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Brasil

Estilo CQC em xeque: dá para rir da desgraça?

Piada de Danilo Gentili sobre judeus recebe crtica de colunista da Folha, bomba como polmica na rede social e faz o piadista pedir desculpas; o humor politicamente incorreto est com os dias contados?

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247_ É correto fazer humor sobre temas politicamente incorretos? No caso, ainda, dá para fazer piadas sobre questões como o massacre de judeus na 2ª Guerra Mundial pelos nazistas? A julgar pela reação do humorista Danilo Gentili, do programa CQC, da Rede Bandeirantes, este tipo de blague está com os dias contados. Ele próprio fez a sua e, em seguida, pediu desculpas por ela.

Para criticar os moradores de Higienópolis, bairro com forte presença de judeus, em São Paulo, Gentili disparou no twitter a ‘explicação’ do porquê de eles terem assinado um abaixo-assinado contra a instalação, ali, de uma estação do metrô: “a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”.

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O chiste despertou uma irada reação no colunista Marcelo Coelho, do jornal Folha de S. Paulo, para quem Gentili foi “fascista” em seu comentário. A polêmica é a mais comentada desta quarta-feira 18 no twitter.

No entanto, esta não foi a primeira vez – e, provavelmente, não será a última --, que o sucesso televisivo CQC teve uma de suas estrelas envolvidas em polêmica por causa de piadas. Nos espetáculos que costuma apresentar de Stand Up Comedy, o prestigiado Rafinha Bastos – apontado como a pessoa mais influente da rede social, de acordo com pesquisa mundial da empresa Twitalyzer, para o jornal The New York Times – já disparou esta: “um homem que estupra mulher feia não merece cadeia mas um abraço”. A, digamos, piada também levantou polêmica no twitter.

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Leia, abaixo, a reprodução do artigo do colunista Marcelo Coelho, publicado na Folha de S. Paulo sob o título “Politicamente Fascista”

“O comediante Danilo Gentili pediu desculpas pela piada antissemita que divulgou no twitter. A saber, a de que os velhos de Higienópolis temem o metrô no bairro porque "a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz".

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Aceitar suas desculpas pode ser fácil ou difícil, conforme a disposição de cada um. O difícil é imaginar que, com isso, ele venha a dizer menos cretinices no futuro.

Não aguentei mais do que alguns minutos do programa "CQC", na TV Bandeirantes, do qual é ele uma das estrelas mais festejadas. Mas há um vídeo no YouTube, reproduzindo uma apresentação em Brasília do seu show "Politicamente Incorreto", em outubro de 2010.

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Dá para desculpar muita coisa, mas não a falta de graça. O nome oficial do Palácio do Planalto é Palácio dos Despachos, diz ele. "Deve ser por isso que tem tanto encosto lá." Quem o construiu foi Oscar Niemeyer, continua o humorista. E construiu muitas outras coisas, como as pirâmides do Egito.

A plateia tenta rir, mas só fica feliz mesmo quando ouve que Lula é cachaceiro, ou que (rá, rá) o nome real de Sarney é Ribamar. Prossegue citando os políticos que Sarney apoiou; encerra a lista dizendo que ele só não apoiou o próprio câncer porque "o câncer era benigno".

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Os aplausos e risadas, pode-se acreditar, vêm menos da qualidade das piadas e mais da vontade de manifestação política do público. Detestam-se, com razão, os abusos dos congressistas brasileiros. Só por isso, imagino, alguém ri quando Gentili diz preferir que a capital do país ficasse no Rio: "Lá pelo menos tem bala perdida para acertar deputado".

Melhor parar antes que eu fique sem respiração de tanto rir. Como se vê, em todo caso, o título do show não é bem o que parece. "Politicamente incorreto", no caso, faz referência às coisas erradas feitas pelos políticos, mais do que ao que há de chocante em piadas sobre negros ou homossexuais.

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A questão é que o rótulo vende. Ser "politicamente incorreto", no Brasil de hoje, é motivo de orgulho. Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer "incorreto" -e com isso se vê autorizado a abrir seu destampatório contra as mulheres, os gays, os negros, os índios e quem mais ele conseguir.

Não nego que o "politicamente correto", em suas versões mais extremadas, seja uma interdição ao pensamento, uma polícia ideológica.

Mas o "politicamente incorreto", em sua suposta heresia, na maior parte das vezes não passa de banalidade e estupidez.

Reproduz preconceitos antiquíssimos como se fossem novidades cintilantes. "Mulheres são burras!" "Ser contra a guerra é viadagem!" "Polícia tem de dar porrada!" "Bolsa Família serve para engordar vagabundo!" "Nordestino é atrasado!" "Criança só endireita no couro!"

Diz ou escreve tudo isso, e não disfarça um sorrisinho: "Viram como sou inteligente?".

"Como sou verdadeiro?" "Como sou corajoso?" "Como sou trágico?" "Como sou politicamente incorreto?"

O problema é que "politicamente incorreto", na verdade, é um rótulo enganoso. Quem diz essas coisas não é, para falar com todas as letras, "politicamente incorreto". Quem diz essas coisas é politicamente fascista.

Só que a palavra "fascista", hoje em dia, virou um termo... politicamente incorreto. Chegamos a um paradoxo, a uma contradição.

O rótulo "politicamente incorreto" acaba sendo uma forma eufemística, bem-educada e aceitável (isto é, "politicamente correta") de se dizer reacionário, direitista, fascistoide.

A babaquice, claro, não é monopólio da direita nem da esquerda. Foi a partir de uma perspectiva "de esquerda" que Danilo Gentili resolveu criticar "os velhos de Higienópolis" que não querem metrô perto de casa.

Uma ou outra manifestação de preconceito contra "gente diferenciada", destacada no jornal, alimentou a fantasia mais cara à elite brasileira: a de que "elite" são os outros, não nós mesmos. Para limpar a própria imagem, nada melhor do que culpar nossos vizinhos.

Os vizinhos judeus, por exemplo. É este um dos mecanismos, e não o vagão de um metrô, que ajudam a levar até Auschwitz.”

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