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    Geneticista gaúcha “exorciza” Mengele

    Alta incidncia de gmeos em Cndido Godi (RS) fruto de gene que migrou da Alemanha, e no de experincias do mdico nazista

    Durante muitos anos, o município gaúcho de Cândido Godói, próximo à fronteira com a Argentina, conviveu com uma suspeita terrível. A elevada fertilidade das mães locais, que com frequência davam gêmeos à luz, seria fruto de experiências realizadas pelo médico e criminoso de guerra Josef Mengele. A lenda ganhou corpo em 1979, com o lançamento de “The boys from Brazil” (“Os meninos do Brasil”), filme de Franklin J. Schaffner, baseado no livro homônimo de Ira Levin, em que em que o carrasco nazista, interpretado por Gregory Peck, semeava uma série de clones de Adolf Hitler para dominar o mundo.

    Os experimentos de Mengele, de acordo com esse mito que ganhou o mundo, teriam se concentrado na Vila de São Pedro, uma área de Cândido Godói que concentra apenas 350 moradores. Lá, de 1959 a 2008, dos 436 partos realizados, 33 foram de gêmeos, ou seja, 7,5%. E mais: de 1990 a 1994, a média das “dobradinhas” subiu para 10%. O responsável? Um gene mutante que alguns ancestrais dos moradores da região, todos descendentes de alemães, trouxeram da Europa e acabaram disseminando em São Pedro, onde os casamentos, em sua maioria, envolvem membros da comunidade.

    A conclusão é de um grupo de cientistas gaúchos, comandado pela geneticista Ursula Matte, que se debruçou sobre a “maldição” de São Pedro. “Analisamos seis genes e encontramos um que confirma, nesta população, a predisposição para gêmeos”, explica Ursula. “Isso não significa, contudo, que esse gene seja universal. Se formos analisar gêmeos da Nova Zelândia, é provável que encontremos um resultado diferente.”

    Josef Mengele morreu aos 68 anos incompletos, em Bertioga (SP), justo na temporada de lançamento de “The boys from Brazil”. Filmada por Schaffner a trama de Levin supervaloriza a figura do “Anjo da Morte”. Chefe da principal enfermaria do campo de Birkenau, no complexo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, ele foi um médico absolutamente medíocre. Só ganhou notoriedade ao realizar “experiências” como injetar substâncias tóxicas, amputar membros e mergulhar prisioneiros em tanques com água gelada. “Logo no início do nosso projeto de pesquisa, descartamos qualquer envolvimento de Mengele no fenômeno pesquisado”, assinala Ursula Matte.

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