane Vanini e Otávio Ângelo, registra o relatório.

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"O sítio fora comprado por um contrato particular por Jeová de Assis Gomes para servir de base ao grupo terrorista que passou a atuar na região". O documento diz que Boanerges de Souza Massa e Rui Berbert atuariam em Dia­nópolis, Almas, Natividade, Ponte Alta e Pindorama.

Já as intervenções de Jeová de Assis Gomes, Jane Vanini e Sérgio Capozzi, trio do Molipo deslocado para deflagrar a guerrilha rural, projeto original da ALN e de Carlos Marighella, seriam em Guaraí, Nova Olinda, Araguaína, Wan­derlândia, Carolina do Norte e Balsas(MA).

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"A morte de Carlos Eduar­do Pires Fleury, cortando o apoio da cidade, a dificuldade de conseguir a legalização dos seus componentes, a desconfiança da população, a malária que afetou dois militantes Rui Berbert e Sérgio Capozzi, marginalizaram o grupo", registra o documento.

Monitoramento

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Os órgãos de segurança nacional e de repressão política monitoravam o Movimento de Libertação Popular (Molipo), uma dissidência da Ação Li­bertadora Nacional (ALN), desde Cuba. É o que aponta documento do Arquivo Nacio­nal obtido com exclusividade pelo Jornal Opção.

O relatório confidencial mostra que ela já sabia da criação do Molipo, em 1970, em Havana, além dos retornos ao Bra­sil de Aylton Adalberto Mortati, Antônio Benetazzo, Arno Preiss, Boanerges de Souza Massa, Flávio Molina, Francisco José de Oliveira, João Carlos Cavalcante.

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Mais: teria retornado à pátria ainda José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-presidente da União Estadual dos Es­tudantes de São Paulo, José Roberto Arantes de Almeida, Lauriberto Reyes, Márcio Beck Machado, Maria Au­gusta Thomaz, Rui Berbert Vieira, além de Natanael de Moura Girardi.

O informe reservado relata que também estariam prestes a retornar Ana de Cerqueira César Corbisier, Ana Maria Palmeira, Frederico Eduardo Ma­yr, Itobi Alves Correa, João Le­onardo da Silva Rocha, João Zeferino da Silva, assim como Vinícius Medeiros Caldevilla.

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Os arapongas registram que foram incorporados ao Molipo no País os militantes André Tsutomu Ota, Artur Machado Scavone, José Carlos Gianini, Pedro Rocha Filho, Silvia Pe­roba Carneiro Pontes. Hiroaki Torigoe, Francisco José de Oliveira e José Ro­berto Arantes aparecem na relação de mortos.

Sem curso

Detalhado, o dossiê sobre a organização de esquerda destaca que os seguintes militantes não teriam feito curso de guerrilha na ilha dos irmãos Castro: Sér­gio Capozzi, Jane Vanini, O­tá­vio Ângelo. Os órgãos de se­gurança registraram as prisões de José Carlos Gianini e de Pedro Rocha Filho.

O informe confidencial R004­6073, cujo título é"Ativi­dades subversivas do Molipo — Lo­ca­lização de subversivos nos municípios goianos de Jataí e Rio Verde" mostra que a execução dos militantes Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck Machado era uma missão oficial dos órgãos de repressão.

"Em 16 de maio de 1973, a­gentes de segurança de São Paulo, Brasília — e de Goiás — trav­aram tiroteio com terroristas da (sic) Molipo, na Fazenda Rio Doce, em Rio Verde. Em ação posterior, o DPF (GO) — cujo diretor regional era Marcus Antonio de Brito Fleury — prendeu Gilberto Me­nezes(GM).

"No depoimento, Irineu Luiz de Moraes destaca que o interesse do grupo subversivo era adquirir ou arrendar terras no sudoeste goiano para a implantação de guerrilha". Tempos depois, Irineu Luiz de Moraes identificaria Marcus Fleury como um dos homens da caçada de Rio Verde, em 17 de ma­io de 1973.

O documento diz que o militante Paulo Miguel Novais afirmou que a ideia básica sua e de Gabriel Prado Mendes e de Irineu Luiz de Moraes era de criar um partido, em "termos de classe operária e de clas­se média,além de grupos de apoio à guerrilha rural".

"Preconizava táticas para uma região estratégica, onde o Estado de Goiás seria a àrea estratégica: Goiânia, Anápolis, zonas táticas. As quais, além de permitirem o recuo das colunas móveis, forneceriam todos os apoios necessários às forças". Não custa lembrar: sob inspiração de Régis Debray e de Marighella.

O sonho do Molipo, porém, acabou no cemitério. O documento não cita a morte de Ar­no Preiss, na região Centro-Oeste, em 1972. Aylton Adal­berto Mortati, José Roberto Arantes e Francisco José de Oliveira morreram em 1971. Flávio Molina também acabou preso e morto. Hiroaki Torigoe é assassinado em 1972.

Fim do sonho

Em 23 de fevereiro de 1972 cai Frederico Eduardo Mayr. No dia 27, Alexander José Ib­sen Voeroes e Lauriberto José Reyes. Em 27 de outubro, An­tonio Benetazzo. Em 30 de ou­tubro, morre João Carlos Ca­valcante Reis. João Leonardo é fuzilado no Nordeste: 1974. Mesmo ano em que morre Jane Vanini, no Chile.

Renato Dias, jornalista e sociólogo, é jornalista e autor de "Luta Armada/ALN-Molipo As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomaz".

 

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