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      Familiares criticam Comissão da Verdade

      Carta assinada por entidades dos direitos humanos e familiares de mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar expõe "preocupação com a opacidade, falta de unidade e morosidade com que funciona" a Comissão Nacional da Verdade; texto pede mais audiências públicas e comprometimento com a busca da verdade, defende o retorno do ex-ministro Cláudio Fonteles, ex-presidente do colegiado, apoia a atual coordenadora, Rosa Cardoso, e pede a substituição do ministro Gilson Dipp, afastado por motivos de saúde

      Familiares criticam Comissão da Verdade
      Roberta Namour avatar
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      247 - Os familiares de perseguidos pela ditadura militar enviaram nesta segunda-feira uma carta aberta à Comissão Nacional da Verdade (CNV) cobrando mudanças na formação do colegiado e no funcionamento dos trabalhos, que consideram pouco transparente, moroso e acompanhado por "divergências".

      Entre os pedidos, está o retorno do ex-ministro Cláudio Fonteles, ex-presidente do grupo, e substituição de Gilson Dipp, que se afastou do colegiado por motivos de saúde, além da realização de mais audiências públicas com depoimentos de familiares das vítimas do regime militar. O texto também declara total apoio à atual coordenadora, Rosa Cardoso.

      “Houve momentos de entusiasmo de nossa parte, com os textos publicados por Cláudio Fonteles no site da CNV, comprometidos com a busca da verdade em torno dos mortos e desaparecidos políticos. Qual não foi nossa surpresa, quando vimos que essa postura era duramente questionada por outros integrantes da CNV!”, afirmam, em trecho da carta.

      “A partir de então, temos assistido as divergências internas se transformarem em ataques pessoais e públicos, numa triste demonstração de descompromisso com a verdade e a história, refletindo na falta de clareza do papel histórico da CNV”.

      A carta é assinada por 27 instituições que representam os 140 familiares de mortos e desaparecidos políticos e ex-prisioneiros políticos, entre eles Luiz Eurico Tejera Lisbôa e Clarice Herzog.

      Leia abaixo a íntegra do texto, ao qual o 247 teve acesso.

      Senhores Comissários,

      Nós, familiares de mortos e desaparecidos políticos, ex-prisioneiros políticos, entidades, movimentos de luta pela Verdade e Justiça, militantes dos direitos humanos e lutadores sociais, vimos externar nossa indignação com os graves acontecimentos que envolvem a Comissão Nacional da Verdade e nossa preocupação com a opacidade, falta de unidade e morosidade com que tem funcionado a CNV.

      Consideramos de extrema gravidade um eventual fracasso da Comissão Nacional da Verdade na consecução de seus objetivos principais. As conseqüências de tal fato serão funestas não só para as gerações presentes, mas para o futuro de nossa nação.
      Desde o inicio dos trabalhos da CNV, cobramos a apresentação de um plano mínimo de trabalho, com objetivos e metodologia definidos; enfatizamos a necessidade de priorizar a investigação sobre os mortos e desaparecidos políticos e sobre a estrutura de repressão.

      Expressamos a necessidade e importância de convocar os agentes do estado responsáveis pelos crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados.

      Da mesma forma, consideramos fundamentais as audiências públicas, amplamente divulgadas pelo sistema público de comunicação social, com os testemunhos das vitimas, familiares e sobreviventes.

      Houve momentos de entusiasmo de nossa parte, com os textos publicados por Cláudio Fonteles no site da CNV, comprometidos com a busca da verdade em torno dos mortos e desaparecidos políticos. Qual não foi nossa surpresa, quando vimos que essa postura era duramente questionada por outros integrantes da CNV!

      A partir de então, temos assistido as divergências internas se transformarem em ataques pessoais e públicos, numa triste demonstração de descompromisso com a verdade e a história, refletindo na falta de clareza do papel histórico da CNV.

      A divulgação do relatório parcial da CNV demonstrou desconhecimento das informações acumuladas, ao longo de mais de 40 anos, pelos envolvidos na luta pelo resgate da memória e da verdade histórica.

      A existência da CNV, fruto da luta dos familiares de mortos e desaparecidos políticos, ex-prisioneiros e militantes dos direitos humanos, significa mais do que uma necessidade, é um momento impar da história de nosso país, quando ainda é possível construir a verdade com a participação dos últimos sobreviventes - testemunhos oculares dos fatos.

      Neste momento em que tantas vozes se erguem pelo Brasil exigindo mais seriedade, respeito e presteza na consecução de políticas publicas, apelamos para a consciência cidadã de cada um dos membros dessa Comissão, para que coloquem os princípios dos direitos à Memória, Verdade e Justiça do nosso povo e, principalmente dos familiares dos mortos e desaparecidos, acima de quaisquer desentendimentos ou divergências, e propomos:

      1. A imediata recomposição dessa Comissão, com a volta de Cláudio Fonteles, a substituição de Gilson Dipp e a garantia de que todos os integrantes estejam voltados prioritária e realmente para os trabalhos da CNV, e que estejam ainda comprometidos não apenas com o Direito à Verdade, Memória e Justiça, mas também com a concepção de Comissão que trabalhe com e para a sociedade, entendendo que o processo é tão importante quanto o relatório final;

      2. Que a CNV intensifique as audiências públicas, devidamente organizadas, convocando agentes do Estado envolvidos nas graves violações aos direitos humanos, bem como as testemunhas - vítimas, familiares, sobreviventes;

      3. Que o foco das investigações da CNV seja o esclarecimento dos casos dos mortos e desaparecidos políticos, motivo esse que levou à criação e constituição da CNV;

      4. Que a CNV se transforme num coletivo, forte o suficiente para garantir a abertura total dos arquivos dos órgãos de repressão e informação da ditadura, tanto a nível federal como estadual.

      Por fim, entendemos que o resgate da verdade não se restringe à elaboração de um relatório final pela Comissão Nacional da Verdade, mas sim, é o produto de trabalho coletivo que depende de interação com as diversas formas de organização e expressão da sociedade civil. Por isso, os signatários desta carta apresentam propostas e se solidarizam com o Dr. Claudio Fonteles, que, no seu período à frente da Comissão Nacional da Verdade, sinalizou o caminho a ser trilhado. Manifestamos também nossa total solidariedade à atual coordenadora Rosa Cardoso, que se identifica com nossas propostas e tem buscado o diálogo e a participação da sociedade.

      "A única luta que se perde é a que se abandona."

      São Paulo, 15 de julho de 2013.

      In memoriam aos familiares

      Agrícola Maranhão do Vale
      Alice Pereira Fortes
      Alzira Grabois
      Anita Lima Piahuy Dourado
      Ariston Lucena
      Arnaldo Xavier Cardoso Rocha
      Benigno Girão Barroso
      Berel Reicher
      Blima Reicher
      Carlos Alberto De Ré
      Clélia Tejera Lisbôa
      Consueto Ferreira Callado
      Cristovam Sanches Massa
      Cyrene Moroni Barroso
      Davi Capistrano Filho
      Dilma Alves
      Edgar Corrêa
      Edmundo Dias de Oliveira
      Edwin Costa
      Elza Joana dos Santos
      Ermelinda Mazzafero Bronca
      Eunice Santos Delgado
      Euthália Rezende de Souza Nazareth
      Fanny Akselrud de Seixas
      Felícia Mardini de Oliveira
      Guilhermina Bezerra da Rocha
      Helena Pereira dos Santos
      Ilma Linck Haas
      Iracema Merlino
      Irene Guedes Corrêa
      Izabel Gomes da Silva
      James Wright
      João Baptista Xavier Pereira
      João Luiz de Moraes
      Julieta Petit da Silva
      Lais Maria Botelho Massa
      Luiza Monteiro
      Lulita Silveira e Silva
      Majer Kucinski
      Manoel Porfírio de Souza
      Márcia Santa Cruz
      Márcio Araújo
      Maria de Lourdes Oliveira
      Maria Helena Carvalho Molina
      Maria Madalena Cunha
      Maria Mendes Freire
      Odete Afonso Costa
      Paulina da Silva
      Rosalvo Cypriano Souza
      Walter Pinto Ribas
      Zuleika Angel Jones

      Adilson Oliveira Lucena
      Alberto Henrique Becker
      Alessandra Gasparotto
      Alípio Freire
      Aluizio Palmar
      Ana Maria Muller
      Ângela Mendes de Almeida
      Ângela Telma Oliveira Lucena
      Antônio Pinheiro Salles
      Aton Fon Filho
      Beatriz Cintra Labaki
      Bernardo Kucinski
      Carlos Alberto Lobão Cunha
      Carlos Gilberto Pereira
      Carlos Lichtsztejn
      Caroline Silva Bauer
      Celso Carvalho Molina
      César Augusto Teles
      Cesar Cavalcanti
      Clarice Herzog
      Claudio Antonio Weyne Gutierrez
      Claudio Carvalho Molina
      Clélia de Mello
      Clóvis Petit de Oliveira
      Criméia Alice Schmidt de Almeida
      Damaris Oliveira Lucena
      Darcy Miyaki
      Denise Oliveira Lucena
      Derlei Catarina De Luca
      Dulce Maia de Souza
      Edson Luis de Almeida Teles
      Edgardo Binstock
      Edival Nunes Cajá
      Eliete Ferrer
      Elio Cabral
      Elma Dutra
      Elza Ferreira Lobo
      Elzira Vilela
      Enzo Luiz Nico Jr.
      Francisco Celso Calmon
      Gilberto Carvalho Molina
      Gilney Amorim Viana
      Helenalda Resende de Souza Nazareth
      Hugo Albuquerque
      Iara Xavier Pereira
      Ivan Seixas
      Janaína de Almeida Teles
      João Carlos Bona Garcia
      João Carlos Schmidt de Almeida Grabois
      Laura Petit da Silva
      Laurenice Noleto Alves
      Lilian Celiberti
      Lilian Ruggia
      Lorena Moroni Girão Barroso
      Marcelo Santa Cruz
      Maria Amélia de Almeida Teles
      Maria Cristina Vannucchi Leme
      Maria Eliana de Castro Pinheiro
      Maria Lygia Quartim de Moraes
      Maria Madalena Prata Soares
      Maria Regina Jacob Pilla
      Maria Socorro de Castro
      Marilda Toledo de Oliveira
      Marta Nehring
      Maurice Politi
      Miriam Marreiro Malina
      Nei Tejera Lisboa
      Nilce Azevedo Cardoso
      Noeli Tejera Lisboa
      Orlando Bomfim Netto
      Pedro Laurentino
      Pedro Pomar
      Pedro Rocha Filho
      Pedro Serrano
      Rafael Freire
      Renan Honório Quinalha
      Romildo Maranhão do Valle
      Sérgio Ferreira
      Suzana Keniger Lisbôa
      Tatiana Merlino
      Terezinha Souza Amorim
      Thais Barreto
      Togo Meirelles
      Valter Pomar
      Vera Cortês
      Vivian Mendes
      Walderes Nunes Loureiro
      Yuri de Carvalho
      Zilda de Paula Xavier Pereira

      -As. dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil
      -Casa Latino Americana - CASLA de Curitiba
      -Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguacu
      -Centro Cultural Manoel Lisboa
      -Coletivo Catarinense Memória Verdade e Justiça
      -Comissão da Verdade Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás
      -Centro de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte
      -Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos
      -Comitê Carlos De Ré da Verdade e da Justiça
      -Comitê Catarinense Pró-Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos
      -Comitê Goiano da Verdade, Memória e Justiça
      -Comitê pela Verdade Memória e Justiça do DF
      -Comitê pela Verdade Memória e Justiça – BA
      -Comitê Memória Verdade e Justiça Campinas
      -Comitê Memória Verdade e Justiça Ceará
      -Comitê Memória Verdade e Justiça de Pelotas e região
      -Comitê Memória Verdade e Justiça - Espírito Santo
      -Comitê Direito Memória Verdade – Imperatriz/Ma
      -Comitê Direito Memória Verdade – Paraíba
      -Comitê Memória Verdade e Justiça – Pernambuco
      -Comitê Memória Verdade e Justiça – Terezina/PI
      -Comitê Paulista pela Memória Verdade e Justiça
      -Fórum de Reparação e Memória do Rio de Janeiro
      -Instituto de Estudos Políticos Mário Alves - Pelotas - RS
      -Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
      -Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

       

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